Cotidiano

Violações de direitos humanos têm papel fundamental em ações do Estado Islâmico

O diretor da Human Rights Watch, Kenneth Roth, falou na apresentação do relatório anual da organização não governamental de defesa dos direitos humanos, com sede em Washington

Pedro Henrique Fonseca

Publicado em 29/01/2015 às 11:40

Compartilhe:

Compartilhe no WhatsApp Compartilhe no Facebook Compartilhe no Twitter Compartilhe por E-mail

Continua depois da publicidade

O diretor da Human Rights Watch, Kenneth Roth, considerou hoje (29) que as violações dos direitos humanos, incluindo as cometidas pelos Estados Unidos, alimentaram parcialmente a emergência do movimento jihadista Estado Islâmico no Iraque e a crise na Ucrânia. Kenneth Roth falou na apresentação do relatório anual da organização não governamental de defesa dos direitos humanos, com sede em Washington.

Faça parte do grupo do Diário no WhatsApp e Telegram.
Mantenha-se bem informado.

"As violações dos direitos humanos desempenharam um papel fundamental no desenvolvimento ou no agravamento da maioria das crises atuais", explicou.

Continua depois da publicidade

Leia Também

• EUA podem expandir empréstimos de garantia à Ucrânia para US$ 3 bilhões

• EUA: projeto quer autorizar envio de forças contra Estado Islâmico

• Israel violou regras de guerra em ataques à Gaza, diz grupo israelense

Num "mundo que se está desfazendo", muitos governos "parecem considerar que as atuais ameaças à segurança devem ter prioridade sobre os direitos humanos", afirmou.

Mas os direitos humanos tornaram-se "uma bússola essencial da ação política" e descartá-los não é apenas "uma má escolha, é também uma visão redutora e contraprodutiva", declarou.

Continua depois da publicidade

Do Iraque à Síria, do Egito à Nigéria, passando pela Ucrânia, nesses países marcados pela instabilidade, "proteger os direitos humanos e permitir aos habitantes terem uma palavra a dizer sobre a maneira como os seus governantes tratam as crises são uma chave para a sua resolução", disse o diretor da ONG.

A emergência dos jihadistas sunitas do Estado Islâmico foi alimentada pela invasão do Iraque pelos Estados Unidos em 2003, que criou um vazio de segurança e violações dos direitos humanos, na prisão de Abu Ghraib, em Bagdá, ou na prisão militar norte-americana de Guantánamo.

Washington e Londres também "fecharam os olhos" às políticas sectárias do ex-primeiro-ministro iraquiano xiita Nuri Al Maliki, à perseguição das minorias sunitas, às detenções arbitrárias e execuções sumárias, continuando a fornecer armas ao governo de Al Maliki.

Continua depois da publicidade

Na Síria, os Estados Unidos reuniram uma coligação de cerca de 60 países para lutar contra o Estado Islâmico, mas nenhum desses países pressionou o presidente sírio, Bashar Al Assad, "a pôr fim aos massacres de civis".

"Esta visão seletiva foi um presente para os recrutadores do Estado Islâmico, que se apresentaram como os únicos capazes de resistir às atrocidades de Al Assad", explicou Roth.

Esta mesma escolha ocorreu no Egito, onde a resposta mundial à repressão "sem precedentes" do atual presidente, general Abdel Fattah Al Sissi, foi "vergonhosamente inadequada", disse.

Continua depois da publicidade

Washington não chama golpe de Estado a derrubada do ex-presidente eleito, o islamita Mohamed Morsi, devido às preocupações com a segurança na região, e para o país vizinho Israel, aliado dos EUA.

"O Estado Islâmico pode alegar que a violência é o único caminho que leva ao poder, porque quando procuram o poder por meio de eleições e ganham, são afastados sem grandes protestos internacionais", explicou Roth.

Na Rússia, que calou as vozes dissidentes nos dois últimos anos, as violações dos direitos humanos e a "relativamente fraca reação" dos países ocidentais agravaram "a crise na Ucrânia".

Continua depois da publicidade

Os países ocidentais, que regressaram a "uma mentalidade dos bons contra os maus" e desejosos de apresentar a Ucrânia como a vítima do agressor russo, mostraram-se "reticentes em tratar as violações [dos direitos humanos] cometidas" por Kiev.

A segurança na era digital preocupa também a ONG, que alertou para a espionagem diária feita pelos governos e o recolhimento de dados de centenas de milhões de pessoas.

"Em todo o lado, os governos estão desenvolvendo uma capacidade de vigilância em massa", com base no modelo de Washington e Londres, disse a pesquisadora da ONG Cynthia Wong. "Um verdadeiro cenário digno de George Orwell poderá estar em construção", advertiu.

Continua depois da publicidade

Em 1949, o britânico George Orwell, pseudônimo de Eric Arthur Blair, publicou 1984, no qual descreve uma sociedade futura em que o Estado controla totalmente todos os aspectos das relações humanas.

Continua depois da publicidade

Mais lidas

Conteúdos Recomendados

©2024 Diário do Litoral. Todos os Direitos Reservados.

Software