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Avanço do mar: Entenda o que é a erosão costeira que vem 'varrendo' praias do litoral de SP

O Diário conversou com Edison Barbieri, professor, oceanógrafo e doutor em oceanografia pela USP para entender como funciona o processo erosivo

Márcio Ribeiro, de Peruíbe para o Diário

Publicado em 28/08/2024 às 19:04

Atualizado em 28/08/2024 às 19:24

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Recentemente, o município anunciou a utilização de sacos de areia para tentar frear o avanço do mar / Divulgação

A Vila de Barra do Una, localizada em Peruíbe, no litoral de São Paulo, vem sofrendo com o avanço do mar e esse assunto vem pautando as redações no último mês.

Como aquele bairro tem uma geografia especial, não só por ser unidade de conservação, mas sim por ter um rio que marca a Vila, o Diário conversou com Edison Barbieri, professor, oceanógrafo e doutor em oceanografia pela Universidade de São Paulo para entender como funciona o processo erosivo, inclusive em um local com influência de um rio.

Recentemente, o município anunciou a utilização de sacos de areia posicionados na área da orla da praia para tentar frear os estragos causados pela água.

Confira a entrevista e o por que da erosão costeira estar varrendo praias de São Paulo:

Diário: Por que as cidades estão sofrendo com o avanço do mar, erosão e como é essa dinâmica costeira?

Barbieri: A dinâmica costeira refere-se aos processos naturais de erosão, transporte e deposição de sedimentos ao longo das zonas costeiras, moldando a paisagem litorânea de maneira contínua. Esses processos são impulsionados principalmente pela ação das ondas, correntes e marés, que desempenham papéis cruciais na redistribuição dos sedimentos ao longo das praias e costas.

Diário: Por que uma determinada praia aparenta sentir mais o processo do que outras?

Barbieri: Em muitos casos, a energia das ondas atinge a costa de forma desigual, resultando em zonas onde ocorre a erosão ativa, enquanto outras áreas experimentam a deposição de sedimentos. A erosão costeira ocorre quando a energia das ondas é suficiente para remover sedimentos da costa, transportando-os para outras áreas. Essas zonas erodidas podem apresentar um recuo significativo da linha de costa, levando à perda de terras, infraestrutura e habitats naturais.

Diário: Então, o que acontece com as áreas que experimentam a deposição? Para onde vão os sedimentos removidos?

Barbieri: Os sedimentos erodidos são então transportados pela corrente litoral, que atua paralelamente à linha de costa, depositando esses materiais em áreas de menor energia, conhecidas como zonas de deposição. Essas áreas, muitas vezes, são caracterizadas pela formação de praias, bancos de areia ou ilhas-barreira, onde os sedimentos acumulam-se ao longo do tempo. Esse processo de deposição é fundamental para a manutenção de habitats costeiros e para a proteção das áreas interiores contra a ação direta das ondas.

Diário: Existe algo que pode desencadear esse processo?

Barbieri: A dinâmica costeira é um fenômeno dinâmico e pode variar significativamente ao longo do tempo, dependendo de fatores como mudanças no clima, variações no nível do mar e intervenções humanas, como construções de estruturas de defesa costeira ou dragagens. A compreensão desses processos é essencial para o planejamento e a gestão sustentável das zonas costeiras, buscando mitigar os impactos negativos da erosão e promover a conservação dos ecossistemas litorâneos.

Diário: Como é a dinâmica costeira em regiões onde a influência de um rio se combina com a ação do mar?

Barbieri: A dinâmica costeira em regiões onde a influência de um rio se combina com a ação do mar é um processo complexo e multifacetado, que desempenha um papel crucial na formação e modificação contínua da linha de costa. Nessas áreas, o rio atua como uma importante fonte de sedimentos, transportando materiais erodidos das bacias hidrográficas para a zona costeira, onde são depositados. Ao mesmo tempo, as forças marítimas, como as ondas e correntes, interagem com esses sedimentos, redistribuindo-os ao longo da costa.

Diário: O que são essas formações e modificações da linha da costa?

Barbieri: Em um cenário típico, o rio desemboca no oceano e forma uma planície deltaica ou estuarina, onde os sedimentos se acumulam, criando áreas de deposição. No entanto, a dinâmica costeira não é uniforme, e a ação do mar pode resultar em diferentes padrões de erosão e deposição ao longo da costa adjacente.

Diário: O que acontece, geralmente, nos locais onde a energia das ondas e correntes pode ser mais intensa

Barbieri: Nessa área, as ondas removem os sedimentos, causando o recuo da linha de costa e a exposição do substrato. Este processo erosivo pode ser exacerbado pela retirada contínua de sedimentos, sem reposição suficiente pela ação do rio, levando a uma perda gradual de terras e à necessidade de medidas de contenção para proteger infraestruturas e ecossistemas costeiros.

Diário: O que acontece, geralmente, nos locais onde a energia das ondas e correntes é mais fraca?

Barbieri: Por outro lado, no lado oposto da desembocadura do rio, onde a energia das ondas é menor ou onde as correntes litorâneas tendem a acumular sedimentos, ocorre a deposição. Nesta região, os sedimentos transportados pelo rio e redistribuídos pelas correntes marinhas são depositados, formando praias, bancos de areia e até mesmo ilhas-barreira. Essas áreas de deposição são essenciais para a criação de habitats costeiros, como dunas e zonas úmidas, que desempenham um papel vital na proteção da costa contra a erosão e na manutenção da biodiversidade.

Diário: Então há um equilíbrio? Pode falar mais a respeito?

Barbieri: Esse equilíbrio entre erosão e deposição é dinâmico e pode ser influenciado por uma série de fatores, incluindo variações sazonais no fluxo do rio, mudanças no nível do mar, tempestades costeiras e atividades humanas, como a construção de barragens ou estruturas de defesa costeira. A gestão sustentável dessa dinâmica costeira exige uma compreensão aprofundada dos processos envolvidos, bem como a implementação de estratégias que protejam tanto as áreas de erosão quanto as de deposição, garantindo a integridade ecológica e econômica das regiões litorâneas.

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