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Não monogamia: Brasil é o 3° país que mais busca o termo no google; entenda o que é

No Brasil, as pesquisas pelo assunto quadruplicaram nos últimos dois anos, com um crescimento de 280%

Luna Almeida

Publicado em 20/12/2024 às 16:22

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A prevalência da monogamia na sociedade, e no mundo ocidental de modo geral, está vinculada a vários aspectos da herança cultural / Freepik

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A pergunta mais repetida sobre o termo, segundo o Google, é ‘O que é a não-monogamia?’. Realizado pelo Google Trends, o levantamento, baseado nos últimos 12 meses, indica que o Brasil é o terceiro país do mundo com mais interesse de busca por não-monogamia, ficando atrás apenas da Austrália e do Canadá.

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No Brasil, as pesquisas pelo assunto quadruplicaram nos últimos dois anos, com um crescimento de 280%, sendo que as principais perguntas sobre o tema, de acordo com os últimos 12 meses, são:

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1. O que é não-monogamia?

2. Como saber se sou não-monogamia?

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3. O que é pansexual não-monogâmica?

4. O que é monogamia e não-monogamia?

5. Como aceitar um relacionamento não-monogâmico?

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Juliana Braz Dias, professora do Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília (UnB), define a monogamia, relacionamento que envolve exclusivamente duas pessoas, como apenas uma forma de arranjo conjugal.

De acordo com a professora, a prevalência da monogamia na sociedade, e no mundo ocidental de modo geral, está vinculada a vários aspectos da herança cultural, reproduzidos ao longo de séculos, como os valores propagados pelo cristianismo, a noção de amor romântico e a forma de regulamentar a transmissão de bens.

Enquanto isso, o antropólogo Antônio Pilão, que coordena o grupo de Pesquisa Políticas, Afetos e Sexualidades Não-Monogâmicas da Universidade de São Paulo (USP), explica que a monogamia é a forma de se pensar a organização familiar e econômica de um casal.

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Segundo Antônio, a monogamia é um tipo de relação pautado na ideia de que tanto em termos sexuais e familiares, instituição, organização, transmissão de propriedade privada, tudo é conectado a duas pessoas.

Descentralização dos afetos

A não-monogamia pode ser entendida como uma forma de questionar a monogamia enquanto modelo predominante de organização social, além de ser vista como um mecanismo de controle da sexualidade e dos vínculos afetivos. 

Esse conceito desafia normas culturais estabelecidas e abre espaço para novas formas de relacionamento.

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O termo engloba diferentes práticas e estruturas relacionais baseadas no consenso mútuo entre os envolvidos. 

Entre essas práticas estão o amor livre, os relacionamentos abertos, o poliamor, a poligamia e o swing, cada um com suas particularidades e dinâmicas próprias.

Dessa forma, a não-monogamia se apresenta como uma alternativa para aqueles que buscam relações que rompem com a ideia de exclusividade, seja no âmbito afetivo, sexual ou ambos, permitindo maior liberdade e autonomia nas interações interpessoais.

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Acordos nas relações 

A necessidade da comunicação e da criação de acordos é um ponto muito importante ao entrar em uma relação não-monogâmica.

De acordo com o antropólogo, as fronteiras não ficam muito nítidas sobre o que é considerado problemático e o que não é para cada um dos envolvidos.

Antônio afirma que a questão da comunicação dos acordos parece ser fundamental, principalmente porque quando uma pessoa rompe a relação monogâmica e entra em uma relação não-monogâmica, ela não tem um guia muito claro sobre como construir a relação.

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Riscos

Jaroslava Varella Valentova, professora antropóloga, destaca que a não-monogamia, assim como a monogamia, não é para todos.

Para a professora, algumas pessoas (e casais) preferem e estão satisfeitas em relacionamentos com um parceiro só, enquanto outras preferem se relacionar com mais indivíduos. Isso precisa ser analisado e bem pensado.

Cada um junto com o parceiro deveria analisar detalhadamente que tipo de personalidade, quais as necessidades e qual o nível de autocontrole, para poder assumir papel de parceria de um dos inúmeros tipos de relacionamento.

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Já para Juliana Braz Dias, não é possível afirmar que o ser humano é naturalmente monogâmico ou o contrário.

Segundo ela, o que faz parte da natureza humana é o desejo de estabelecer relações afetivas e/ou sexuais, mas é o contexto sociocultural que influencia nas escolhas, e às vezes determina, se e quando essas relações serão estabelecidas e sob que formato.

Legislação

Os relacionamentos não-monogâmicos estão envoltos também na questão política e jurídica no Brasil. 

De acordo com Antônio Pilão, os debates sobre o poliamor começaram no início dos anos 2000 no país, e ainda são recentes.

O professor afirma que o Estado brasileiro tem como preocupação garantir a monogamia como única forma de construção do casamento.

Previsto no artigo 235 do Código Penal, com penas que variam de um a seis anos para os envolvidos, a bigamia, casamento com mais de uma pessoa, é crime no Brasil.

Porém, em 2012, houve o reconhecimento do primeiro relacionamento poliafetivo na cidade de Tupã, no interior de São Paulo.

Em 2018, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) proibiu que cartórios no país registrem uniões poliafetivas, o que tornou inválida juridicamente a oficialização realizada em Tupã.

O Supremo Tribunal Federal (STF), além da decisão do CNJ, também rejeitou o reconhecimento de duas uniões estáveis simultâneas. 

Para o professor Antônio Pilão, a decisão ocorrida em 2020 com repercussão geral marca um cenário complicado para relações não-monogâmicas.

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