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É consenso entre os economistas especializados em inflação que a decisão tomada na semana passada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) de voltar a elevar a taxa básica de juros está relacionada principalmente com a desvalorização do real em relação ao dólar ocorrida nos últimos dois meses.
Esse foi o elemento novo, que levou o BC a surpreender o mercado num ambiente de inflação já muito pressionado pela alta dos preços dos serviços, dos alimentos e pela necessidade de reajuste das tarifas, que deve ocorrer neste ano e no próximo. Desde abril, os juros básicos estavam estacionados em 11% ao ano e, na quarta-feira, subiram para 11,25%.
"Aumentou o risco de a inflação estourar o teto da meta este ano e também em 2015 por causa da depreciação do câmbio", diz o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges. "Isso justifica a decisão inesperada do BC de elevar os juros", diz. Ele pondera também que parte da decisão se deve à intenção do BC de recuperar sua credibilidade. "Não foi uma decisão só técnica, mas também por questões de reputação."
De toda forma, Borges constatou com números o maior risco de a inflação estourar o teto da meta observado pelo Copom em sua última reunião.
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Levando em conta as recentes projeções do mercado captadas pelo Boletim Focus do BC, que apontavam um câmbio encerrando este ano em R$ 2,40 e o ano que vem em R$ 2,50, e comparando esses registros com as estimativas para o câmbio na época da reunião anterior do Copom, no dia 3 de setembro, que eram de um câmbio terminando este ano em R$ 2,35 e o ano que vem em R$ 2,47, o economista calculou os impactos da desvalorização do real em relação ao dólar no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a medida oficial de inflação.
Commodities
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O resultado obtido foi uma alta de 0,15 ponto porcentual na inflação deste ano e de 0,20 ponto no índice do ano que vem por causa do câmbio. "Apesar disso, não mudamos a projeção de um IPCA de 6,4% para 2014 e de 6,3% para 2015", afirma Borges.
Ele explica que, mesmo com a pressão do câmbio para elevação dos preços, especialmente dos itens importados, existe uma força agindo em sentido contrário: a queda das cotações das commodities no mercado internacional.
"Há uma mudança para pior no câmbio e para melhor nos preços das commodities", ressalta. O exemplo mais nítido do movimento é o preço do barril de petróleo no mercado internacional que caiu de US$ 110 para US$ 90, enfatiza.
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Também para o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, a queda nos preços das commodities pode contrabalançar os efeitos da alta do dólar na inflação. Ele acrescenta que há muita incerteza em relação ao novo patamar do câmbio. Na sua avaliação, isso pode adiar o repasse da depreciação para os preços ao consumidor.
Além disso, Lima diz que o ritmo fraco de atividade pode limitar o repasse do câmbio, já que vários setores enfrentam hoje problemas de queda de demanda por seus produtos.