Cotidiano

Um senegalês tentando ganhar a vida em São Vicente

Imigrante africano cativa clientes no comércio vicentino e sonha voltar para casa

Publicado em 20/10/2014 às 10:47

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A moça se aproxima e pergunta o valor de uma capa para celular. O jovem negro e simpático aponta para uma pequena caixa que está no chão, repleta de capas de cores e modelos diversos. Os preços variam entre R$ 10 e R$ 15. Demonstrando ser uma cliente conhecida do vendedor, ela escolhe um modelo e sai feliz com o produto adquirido. A cena se repete pelo menos umas cinco vezes nos quinze minutos em que a Reportagem aguarda para conversar com um ambulante que vem chamando a atenção de quem passa pela Praça Barão do Rio Branco, em São Vicente.

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Omar Mboup, de 34 anos, é apenas mais um dos milhares de imigrantes africanos que chegaram ao Brasil nos últimos anos em busca de melhores condições de vida. Saiu do Senegal, na África Ocidental, há um ano e oito meses. Pisou pela primeira vez em solo brasileiro no Estado do Acre, onde ficou em um abrigo para refugiados e, um tempo depois, migrou para o município de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul.

No Senegal, deixou dois filhos pequenos. Segundo Mbop, em seu país de origem não há emprego. O clima árido, com chuvas em apenas quatro meses do ano, contribuiu ainda mais para aumentar a pobreza. Viver é muito difícil. “Vim em busca de oportunidade. O Brasil é muito bem visto lá. Um real aqui equivale a duzentos cfa (Franco CFA moeda senegalesa)”, disse o jovem, com um português quase perfeito. O idioma oficial de seu país é o francês, o qual tem amplo domínio.

Em Passo Fundo, Mboup trabalhou como vendedor de sapatos. A habilidade com os calçados ele trouxe do Senegal onde atuava como sapateiro. Com a queda nas vendas no Sul, ele se viu obrigado a migrar para o Sudeste. “Fui para São Paulo. Conheci dois amigos que já trabalhavam aqui na praia e resolvi vir para cá”, afirma.

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Senegalês Omar Mboup vende capas para celular no Centro da Cidade (Foto: Luiz Torres/DL)

Mboup chegou a São Vicente há nove meses. Paga cerca de R$ 400,00 no quarto de uma Pensão na Cidade. Sobrevive com a venda de produtos que adquire na Capital. Já vendeu de relógios a carteiras. Atualmente, seu artigo principal são as capas para celular. Sem licença da prefeitura para vender suas mercadorias, ele sempre está atento a fiscalização. “A guarda sempre passa. Já levaram minhas coisas, mas a gente precisa trabalhar”, conta o jovem. Assim como ele, outros ambulantes informais – brasileiros e estrageiros – também atuam na região central.

Enquanto a Reportagem conversa com Mboup, vendedores das lojas fazem questão de cumprimentá-lo. “É um bom menino. Amigo nosso”, disse um homem. A entrevista é interrompida diversas vezes por clientes que chegam a todo o momento. “Calma, jornalista, a gente já continua”, brinca Mboup.

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Com o dinheiro que ganha nas ruas, que varia de acordo com as datas comemorativas e o período de pagamentos, o senegalês se mantém na Cidade e ainda consegue enviar um pouco para a família que deixou na África. Ele pretende voltar para sua terra natal nos próximos dois anos. “Não tenho ninguém aqui. Quero rever e ficar com os meus filhos”, afirma. Aos finais de semana, ele deixa os calçadões do Centro para percorrer os calçadões da praia.

Questionado sobre preconceito, Mboup desconhece a palavra, mas afirma nunca ter sido agredido por causa de sua cor. “Agora com o Ebola o povo brinca: sai pra lá Ebola. Mas no meu país não tem Ebola não”, afirma. O Senegal registrou apenas um caso da doença esse ano, cujo paciente foi curado. Na última sexta-feira (17), a Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu informando que o país e a Nigéria estão livres do vírus.

Sobre o Brasil e São Vicente, o vendedor só tem palavras de agradecimento. “É um país maravilhoso. O povo também é muito legal. Só tenho a agradecer como me receberam. Aqui tem muito trabalho”, destaca.

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