Puxado pelos combustíveis, o ramo de transporte registrou a maior variação e o maior impacto no índice geral do mês / Tomaz Silva/Agência Brasil
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O preço da gasolina foi um dos fatores que mais pesou no cálculo da inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) neste mês. Marcando um novo recorde para agosto, o índice atingiu 0,87%, resultado que não era visto desde 2000.
O resultado ocorreu após avanço ainda mais forte em julho, de 0,96%, informou nesta quinta-feira (9) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Mesmo com a desaceleração, a taxa de agosto ficou acima das expectativas do mercado. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam variação de 0,71% no mês passado.
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Conforme o IBGE, o IPCA encostou em dois dígitos no acumulado de 12 meses, alcançando a marca de 9,68%. Assim, ampliou a distância frente ao teto da meta de inflação perseguida pelo BC (Banco Central). No acumulado até julho, a variação estava em 8,99%.
O teto da meta de inflação em 2021 é de 5,25%. O centro é de 3,75%.
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Oito dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados subiram em agosto, com destaque para o segmento de transportes. Puxado pelos combustíveis, esse ramo registrou a maior variação (1,46%) e o maior impacto (0,31 ponto percentual) no índice geral do mês.
Dentro de transportes, a gasolina subiu 2,80%. O combustível, aliás, teve o principal impacto individual (0,17 p.p.) no IPCA de agosto.
"O preço da gasolina é influenciado pelos reajustes aplicados nas refinarias de acordo com a política de preços da Petrobras. O dólar, os preços no mercado internacional e o encarecimento dos biocombustíveis são fatores que influenciam os custos, o que acaba sendo repassado ao consumidor final", disse André Filipe Guedes Almeida, analista da pesquisa do IBGE.
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A segunda maior contribuição (0,29 p.p.) entre os grupos veio de alimentação e bebidas (1,39%), que acelerou em relação ao mês anterior (0,60%). Conforme Almeida, o avanço nos preços de alimentos pode ser associado, em parte, ao dólar elevado e a fenômenos climáticos adversos, incluindo as geadas de julho. Na ocasião, o frio intenso danificou plantações diversas, de milho e café a hortaliças.
O grupo habitação, por sua vez, teve variação de 0,68% e impacto de 0,11 p.p em agosto. O resultado ficou abaixo do registrado em julho (3,10%). A variação do grupo ainda foi influenciada pela alta da energia elétrica (1,10%), mesmo com a desaceleração do item em relação ao mês anterior (7,88%).
No acumulado, a inflação está acima de 10% em 8 das 16 capitais ou regiões metropolitanas pesquisadas. A maior taxa em 12 meses, de 12,08%, foi registrada em Curitiba (PR). Em seguida, aparecem Rio Branco (AC), com 11,97%, e Campo Grande (MS), com 11,26%.
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A escalada do IPCA ganhou corpo ao longo da pandemia. Em um primeiro momento, houve disparada de preços de alimentos e, em seguida, avanço de combustíveis. Alta do dólar, estoques menores e avanço das commodities ajudam a explicar o comportamento dos preços.
Não bastasse essa combinação, a crise hídrica também passou a ameaçar o controle da inflação neste ano. É que a escassez de chuva força o acionamento de usinas térmicas, o que eleva os custos de geração de energia elétrica. O reflexo é a luz mais cara nos lares brasileiros.
Em uma tentativa de frear a inflação, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) passou a subir a taxa básica de juros (Selic). Em agosto, o colegiado confirmou alta de 1 ponto percentual na Selic, para 5,25% ao ano.
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Os preços em patamar alto, em um ambiente de juros maiores, desemprego acentuado e renda fragilizada, jogam contra o consumo das famílias e os investimentos das empresas.
O mercado financeiro vem subindo suas projeções para a inflação. A estimativa mais recente é de IPCA de 7,58% ao final de 2021. A previsão aparece no boletim Focus publicado pelo BC na segunda-feira (6).
Para parte dos analistas, o país corre o risco de embarcar em um período de estagflação nos próximos meses. O fenômeno é caracterizado por combinar fraqueza econômica e preços em alta.
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"A conjunção de crise hídrica com elevação forte dos juros causa sensação de estagflação iminente", apontou recente relatório da consultoria MB Associados.
Analistas também demonstram preocupação com a crise política. A turbulência protagonizada pelo governo Jair Bolsonaro (sem partido) pressiona o dólar para cima, o que impacta preços de itens como combustíveis.
Em agosto, a inflação já indicou maior disseminação entre os produtos e serviços pesquisados pelo IBGE. Sinal disso é que o índice de difusão do IPCA pulou de 64% para 72%. Foi o primeiro mês de 2021 com o indicador acima de 70%. Em dezembro do ano passado, o índice de difusão também estava em 72%.
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Em relatório, o Banco Original afirmou nesta quinta que o IPCA de agosto "reforçou a mensagem de extensão das pressões inflacionárias". Com isso, a instituição revisou suas projeções para o indicador, sublinhando que o quadro também aumenta a pressão sobre o BC.
"Para 2021, com a expectativa de que as questões climáticas continuem pesando sobre os bens não duráveis, de que a falta de insumos e o câmbio depreciado continuem pressionando bens industriais e de continuidade da recomposição de margens do setor de serviços, revisamos a projeção de 7,85% para 8,5%. Para 2022, refletindo a piora dos itens mais inerciais da cesta de consumo, revisamos a projeção de 3,8% para 4,1%", comentou o banco.
"A deterioração das expectativas para o horizonte relevante de política monetária aumenta a probabilidade de que o Banco Central tenha que ser ainda mais duro em suas próximas decisões e comunicações. Em nosso cenário oficial, projetamos Selic a 8,00% ao final desse e do próximo ano, mas destacamos que as pressões inflacionárias adicionais trazem viés de alta para as nossas projeções", acrescentou.
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