DIVERSIDADE

Tradicional igreja evangélica decide não rejeitar LGBTs e enfrenta polêmica

Antes com 2.600 fiéis, os cultos passaram a ter 69% menos frequentadores; um casamento gay está marcado para janeiro no templo

Joe Silva

Publicado em 20/09/2022 às 14:04

Atualizado em 20/09/2022 às 14:19

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Com a decisão, o pastor diz que passou a receber ameaças como 'Você vai morrer e dançar com o capeta no inferno' / Reprodução/Google Street View

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A Igreja Betesda de São Paulo, localizada no Jardim Marajoara, na sona sul, enfrenta uma polêmica no meio evangélico, desde que seu líder, o pastor Ricardo Gondim, de 68 anos, afirmou que as pessoas homossexuais não seriam desrespeitadas na comunidade, e passariam a ter o mesmo tratamento que os demais fieis.

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De forma inesperada, a fala aconteceu em um culto comum de domingo, com o templo, que tem 8 mil metros quadrados, cheio. “Nossa igreja saiu do armário”, definiu.

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“Não vamos mais somente aceitar que frequentem o nosso espaço: daremos voz a eles, permitiremos que tenham cargos religiosos”, ele diz. 

Contra a tradição

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A Betesda se define como igreja pentecostal - que difere das igrejas evangélicas neopentecostais e das "históricas", como a Batista e a Luterana - e está ativa em São Paulo desde 1991. Mas assim como as demais comunidades, sempre optou por não dar oportunidade de participação plena nos cultos, permitindo apenas que os LGBTQIAPN+ frequentassem o templo.

Pastor Ricardo Godim diz que igreja evangélica Betesda terá casamento gayPastor Ricardo Godim diz que igreja evangélica Betesda terá casamento gay. Foto: Reprodução/Redes sociais

Com a nova postura, a Betesda de São Paulo se tornaria o que é conhecido como igreja "afirmativa", onde todas as pessoas são bem-vindas, mesmo não sendo héteros. A maioria dos membros atuais não é homossexual, assim como o pastor. Portanto, ela não será uma "igreja gay", mas apenas um lugar onde todos podem frequentar. 

Agora, a instituição passará inclusive a celebrar casamentos homoafetivos. “O primeiro deve acontecer em janeiro”, planeja Godim.

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A repercussão negativa

Perguntas como ‘Meu filho vai aprender a ser homossexual?’, ou ‘Vão acontecer comportamentos inadequados dentro da igreja?’ passaram a se tornar frequentes, disse Godim à "Veja São Paulo". O número de fiéis presentes nos cultos despencou 69%, passando dos usuais 2.600 para cerca de 800 por reunião.

“Rolou um ‘cancelamento’ nas redes sociais, os haters (críticos) surgiram em massa”, conta o pastor. “Postavam frases como: ‘Você vai morrer e dançar com o capeta no inferno’”, lembra.

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Um portal de notícias do segmento evangélico publicou uma matéria com o título "Ricardo Godim choca sua igreja", sobre a decisão do pastor, que também é teólogo e conferencista renomado.

Até as finanças da igreja sentiram o abalo do posicionamento. “Tivemos de fazer dívidas em bancos para pagar as contas. Passamos pela pandemia sem precisar de empréstimos, mas não pelo ‘cancelamento’”, afirma Gondim. “A nossa igreja depende de um milagre”. Um carro foi colocado como prêmio de uma rifa para arrecadar fundos.

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A decisão de Godim ainda é rara entre as igrejas cristãs em São Paulo. Segundo a Casa Galiléia, existem apenas três igrejas afirmativas no Estado entre os mais de 2 mil espaços evangélicos. 

Além do gesto de apoio à comunidade não-hétero, o pastor afirma que outros públicos minorizados também terão suporte da igreja.

“A homossexualidade não é pecado, Deus ama a todos. Tampouco seremos uma igreja só para gays: vamos fazer fóruns sobre negritude, mulheres, violência doméstica”, adianta o líder, que ressalta que vai seguir em frente com seu posicionamento.

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“Perdemos muitos fiéis, sim. Mas a sensação é a de que estamos fundando uma nova igreja”, completou.

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