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O ano de 2014 demorou para começar e terminou logo, na opinião do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. "As medidas que temos tomado já são para 2015", justificou o presidente, instado por um pequeno grupo de jornalistas a falar sobre perspectivas para o ano que vem. A avaliação é de que este foi um período que deixará poucas memórias positivas. Na conversa recente, o presidente chegou a lembrar até do traumático placar de 7 a 1 amargado pelo Brasil no jogo contra a Alemanha durante a Copa do Mundo. A questão é que 2015 tampouco será um ano fácil.
O controle inflacionário talvez seja o exemplo mais palpável dessa dificuldade. Cravar a inflação no centro da meta de 4,5%, já admitiu o presidente do BC, só em 2016. O problema é que nos primeiros quatro anos de sua gestão, a inflação sempre fechou o ano bastante alta (5,91%, 6,50%, 5,84% e 5,91%) e fica complicado tentar convencer o mercado de que a situação será diferente daqui para a frente.
É verdade que o BC agora conta com a promessa de que a política fiscal será mais restritiva, o que tende a ajudar nas ações de política monetária, mas os diretores da instituição terão de fazer ajustes finos nos juros mês a mês se não quiserem perder a mão.
Tombini tenta escolher expressões positivas sempre que é questionado sobre o que esperar dos próximos meses. Afirmou que o Brasil tem se preparado e que, em 2015, navegará com certa tranquilidade. Renovado à frente da autarquia no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, ele sabe que as marés do próximo ano não serão tão mansas assim.
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Chegou a alertar que a inflação em 2015 no acumulado de 12 meses tende a ser mais elevada do que a atual - que beira o teto da meta de 6,5% e chegou a ultrapassá-lo em alguns meses deste ano. "Não deveria ser tomado como surpresa", salientou.
De um lado, a inflação pesa. De outro, a economia não deslancha. Por isso, qualquer derrapada mais à esquerda ou à direita em 2015 pode ser fatal. O ano que vem, já se sabe, será de reajustes de tarifas que ficaram represadas ao longo deste ano. O dólar em ascensão desde o início das eleições piora o quadro para a alta dos preços.
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A elevação da moeda americana fez o BC se render em relação à continuidade dos leilões de swap cambial. Antes mesmo do fim do ano, depois de jogar pistas contraditórias para estudar a reação do mercado, a decisão de Tombini foi a de continuar com a oferta extra de ração diária em 2015. O programa, iniciado em agosto do ano passado, poderia se encerrado em dezembro de 2014 se assim o presidente e sua equipe entendessem conveniente. Os parâmetros para 2015, no entanto, apenas serão conhecidos nos próximos dias
O fato é que o BC se tornou refém de sua "bondade com o mercado" Para alguns críticos do programa - ou da sua extensão - os agentes estão adictos, viciados nesse dinheiro certo todos os dias. Será difícil o BC se desvencilhar de sua própria "armadilha" no ano que vem. Atualmente, são o equivalente a US$ 100 bilhões em operações de swap cambial.
Não bastassem os melindres econômicos internos, ainda é preciso colocar na dura conta de 2015 a instabilidade do contexto internacional. Tombini mesmo avalia que a situação já está melhor, mas as principais regiões do globo estão em estágios diferentes de recuperação. Pode-se esperar por alguns chacoalhões aqui e ali com, claro, interferências em território doméstico.
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A tradição, em épocas de fim de ano, é renovar as esperanças e contar com dias melhores no ano seguinte. Para 2015, no entanto, está difícil traçar um prognóstico mais positivo. Sabe-se que a inflação vai subir. Sabe-se que os juros terão de acompanhar essa alta e não se sabe para onde o dólar vai. A única certeza é que o Brasil não tomará outro 7 a 1 da Alemanha na Copa.