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Um sonho revelou ao pajé a terra prometida. Este lugar seria próprio para plantar e uma nova aldeia fundar. Decididos a encontrar essa área, quatro famílias de índios guaranis decidiram sair do município de Pariquera-Açú, no Vale do Ribeira, com destino a Praia Grande, na Baixada Santista. Foi assim que, junto a Serra do Mar, próximo a divisa com o município de São Vicente, nasceu, há quase cinco anos, a aldeia Tekoa Mirim. Abrigando atualmente 12 famílias – cerca de 60 pessoas -, a comunidade indígena é a mais recente da Região.
“Primeiro veio eu e ele (o pajé) conhecer a área. Depois vieram as famílias. Ao todo eram 25 pessoas. Esse ano, no dia 13 de novembro, vamos fazer cinco anos aqui”, contou o cacique Edmilson de Souza (Karai). A aldeia Tekoa Mirim é constituída por índios guaranis M’Bya. Na comunidade, que fica no interior de uma Unidade de Conservação (UC) do Parque Estadual Serra do Mar, as conversas se dão na língua guarani.
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Edmilson, que tem 31 anos, é um dos mais jovens caciques das aldeias da Região. O líder indígena destacou o início da comunidade. “Quando a gente chegou ninguém sabia de onde viemos. Corri atrás da Funai para reconhecer a terra. Conversei com o pessoal. O acesso era muito difícil, mas melhorou. Temos uma sala onde as crianças têm aula”. O processo de demarcação da área, que é de preservação ambiental, já tramita na Funai (Fundação Nacional do Índio).
As casas de Tekoa Mirim são feitas de pau, barro, telhas e palha. A água, captada em uma nascente no morro, é levada até os domicílios por meio de uma canalização improvisada pelos índios. Não há luz elétrica e as noites são iluminadas por fogueiras ou a luz de velas. Na aldeia, que conta com algumas ruínas de construções antigas no entorno, há um campo de futebol de terra com traves de madeira. Para acessar a comunidade é preciso atravessar a ponte sobre o Rio Boturoca e percorrer um longo caminho de terra e vegetação.
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O meio de subsistência das famílias de Tekoa Mirim está na plantação de milho, batata e mandioca, produzidos para consumo próprio, e na venda de artesanato. Algumas famílias também são beneficiárias do programa Bolsa Família. A aldeia conta ainda com plantação de palmito pupunha e juçara. O caule demora até 11 anos para que seja colhido. “Como é uma área de preservação e ainda não está demarcada como território indígena a gente tem muito cuidado”, contou o cacique.
Missão
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Edmilson é filho do pajé. Mauricio de Souza (Karai Mirim), 80 anos, não aparenta a idade. Fala pouco o idioma português. A missão de ser pajé se manifesta ainda na infância. Ele, que de acordo com os índios ‘tem o dom escolhido por Deus’, cuida das rezas, dos remédios e chás naturais utilizados na aldeia. A casa de reza de Tekoa Mirim fica no alto do morro. É lá que os índios fortalecem a fé e preservam a tradição.
“A casa de reza é o principal. Ela representa o fortalecimento da sabedoria e mantém a nossa cultura”, disse Edmilson. Apesar de considerar essencial a preservação da tradição, o cacique aconselha os jovens a manterem um bom relacionamento com a cultura não-indígena. “O índio de hoje depende do não-indígena e precisa aprender algumas coisas. A gente precisa de estudo. Os jovens precisam aprender para que daqui pra frente defendam melhorias para o seu povo”. Ele estudou até o segundo ano do Ensino Fundamental.
O jovem cacique diz que ainda tem muito a aprender e liderar uma aldeia não é fácil. “Estou aprendendo e me dedicando. O comportamento tem que ser exemplo para as crianças e os jovens”.
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Sobre o futuro da aldeia, Edmilson espera que melhore o atendimento a Saúde proporcionado pela Sesai, órgão voltado à saúde indígena e ligado ao Ministério da Saúde, que a comunidade possa um dia ter energia elétrica e sobretudo tenha as terras demarcadas. “Esperamos que as coisas melhorem para os povos indígenas. Que a gente continue sempre lutando pelo nosso direito e que respeitem o nosso direito garantido na Constituição Federal”.
Tekoa Mirim está aberta à visitação. Eles também fazem apresentações culturais fora da aldeia. Uma das atrações é o coral indígena infantil. Mais informações com o Edmilson pelo telefone (13) 99757-1460.
Escola Estadual Indígena de Tekoa é precária
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A casa de madeira, de apenas um cômodo, abriga a Escola Estadual Indígena Aldeia Tekoa Mirim. Nas mesas escolares fixadas no chão batido de terra, em meio a livros e o imenso buraco na telha, os pequenos índios assistem as aulas do Ensino Fundamental. Se chover, o jeito é recolher o material e voltar para casa.
“A escola não tem espaço. A estrutura é precária. Quando chove fica impossível ter aula. Fica muito difícil estudar desse jeito”, destacou o cacique. Os dois professores que atuam na unidade também são pagos pela Secretaria Estadual de Educação. A alimentação escolar é fornecida pela Prefeitura de Praia Grande. Os jovens que já completaram o Ensino Fundamental fazem o supletivo do Ensino Médio em uma escola fora da aldeia.
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Reparos
A Diretoria Regional de Ensino de São Vicente informou, por meio de nota, que a unidade móvel da administração regional já foi acionada e uma vistoria no local está prevista para a próxima semana para verificar os reparos necessários. O órgão ressaltou se mantém à disposição da comunidade escolar para prestar quaisquer esclarecimentos.
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