Continua depois da publicidade
A triste história da dona de casa Janeide Santos da Conceição e de seu filho Gabriel, publicada no Diário do Litoral no último dia 31, teve um desdobramento inesperado: a família será assistida por uma entidade de Santos e transferida da casa humilde onde mora, no bairro da Água Fria, para o Conjunto Habitacional no Bolsão Nove, em Cubatão, pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), do Governo do Estado.
A informação foi obtida na última sexta-feira (7) junto à gerente de Ações de Recuperação Urbana da CDHU, Walkyria Marques de Paula. A família irá morar numa casa térrea, com quintal, três dormitórios, sala, cozinha, banheiro e área de serviço, minimizando o sofrimento do menino Gabriel, terceiro de seus quatro filhos, portador de síndrome de Down e autista, que ficou cego em função de um acidente ocorrido de agosto do ano passado, em Santos.
Leia também:
Em Cubatão, mãe suplica: “Eu preciso de ajuda”
Segundo a gerente, a mudança de casa e “de vida” - visto que Gabriel morava em um lugar totalmente insalubre e impróprio para as suas necessidades - está prevista para primeira semana de julho. “Tudo depende da entrega dos documentos por parte de Janeide, que já vem sendo orientada por nossos técnicos”, acrescenta Walkyria de Paula.
Drama
Na semana passada, o drama de Janeide comoveu dezenas de leitores. De um pequeno cômodo de sua casa, a mãe desesperada, com Gabriel no colo, iniciou a entrevista com a seguinte frase: “eu aceitei a Síndrome de Down ao nascer, o autismo com três anos de idade, mas a cegueira eu não consigo aceitar”.
Com muita dor no coração, Janeide começou a revelar o martírio do pequeno Gabriel que, após sair de uma consulta no Hospital Guilherme Álvaro (Avenida Siqueira Campos), em Santos, sofreu uma queda ao sair do ônibus.
Cansada em função dos cuidados com o filho especial, Janeide não percebeu que o motorista parou um pouco à frente do ponto, onde havia uma guia rebaixada de garagem. Ao tentar desembarcar, Janeide não atentou à distância entre o último degrau do ônibus e o chão, acabando caindo com Gabriel.
Após ter sido atendida no Hospital Municipal de Cubatão, Janeide ligou para a empresa com objetivo de buscar responsabilidades sobre o acidente, mas não obteve retorno.
Uma tomografia em Gabriel não teria detectado nada de anormal. Porém, 48 horas depois, Janeide percebeu que um dos olhos de Gabriel começou a inchar. O menino ficou estrábico (perdeu o paralelismo entre os olhos) e, em um novo exame, foi diagnosticado traumatismo craniano leve.
Em setembro de 2012, Gabriel perdeu totalmente a visão. “Descobri sozinha ao ver Gabriel enfiar a mão dentro de uma panela”, contava a mãe, demonstrando, por intermédio da expressão facial, o momento mais difícil de sua vida.
Após uma bateria de exames, os médicos nada detectaram em Gabriel, que já se recusava a andar, talvez por não conseguir enxergar. “Ele passou a colocar a mão na cabeça e fazer gestos como se estivesse sofrendo uma dor intensa. O médico dizia que não era nada, mas uma mãe conhece quando seu filho está sofrendo”, contou Janeide.
Após várias idas e vindas a convênios, hospitais, ambulatórios e outros equipamentos de saúde da região, sempre em busca de respostas para o problema de Gabriel, Janeide seguiu, com poucos recursos, para São Paulo (Capital), onde só encontrou alento na Universidade Paulista de Medicina.
Após três dias dentro do hospital-escola, Janeide ouviu que Gabriel corria risco de morte por ser diagnosticado com um tumor no cérebro, em que a perda da visão teria sido, até então, a última consequência. Na ocasião, os médicos disseram que era preciso uma operação urgente em Gabriel.
Em 5 de outubro daquele ano, Gabriel iniciou a primeira de uma série de pulsões lombares – coleta de excesso de líquido da medula – que estaria subindo para a cabeça do menino, causando pressão intracraniana e dores quase que insuportáveis, só amenizadas com a implantação de um dreno para impedir o fluxo do líquido para a cabeça, cirurgia já realizada. “A cegueira de meu filho poderia ser evitada, caso houvesse um diagnóstico logo após o acidente”, completou Janeide.
No dia da entrevista, Janeide, que vive com o marido (motorista de ônibus) e mais três filhos na Água Fria, estava aguardando a possibilidade de ser contemplada com uma casa dentro de um dos programas habitacionais oferecidos pelos governos estadual e federal. Sonho que se será realizado no mês que vem.
Continua depois da publicidade