Economia

Em crise, estatais reveem investimentos

Segundo dados da ONG Contas Abertas, o volume de investimentos feitos pelas estatais de janeiro a abril deste ano, em relação ao orçamento, é o pior desde 2005

Publicado em 11/07/2015 às 12:10

Compartilhe:

A conjunção de problemas que atingiu as estatais brasileiras nos últimos anos derrubou a capacidade de investimentos das empresas paralisou obras e colocou em xeque até a sobrevivência de algumas delas. Além do ajuste fiscal, que afeta a rotina daquelas que dependem de repasses do governo, cada uma tem um problema específico para lidar, como a Operação Lava Jato na Petrobras, os efeitos da MP 579 na Eletrobras e a perda de receitas da Infraero por causa das concessões de aeroportos.

Apesar das peculiaridades, o resultado na vida financeira das empresas é igual. Segundo dados da ONG Contas Abertas, o volume de investimentos feitos pelas estatais de janeiro a abril deste ano, em relação ao orçamento, é o pior desde 2005. Neste ano, as empresas conseguiram investir apenas 17,4% do orçamento. No ano passado, nesse mesmo período, esse número foi de 27,6%.

O problema é que as decisões estão demorando demais para sair do papel por causa das incertezas e da crise de confiança que afeta o País. Além disso, quem depende do governo sofre com os atrasos nos repasses.

Na Petrobras, que vive a pior crise da história, o valor aplicado até o segundo bimestre foi o menor em 12 anos; na Eletrobras, trata-se do pior valor na série pesquisada desde 2000. A estatal de energia afirma, no entanto, que tem batido recordes de investimento com os projetos tocados pelas Sociedades de Propósito Específico (SPEs), em parceria com a iniciativa privada. Uma parte pequena desses recursos sai do orçamento público. A maioria é financiamento.

O caso mais grave é o da Petrobras, já que a empresa tem forte participação no volume total de investimentos do País e, consequentemente, no Produto Interno Bruto (PIB). Desde que a Operação Lava Jato foi deflagrada, a estatal tem reduzido o ritmo de obras, revisado o tamanho de alguns projetos e cancelado outros. O último plano de negócios, anunciado no fim do mês passado, reduziu em 37% o volume de investimentos da estatal no período de 2015 a 2019.

Entre os projetos que foram revistos está o Comperj, no Rio de Janeiro. No anúncio do plano, o presidente da estatal, Aldemir Bendine, afirmou que os investimento serão focados na parte de refinaria do projeto. O polo petroquímico está suspenso temporariamente, assim como as unidades de fertilizantes 3 e 5 em Minas Gerais e Mato Grosso do Sul e as Refinarias Premium 1 e 2, no Nordeste. Além disso, a empresa deve dar início a um processo de venda de alguns ativos para fazer caixa.

"A Lava Jato ainda vai demorar. Não vejo boas perspectivas para a empresa voltar a investir de forma substancial nem no primeiro semestre de 2016. Pelo contrário, acredito no desinvestimento", afirma o professor do Insper, Paulo Furquim. De janeiro de 2014 até agora, a estatal perdeu quase R$ 40 bilhões em valor de mercado por causa do escândalo de corrupção, segundo dados da empresa de informações financeiras Economática. "A crise na Petrobras tem um efeito cascata em toda a economia, pois afeta a capacidade de seus fornecedores", diz o professor.

Segundo ele, as estatais vivem histórias semelhantes causadas por problemas diferentes. O revés da Eletrobras, por exemplo, começou com a MP 579, que antecipou a renovação das concessões, e reduziu drasticamente o preço da energia gerada pelas usinas antigas. "A MP saqueou a empresa. As usinas foram renovadas por quase nada", afirma o investidor, Roberto Moura, acionista minoritário da companhia há 30 anos.

De 2012 até o ano passado, a empresa acumulou prejuízos de R$ 16 1 bilhões e perdeu o grau de investimento. "Apesar da melhora financeira nos resultados de 2015, a estatal continua apresentando métricas de crédito que são muito fracas para a categoria de rating Baa3", justificou a agência de classificação de risco Moody's ao revisar a nota da empresa.

Além disso, segundo a agência, a partir de 2016, a Eletrobras não poderá mais contar com os recursos de indenização (pela renovação das concessões das usinas), "o que provavelmente colocará pressão adicional na liquidez e na alavancagem da empresa". Pelo balanço da estatal, as empresas do grupo têm R$ 3 4 bilhões de indenização a receber.

Hoje, o valor de mercado da empresa representa um terço do registrado antes da MP 579, segundo a Economática: caiu de R$ 26 bilhões para R$ 8,8 bilhões na Bolsa. A lenta recuperação, aliada à crise econômica do País, deverá obrigar a empresa a rever seu plano de investimentos, previsto para sair nas próximas semanas.

Os problemas, no entanto, não se limitam ao setor energético. A estatal Infraero, que administra alguns dos principais aeroportos brasileiros, também tem tido limitações para investir. No primeiro bimestre deste ano, apenas 14% do orçamento havia sido aplicado.

A empresa explica que o resultado é decorrente de dois fatores. Um deles foi que, em 2014, o ritmo de algumas obras teve de ser acelerado no primeiro semestre por causa da Copa do Mundo, o que elevou os valores da execução orçamentária. Neste ano, o problema foi o ajuste fiscal que obrigou a Infraero a rever "o ritmo de execuções dos empreendimentos às novas diretrizes estabelecidas".

Em nota, a estatal afirma que, com as concessões dos principais aeroportos do País, ela teve de rever o plano de negócios. "Os cinco aeroportos (Guarulhos, Brasília, Viracopos, Galeão e Confins) respondiam por 53% do faturamento da Infraero, o que gerava resultado superavitário para sustentar a operação dos demais aeroportos da rede, que atualmente conta com 60 aeroportos. A partir de 2013, todos os investimentos feitos pela empresa são executados com recursos do Fundo Nacional de Aviação Civil (Fnac)."

VEJA TAMBÉM

ÚLTIMAS

Cotidiano

Travessia de balsas no Litoral de SP é paralisada por conta dos fortes ventos

Cidades da região estão enfrentando problemas por conta do tempo no começo da noite desta sexta

Cotidiano

Confira os números sorteados na Lotofácil no concurso 3200, nesta sexta (20)

O prêmio é de R$ 5.000.000,00

©2024 Diário do Litoral. Todos os Direitos Reservados.

Software

Newsletter