Cotidiano

Violência em atos em São Paulo ofusca movimentos pacíficos

O secretário de Segurança, Fernando Grella Vieira, propôs aumento de pena para crimes de danos e para quem agredir policiais

Pedro Henrique Fonseca

Publicado em 03/11/2013 às 18:42

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Na semana passada, dois casos de violência policial em São Paulo, bem parecidos, tiveram respostas e pressão sobre as autoridades bem diferentes. E reforçam o desafio de que as forças de segurança e a imprensa estão enfrentando para lidar com a "violência espetacular", que vem se consolidando como a forma mais eficiente de fazer reverberar os protestos que passariam em branco se ocorressem pacificamente.

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Passou pelos estudantes em junho, ganhou força com os atos black blocs a partir de julho e culminou em sequestros de cachorros e incêndios a ônibus. Na segunda-feira, 28 de outubro, assustaram a população e autoridades quando criminosos comuns usaram a tática para parar a Rodovia Fernão Dias e praticar assaltos.

O primeiro registro ocorreu no sábado, 26, perto das 15 horas, quando o cabeleireiro Severino Paulo de Oliveira, de 49 anos, foi atingido por um disparo enquanto colocava comida na gaiola do canário. Ele notou um corre-corre na viela em que morava, no Parque Regina, na zona sul da capital. Dois policiais perseguiam três meninos suspeitos de roubo. Na versão das testemunhas, os PMs dispararam duas vezes. Uma das balas atingiu o cabeleireiro, que chegou a ser levado ao hospital, mas morreu no caminho.

No dia seguinte, no extremo norte de São Paulo, no Parque Edu Chaves, o estudante Douglas Rodrigues, de 17 anos, morreu ao ser atingido por um disparo. O policial alegou que o tiro foi acidental. Nos dois casos, familiares se indignaram e foram para as ruas depois do enterro. Na ocorrência da zona sul, cerca de 40 pessoas pararam a Avenida Giovanni Gronchi e caminharam até a Avenida João Dias, com cartazes e fotografias do cabeleireiro.

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Policiais militares e Black Blocs em confronto em São Paulo (Foto: Márcio Fernandes/Estadão Conteúdo)

Na zona norte, a manifestação começou pacífica, mas acabou fugindo ao controle dos parentes. Pessoas se aproveitaram dos protestos para colocar fogo em ônibus e roubar motoristas e acabaram criando imagens espetaculares na televisão e nos jornais. A polícia agiu rápido e prendeu o policial, que confessou e foi indiciado por homicídio culposo.

O caso repercutiu nas redes sociais e a presidente Dilma Rousseff se solidarizou com os familiares da vítima. "Nessa hora de dor, presto minha solidariedade à família e aos amigos. Assim como Douglas, milhares de outros jovens negros da periferia são vítimas cotidianas da violência. A violência contra a periferia é a manifestação mais forte da desigualdade no Brasil", escreveu a presidente.

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Na zona sul, depois do protesto pacífico, os manifestantes voltaram para suas casas e passaram a temer os policiais envolvidos no caso. Apesar dos diversos testemunhos de moradores de que não houve tiroteio, os PMs alegaram que revidaram os tiros dos jovens e continuam soltos. Foi aberto um inquérito policial-militar, que aguarda o resultado das perícias para tomar uma decisão.

"Defendemos uma manifestação pacífica porque quebrar tudo não iria trazer o Paulo de volta. Mas fica a dúvida. Será que se a gente partisse para o quebra-quebra as respostas seriam diferentes?", indaga um parente do cabeleireiro, que pediu para não ser identificado, com medo de represálias.

"Muitos black blocs já me disseram que, para eles, a violência é a única forma de expressão pela qual, de fato, são ouvidos. É difícil contestar esse raciocínio. Se a imprensa só dá voz às formas de protesto violentas, se o governo reage com mais força diante do fator violência, como impedir que a violência se torne uma forma de protesto generalizada? A violência como forma de protesto não estaria sendo legitimada e reforçada por toda a sociedade que joga o jogo da espetacularização?", pergunta a professora Esther Solano, que pesquisa os black blocs, professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

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Pena

O promotor Marcelo Barone, que participa das investigações sobre os protestos ao lado das Polícias Militar e Civil, concorda que as forças de segurança estão tendo dificuldades para lidar com os protestos violentos. Aponta dificuldades para investigar pessoas mascaradas e para conseguir juntar provas que mostrem a associação entre os integrantes dos grupos envolvidos, o que permitiria enquadrá-los por associação criminosa.

Foi essa a linha seguida pelo secretário de Segurança, Fernando Grella Vieira, no encontro com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Ele propôs aumento de pena para crimes de danos e para quem agredir policiais.

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