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Após oscilarem ao sabor das expectativas eleitorais nos últimos meses, as ações da Petrobras são, agora, um dos principais ativos para o investidor evitar na bolsa brasileira, na avaliação de analistas de mercado, ao lado das demais estatais, de bancos e do papel da própria Bolsa de Valores. Em contrapartida, recomendações para comprar ações de empresas exportadoras são praticamente um consenso nas carteiras das corretoras, uma vez que os analistas trabalham com um cenário de desvalorização do real.
No primeiro dia útil após a vitória de Dilma, o receio do mercado em relação às ações da Petrobras ficou evidente, com analistas retirando os ativos de suas carteiras recomendadas ou colocando a recomendação em revisão. Os negócios envolvendo as ações da Petrobras ao longo deste ano foram pautados principalmente pelo cenário político. Os analistas lembram que o papel preferencial chegou a uma máxima de R$ 24,90 no dia 02 de setembro, sem fundamentos para tal. Mas agora são os fundamentos que vão prevalecer e o cenário traçado para a estatal é difícil, devido ao dólar em alta e o preço do petróleo no mercado internacional em queda.
O JPMorgan retirou as ações preferenciais da Petrobras de sua carteira, dado o risco político do papel, principalmente enquanto não houver definição sobre o novo time econômico da administração Dilma Rousseff, e outras casas estão adotando postura semelhante. Outras estatais, como Banco do Brasil e Eletrobras, despertam a mesma desconfiança.
Para o JPMorgan, o gabinete a ser anunciado é fundamental para restabelecer uma conexão com o mercado, mas no meio tempo, a incerteza e a insegurança podem levar a congelamento de investimentos e redução no preço de ativos no curto prazo. O BTG Pactual declarou sua falta de apetite ao ativo. "Nós evitamos companhias estatais, especialmente a Petrobras", destacaram os analistas em relatório. Há quem preveja uma continuidade nas quedas dos papéis da estatal no curto prazo.
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Já o UBS decidiu colocar em revisão a recomendação de compra para o papel ordinário, o preço-alvo de R$ 20. "Enquanto não esperamos mudanças arrojadas na equipe de gestão após as eleições, a presidente Dilma Rousseff já indicou que vai mudar o Ministro da Fazenda - que também é presidente do conselho da Petrobras. Questionamos o que poderia mudar na estratégia da empresa para ampliar a rentabilidade e cortar o endividamento após as eleições", diz o relatório, assinado pela analista Lilyanna Yang.
A instituição destacou que o preço do petróleo em baixa impulsiona o fluxo de caixa da estatal no curto prazo, mas um real mais fraco reduz substancialmente os ganhos, devido ao porcentual de apenas 20% de receita dolarizada ante custos entre 50% e 100% dolarizados e dívida de US$ 70 bilhões denominada em dólar.
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Para ficar em linha com o compromisso da presidente da estatal, Graça Foster, de cortar o endividamento para 2,5 vezes o Ebitda (ante 4 vezes, atualmente) e 32% do capital total (versus mais de 40% no momento atual) em 2015, a Petrobras precisaria de um capex menor de refino e aumento de dois dígitos nos preços. "Perguntamos se essa última mudança ocorreria após as eleições, considerando o nível alto de inflação, o atual superávit primário e a balança comercial", cita o relatório. O cenário do UBS compreende o petróleo Brent a US$ 100/barril, câmbio a R$ 2,45, teto de inflação de 6,5% e reajuste no preço dos combustíveis na refinaria antes do fim do ano.
Segundo o analista da Alpes/WinTrade, Bruno Gonçalves, as ações da Petrobras podem se aproximar dos patamares mínimos do ano no curto prazo, caso o governo reeleito não sinalize mudanças na gestão da estatal. Gonçalves lembra que o declínio do preço do petróleo no mercado internacional coloca em xeque o plano de investimentos da empresa, enquanto o dólar em alta pesa negativamente, por conta da exposição da dívida à moeda americana.
Entre as principais preocupações dos analistas está a política de preços de combustíveis da Petrobras, que até o momento não prevê o repasse integral dos custos para o consumidor, com o intuito de conter a inflação. Na avaliação de Celson Placido, estrategista da XP Investimentos, mesmo que o governo não promova um reajuste no preço da gasolina, o ideal é que anuncie uma metodologia de preços mais clara para a estatal.
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Com o cenário incerto, os analistas do UBS dizem preferir as ações preferenciais às ordinárias, devido à prioridade no pagamento de dividendos.
Além das estatais, outro setor que pode sofrer com a reeleição de Dilma Rousseff (PT) é o financeiro. Segundo analistas, os bancos podem ser penalizados futuramente pela esperada deterioração do cenário macroeconômico, com elevação da inadimplência. No entanto, eles destacam que os fundamentos dos bancos privados Bradesco e Itaú Unibanco são mais favoráveis, enquanto o estatal Banco do Brasil inspira maior cautela.
Uma eventual falta de controle sobre a inadimplência, por sua vez, pode resultar em Selic mais alta, o que pode ser negativo para ações do setor de transportes, como a CCR, cuja dívida é majoritariamente atrelada ao CDI.
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