Continua depois da publicidade
Portas destruídas. Invasão de estabelecimentos. Clientes, comerciários e comerciantes de mãos para cima. Impotência total. Essa é a realidade diária do centro comercial de Vicente de Carvalho – considerado o segundo maior em termos de vendas da Baixada Santista, perdendo apenas para o de São Vicente.
Na última quinta-feira (23), a reportagem esteve no distrito de Guarujá e constatou o clima de insegurança que se estabeleceu na região, um reflexo do que está ocorrendo em toda a cidade (ver nesta reportagem), deixando a polícia sem saber o que fazer para tranquilizar a vida de quem compra e de quem vende.
Continua depois da publicidade
O comerciário Álvaro dos Santos Filho diz que o medo impera na Avenida Santos Dumont (principal corredor comercial do distrito). “Entraram e levaram meu relógio, pertences de clientes e o dinheiro da loja. Trabalhamos com um olho no peixe e outro no gato. Sofremos assaltos depois do Natal e também depois do Reveillon pelos mesmos marginais. A situação é insustentável”, afirma.
O comerciante José Augusto Bezerra da Silva reforça as palavras de Álvaro Filho. “Graças a Deus ainda não aconteceu comigo. Mas meus vizinhos estão sendo assaltados em plena luz do dia. Os bandidos não respeitam sequer o monitoramento (por câmeras). Os clientes estão fugindo de Vicente de Carvalho. Até o trabalhador que se dirige para Santos pelas barcas está sendo furtado. Estão roubando bicicletas e motos do estacionamento”, conta.
Continua depois da publicidade
Outro comerciante, André Dias, faz um apanhado geral da situação. “Perdemos os caixas eletrônicos externos. Os furtos de bicicletas na estação das barcas não têm limites. Os boxes do camelódromo estão com portas duplas e reforçadas. Lojas comuns são arrombadas por marretadas. Grandes lojas estão fugindo do distrito e os bancos se negam a receber dinheiro”. O Diário do Litoral retratou essa situação no último dia 10.
Dirigentes
Continua depois da publicidade
O presidente do Clube de Dirigentes Lojistas (CDL) de Guarujá e Vicente de Carvalho, Olivan Belarmino, afirma que nem entregas em domicílio estão sendo feitas. “Alguns comerciantes estão dando desconto para o cliente contratar o carreto, fugindo da responsabilidade da entrega. Ou seja, o comércio não está conseguindo crescer. A insegurança é geral. É preciso uma ação mais forte por parte das polícias militar e civil”.
Crítico contumaz da situação, o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Guarujá e Vicente de Carvalho, Hassen Hammoud, já chegou a “pedir a cabeça” do comandante da Polícia Militar. Ele chegou a ser assaltado por seis menores, no dia 12 de dezembro passado. “Se a própria polícia está com medo de tomar uma atitude, como ficam os comerciantes. A falta de iniciativa vai acabar nos tornando vítimas ou algozes”, afirma Hammoud, alertando que as duas polícias sabem quem são os marginais e “nada fazem”.
Banco não aceita dinheiro
Continua depois da publicidade
No último dia 10, reportagem do Diário do Litoral publicou um caso inusitado por intermédio da repórter Fernanda Haddad. Fazia um mês que a agência do Banco do Brasil na Avenida Thiago Ferreira, também no Distrito, não realizava qualquer tipo de transação em dinheiro nos caixas. O aviso na porta da unidade dizia: “Por motivos de segurança pública, a partir dessa data 09/12/2013 esta agência não fará mais pagamentos ou recebimentos no caixa com dinheiro, assim como não processaremos mais depósitos de dinheiro e cheques”.
Sobre a iniciativa do banco e a falta de segurança em Vicente de Carvalho, o advogado e ex-policial militar Paulo César Clemente disse se tratar da “falência do poder público”. Ele explicou que as ações da Policia Militar são baseadas em estatísticas. No entanto, descrentes das iniciativas do poder público, as pessoas quando sofrem alguma ação criminosa deixam de fazer o boletim de ocorrência (B.O.). Sem oficializar as ocorrências, as estatísticas de criminalidade escondem a realidade do índice de violência e crimes no município, revelava o advogado.
Na ocasião, o Banco do Brasil, por meio de sua assessoria de Imprensa, confirmou que os caixas não estavam operando e justificou a iniciativa dizendo que a agência estava passando por uma reformulação do plano de segurança. A unidade foi alvo de assaltantes três vezes, no intervalo de um ano e meio, duas delas entre julho e dezembro do ano passado.
Continua depois da publicidade
Muito além de Vicente de Carvalho
No início da semana, uma foto postada no Facebook teve repercussão nacional. Uma turista flagrou o momento exato em que um marginal armado invadia uma residência na Praia de Pernambuco, no outro lado do município, provando que a violência não se restringe ao Distrito. As vítimas contaram à polícia que foram obrigadas a ficar na piscina da casa enquanto os ladrões subtraíam os objetos.
Continua depois da publicidade
Em um programa de televisão local, o presidente do Guarujá Golf Clube, Miguel Calmon, revelou que os assaltos nas imediações do clube estão sendo responsáveis pela queda de 30% da frequência. O representante do clube não foi encontrado pela reportagem, mas conseguiu o depoimento de um casal, que prefere não se identificar, que literalmente fugiu dos bandidos. “Foram momentos de tensão. Quase perdi o controle do carro”, disse a motorista.
Vale a pena lembrar que o loteamento Acapulco, que fica também na região da praia de Pernambuco, mantém uma escolta especial para buscar os moradores em outro ponto crítico de Guarujá: as imediações do Túnel Juscelino Kubitschek, popularmente conhecido como Túnel da Vila Zilda, trecho entre o bairro de Morrinhos e a Vila Júlia – local em que ocorrem centenas de assaltos a motoristas.
Na entrada da Cidade, bem em frente à Prefeitura, a situação é a mesma. Um dos responsáveis pela segurança do hipermercado Atacadão, que prefere ter sua identidade preservada, afirma que a empresa teve que fechar a saída dos fundos do hipermercado por causa dos assaltos aos carros que saiam do local, início do bairro da Cachoeira.
Continua depois da publicidade
“Nem os funcionários são poupados. A passarela em frente, sem iluminação e visualização, também é ponto de emboscada. Já perdemos muitos clientes e isso reflete na economia da rede e, consequentemente, na oferta de empregos. Se hoje temos 245 funcionários, poderíamos ter mais de 280”.
Em Santa Cruz dos Navegantes, outro extremo da Ilha e reduto de famílias humildes, moradores se mobilizaram num abaixo-assinado para conseguir a reabertura da Base Policial. Ninguém aguenta a falta de segurança.
Pela Internet, pessoas estão usando as redes sociais para informar que os marginais também estão agindo nas filas das balsas e em algumas praias do município, principalmente no período noturno, quando o movimento é menor.
Continua depois da publicidade
Estado
A Polícia Militar esclarece que somente em 2013 deteve 268 pessoas em flagrante, retirou das ruas 34 armas de fogo e apreendeu aproximadamente seis quilos de drogas. O policiamento ostensivo e preventivo em Vicente de Carvalho, no Guarujá, é realizado por meio dos mais diversos programas como o Radiopatrulhamento, Força Tática, Rocam (Rondas Ostensivas com Apoio de Motocicletas), entre outros. Informa, ainda, que o policiamento é dinâmico, sendo readequado de acordo com as necessidades locais.
Já o delegado titular do 2º Distrito de Guarujá, Josias Teixeira de Souza, informa que prendeu quatro suspeitos dos roubos em Vicente de Carvalho, sendo que dois deles responderão por sete inquéritos instaurados para investigar crimes nos comércios do Distrito. Além disso, Souza explicou que é de extrema importância registrar as ocorrências.
Os cidadãos também podem colaborar com trabalho policial para elucidação de roubos, tráfico de drogas, homicídio, latrocínio, roubo e furto de veículos, procurados pela justiça e sequestro, por meio do Webdenúncia: http://webdenuncia.org.br/ ou pelo Disque Denúncia, que atende gratuitamente no número 181. O sigilo é total.