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Duas pessoas que faleceram recentemente na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Pronto- socorro Central de Santos (PS Central) teriam sido infectadas por bactéria produtora de Carbapenase (KPCs) — enzima que impede que os remédios façam efeito contra elas (bactérias). Em algumas pessoas, pode provocar males como infecção urinária, pulmonar e generalizada levando à morte. A denúncia é do vereador e médico infectologista Evaldo Stanislau (PT) que quer imediata interdição da unidade.
O vereador informa que a delegada Daniela Perez Lázaro, do 2º Distrito Policial de Santos, após registrar boletim de ocorrência, abriu inquérito para apurar responsabilidades sobre a possibilidade de crime de homicídio causado por negligência. A denúncia também foi encaminhada à Secretaria de Saúde de Santos, do Estado e ao Ministério da Saúde.
“Nunca vi tamanha negligência, tamanha irresponsabilidade. Tem um diagnóstico de infecção, um antibiótico prescrito que não é dado por dias a fio e o paciente morre. Não precisa ser médico para saber o nexo causal (vínculo existente entre a conduta do agente e o resultado por ela produzido)”, afirmou ontem o vereador.
O parlamentar recebeu a informação com pedido que fosse averiguar pessoalmente situação em caráter sigiloso por ser infectologista. Segundo conta, trata-se de uma bactéria super-resistente, sendo a primeira vez detectada na Cidade. “Constatei a total falta de regras de operações para lidar com a situação e de mecanismos de proteção para evitar infecções cruzadas. Os profissionais da unidade ratificaram tudo, inclusive que os colegas médicos prescreveram antibióticos que não foram comprados”, explica Stanislau, que classificou o episódio como “dantesco”, por não haver como dimensionar quantos óbitos já teriam ocorrido e quantos poderão ainda ocorrer por falta de medidas por parte da Administração. “Isso é negligência, é crime”, disparou.
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Com doutorado na área de infectologia, o vereador afirma que não existe, na UTI do PS Central, um manual de rotinas para precauções e controle de infecções e que também não existe Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) operacional e que funcione, o que é obrigatório por intermédio da Portaria Ministerial 2.616/98. Ele explica também que não há uma enfermeira exclusiva para a função e que os demais profissionais ficam sobrecarregados.
Material
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Segundo Stanislau, não existe relatório mensal, busca ativa ou qualquer dado que permita estabelecer uma série histórica ou mesmo implantar medidas preventivas e corretivas relacionadas a infecções. “Reporta-se, com frequência, a falta de insumos descartáveis próprios para precauções de barreira”, alerta o vereador que revela ainda falta de água e álcool para a higiene dos profissionais; de equipes completas de enfermagem; equipamentos (estetoscópios, termômetros e outros); documentos de rotina e ainda não há procedimentos padronizados para higienização de circuitos respiratórios. “As secreções aspiradas são desprezadas no banheiro de uso comum de pacientes. Um ambiente propício para infecções cruzadas. Os dois pacientes que faleceram estavam lado a lado durante as internações”, aponta o médico.
Demora no diagnóstico
O vereador Evaldo Stanislau descobriu com os profissionais que os resultados de exames demoram cerca de duas a três semanas para retornar impedindo qualquer medida terapêutica ou de controle adequados. “Há que se enfatizar que semanas antes dos óbitos, já se conheciam os exames dos pacientes que apontavam a presença de microorganismos multirresistentes e produtores de KPC. Tanto que foi prescrito, por semanas, a Polimixina (antimicrobiano indicado nessa situação) sem que os doentes recebessem, pois não havia em estoque e o processo de compra leva semanas, fato amplamente documentado no prontuário do paciente. Isso certamente foi decisivo no desfecho do caso (da morte)”, informou o vereador.
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Vigilância
O vereador, que é presidente da Comissão de Saúde e Higiene da Câmara de Santos, afirmou que a chefe em exercício da Vigilância Sanitária do Município assumiu como certas as inúmeras irregularidades constatadas. “Perguntei se havia notificado e punido a unidade demandando ações corretivas. Ela não soube dizer quantas ou quando, mas afirmou que sim. Perguntei quais as providências para correção imediata, o que ela alegou não ser com a Vigilância. Perguntei se, em persistindo as irregularidades, por que a unidade não foi interditada? Ela não soube responder”, conta Stanislau.
O vereador quer que os órgãos, além da Polícia, instaurem procedimentos investigativos relacionados ao suposto dolo acarretado aos pacientes e seus familiares e à negligência crônica na condução da UTI do PS Central de Santos, expondo profissionais e pacientes a riscos, inclusive de morte. “Medidas corretivas devem ser a prioridade absoluta e imediata, a começar pela imediata interdição da unidade, até que medidas corretivas mínimas sejam adotadas”, conclui.
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Prefeitura não vê motivo para interditar PS Central
A Secretaria de Saúde (SMS) informa que a Vigilância Sanitária apurou algumas inadequações no PS Central e aguarda cronograma para a correção. Não havendo justificativa para a interdição imediata do local.
Os pacientes internados receberam tratamento adequado. Um deles teve a bactéria detectada em exame de urina e recebeu antibiótico adequado segundo o resultado do exame laboratorial. O outro teve a bactéria diagnosticada por meio de secreção da traqueia e também recebeu antibiótico indicado pelo exame laboratorial.
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A Secretaria, em nenhum momento, reconhece como verídica a falta de insumos descartáveis próprios para precauções de barreira, como máscaras, gorros, luvas e aventais.
De um modo geral, as unidades de terapia intensiva de qualquer hospital possuem bactérias mais agressivas e abriga pacientes em estágio crítico, com prognósticos difíceis de serem revertidos e com baixa imunidade. A SMS informou ainda que não mede esforços para acompanhar a situação com a devida atenção.
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