Sacos mortuários estariam atrapalhando a decomposição dos mortos pela covid-19 / Foto de Renato Danyi/Pexels
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Há pouco mais de três anos começava em todo o mundo a multiplicação da covid-19. Até o momento já são mais de 6 milhões de mortes - mas há quem defenda que estes números podem chegar a 15 milhões, levando em consideração países poucos desenvolvidos, que tinham dificuldade em contabilizar os óbitos, e outros que ocultaram a real situação de calamidade -. Passado este período, a exumação dos primeiros mortos pela covid-19 começou, e isso tem gerado preocupação nos cemitérios de todo o mundo.
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Um dos protocolos mais adotados pelos hospitais e funerárias durante o surto de covid-19 era o de enterrar as vítimas em sacos mortuários ou urnas lacradas. Todavia, todo o líquido que sai de um corpo humano em decomposição (chamado cientificamente de necrochorume) ficaria retido nestes sacos, o que mudaria toda a colonização das bactérias e demais microorganismos envolvidos nas etapas de dissolução dos cadáveres.
No Youtube é possível se deparar com vídeos nacionais e internacionais de coveiros e demais funcionários de cemitérios mostrando a exumação de mortos pela covid-19 e a abertura dos sacos mortuários. Em muitos deles os corpos ainda não estão totalmente decompostos, e teriam que voltar à sepultura para aguardar mais um período de meses.
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A decomposição
Cerca de 8 a 12 horas após a morte, o corpo inicia a primeira etapa da decomposição. É quando o sangue para de circular, coagula, o cadáver esfria e as células deixam de receber os nutrientes vitais e demais componentes.
Na segunda etapa começa a putrefação. As bactérias que estão no intestino do morto digerem as proteínas ali presentes, o que ocasiona centenas de milhares de gases. Aqui, o corpo incha, ganha coloração esverdeada e é tomado por forte odor. Essa etapa ocorre de 25 a 48 horas após o óbito.
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A terceira etapa é chamada de colonização. Aqui os insetos são atraídos pelo cheiro podre do corpo e passam a depositar ovos que, pouco depois, se tornam larvas. Elas passam a fazer do cadáver a sua morada e o tem como próprio alimento. Essa fase tende a começar entre 48 e 56 horas após a morte.
Na quarta fase do processo de decomposição essas mesmas larvas e demais microorganismos precisam migrar para outras regiões, já que a pele e couro do defunto foram devorados. E aqui passam diversas semanas - até meses - até que o estágio final do processo ocorra, que é a esqueletização.
A maneira como os mortos pela covid-19 eram enterrados afetaria a passagem da segunda para a terceira etapas da decomposição. Com o corpo embalado em sacos de alta resistência ou receptáculos, os líquidos não sairiam e abririam passagem para a fase três, já que os insetos e outros microorganismos externos não teriam acesso aos despojos humanos. E isso afeteria diretamente as etapas quatro e cinco, cruciais para uma deterioração normal.
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Além disso o especialista em direito, jornalista, teólogo e escritor Michael Wender de Paula Souza publicou um artigo, chamado "Reflexões sobre o processo de exumação dos cadáveres suspeitos ou confirmados por covid-19", onde cita a preocupação com os protocolos de exumação dos mortos pela covid-19, já que não há diretrizes estabelecidas por órgãos competentes sobre o manejo destes cadáveres e o quão seguro seria desenterrá-los nos prazos legais de 3 anos após a morte.
A apreensão de Souza é diretamente com relação aos funcionários do cemitério ligados à exumações.
Segundo o autor, são necessários estudos e debates cautelosos sobre a segurança destes trabalhadores ao manusear corpos vítimas de covid-19, citando, inclusive, os riscos de contaminação ambiental.
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