Cotidiano

Toque feminino no Porto de Santos

Para comemorar o Dia Internacional da Mulher, o Diário do Litoral colheu relatos especiais de mulheres que trabalham no maior porto da América Latina

Publicado em 08/03/2014 às 10:37

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O rosa das unhas não combina com o uniforme azul e verde fluorescente, camiseta e calça largas, confortáveis como qualquer homem gosta de usar. As botinas pretas e o capacete também não escondem a feminilidade dos cabelos lisos e loiros caídos nos ombros. Ana Helfstein é uma das 83 mulheres que trabalham no setor de operações da Santos Brasil, terminal do Porto de Santos.

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Apesar da área predominantemente masculina, Ana é supervisora de operações e inclusive comanda uma equipe em sua maioria formada por homens. Ela se orgulha e diz que hoje já não sofre mais preconceitos.

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Quando começou na empresa, Ana exercia a função de motorista de carreta. Após quase três anos, ela conta que já passou por diversos cargos operacionais e hoje exerce cargo de chefia.

Para comemorar o Dia Internacional da Mulher, o Diário do Litoral colheu relatos especiais de mulheres que trabalham no maior porto da América Latina, o Porto de Santos. Exemplos de mulheres que enfrentaram preconceito por escolher uma carreira disputada por homens, e hoje aliam os horários instáveis aos deveres de mãe e esposa, funções que também não deixam de exercer dentro de casa.

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Juliana diz que é seu sonho trabalhar como operadora na Santos Brasil (Foto: Luiz Torres/DL)

Ana é um exemplo das mulheres portuárias escolhidas pelo DL. Ela, que sofreu preconceito no início de sua carreira, quando dirigia carretas, hoje diz que o carisma e o comprometimento foram as características que conquistaram o respeito dos homens, seus colegas de trabalho. “No começo eles (os homens) se assustam e ficam analisando as mulheres, para ver se elas fazem o trabalho direito, depois passam a respeitar”, conta.

Do mesmo problema sofreu Juliana Sombra Melo, operadora de um guindaste sobre rodas (Rubber tyre gantry cranes, RTG, em inglês), também na Santos Brasil, quando começou a trabalhar no terminal há cinco anos.

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Ela começou do mesmo jeito que Ana, dirigindo carretas. Subiu de cargo e hoje opera o equipamento utilizado para movimentar contêineres de até 41 toneladas. “É o meu sonho trabalhar aqui”, diz Juliana, que foi a terceira mulher a entrar na empresa.

O desafio maior de Juliana é aliar a rotina de trabalho com os afazeres domésticos. Apesar da ajuda do marido, ainda recai sobre ela os cuidados com a casa. “A mulher pode trabalhar fora, quantas horas for, mas sempre vai ser cobrada por fazer comida, cuidar da casa, dos filhos, não tem jeito. Os homens só ajudam em uma coisa ou outra, mas a responsabilidade maior é da mulher”, diz.

>Ana é supervisora de operações e comanda uma equipe formada por homens em sua maioria (Foto: Luiz Torres/DL)

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Juliana trabalha em turnos diferenciados, inclusive durante algumas madrugadas. “E quando eu chego em casa, às 7h30 da manhã, não tem desculpa. Meu marido me cobra para fazer o café da manhã para ele”.

Embraport

Na Embraport, outro terminal portuário instalado na margem esquerda (Guarujádo Porto de Santos, atuam hoje cerca de 30 mulheres, que exercem funções operacionais estratégicas, entre elas o planejamento e monitoramento das operações, controle de gates, vistoria e conferência de cargas e a operação de equipamentos de grande, médio e pequeno portes, atividades antes consideradas exclusivamente masculinas.

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Fabiana do Nascimento Almeida foi a primeira mulher contratada pela Embraport para operação de equipamentos pesados. Atualmente, ela é operadora de RTG, assim como Juliana, funcionária da Santos Brasil. Sua função envolve a organização das cargas nopátio, assim como a colocação e retirada das cargas nos caminhões que acessam diariamente o terminal.

A operadora foi recrutada através do Programa Novos Operadores, treinamento que preparou profissionais para o início das operações.

Fabiana foi a primeira mulher contratada pela Embraport (Foto: Divulgação/Embraport)

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O desempenho de Fabiana abriu as portas do terminal para outras mulheres. Ana Paula da Silva e Laudicéia do Nascimento, respectivamente operadoras de empilhadeira pequena e grande, são exemplos disso. Ana Paula foi a segunda mulher a ingressar na operação da Embraport, e conta que já havia tentado uma oportunidade em outras empresas da área portuária, mas sem resultados, pois a preferência era sempre masculina. “Na Embraport, vivenciei a preocupação da empresa em investir na capacitação das pessoas. Em pouco mais de seis meses de trabalho, participei de diversos treinamentos no terminal e hoje tenho mais de três certificados”.

Comprometimento

Para o gerente de operações da Santos Brasil, Vitor Lousada, o trabalho exercido pelas mulheres nos terminais portuários é diferenciado. Ele diz que elas, as operadoras, tem um grau de comprometimento maior com a função. “São pequenas atitudes no dia a dia que diferenciam o trabalho do homem e da mulher. Foi uma grata surpresa para a Santos Brasil o trabalho que começou a ser desempenhado por mulheres há alguns anos”.

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De acordo com Lousada, a empresa está sempre de portas abertas para a contratação de mulheres. “Nós avaliamos os currículos. Independente de homem ou mulher, nós classificamos o candidato pela qualificação. Hoje não existe mais esse tipo de preconceito com o sexo feminino”, ressalta.

Mulheres de fibra

Durante meses, várias reportagens do Diário do Litoral mostraram a força das mulheres da região. Entre as que se destacaram estava a de Janeide Santos da Conceição que lutou muito e conseguiu dar uma vida melhor para o filho Gabriel, portador de Síndrome de Down, Autismo e Cegueira, esse último problema ocasionado por um acidente em Santos. Ela conseguiu sair de um casebre sem estrutura e insalubre no bairro da Água Fria e morar no bairro Parque dos Sonhos, em Cubatão, oferecida pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CD HU), do Governo do Estado.

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>Ana Paula teve dificuldades para ingressar em algum terminal, até que começou a trabalhar na Embraport (Foto: Divulgação/Embraport)

Também foi bonita a luta da guarujaense Ana Paula Costa Puosso que, após ter seu benefício por afastamento do trabalho suspenso pelo Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS ), acampou na porta do órgão e chegou a raspar a cabeça na Câmara de Vereadores em protesto. Dias depois, ela conseguiu recuperar o benefício por mais seis meses.

Outra mulher que mostrou fibra: Maria Miriam de Jesus. Por só ter dinheiro e não o cartão transporte, ela carregou de madrugada e no colo a neta de pouco mais de um ano do Pronto Socorro da Santa Casa de Santos até o Morro da Santa Maria, onde mora. O Conselho Tutelar já encaminhou o caso ao Ministério Público (MP).

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