Cotidiano

STJ reanalisa arremate da área do Regatas Santista por construtora

Segundo a direção do Clube, em menos de 10 horas, Justiça concede à Miramar a apresentação da proposta, o depósito de parte do dinheiro e bate o martelo para a compra

Publicado em 04/10/2015 às 11:43

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O Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília, está analisando o agravo de instrumento (recurso contra decisões que possam causar lesão grave e de difícil reparação), interposto pela Diretoria do Clube de Regatas Santista, contra a alienação por iniciativa particular, proposta pela família de uma das vítimas da tragédia ocorrida no show dos Raimundos (1997).

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Segundo a Direção do clube, a alienação abriu as portas para que a Miramar Empreendimentos Imobiliários arrematasse a área por R$ 21 milhões – cinco vezes menos o valor real do imóvel. De acordo com os diretores, a empresa já depositou uma parte do valor e tomou posse do terreno, onde mantém um estacionamento na Ponta da Praia. Ainda conforme com eles, as vítimas estão recebendo indenizações oriundas desse depósito judicial. A Reportagem procurou ouvir a versão da empresa e, até a última sexta-feira, não obteve retorno. 

Alienação por iniciativa particular é uma ferramenta jurídica que permite que uma das partes do processo tome para si a iniciativa de procurar terceiros interessados em adquirir os bens penhorados, garantindo assim a satisfação da execução, no caso em favor da vítima.

O presidente atual do clube, Carlos Clemente, e o presidente do Conselho, Aguinaldo Fonseca, acompanhados do advogado Geraldo Alonso, explicam que houve vícios insanáveis no processo e que a alienação, permitida em 1º de outubro de 2009, não cumpriu requisitos legais (não publicou os procedimentos no Diário Oficial do Estado), impedindo a participação de outros participantes. Além disso, não teria informado a parte contrária, ou seja, o Clube de Regatas Santista.

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Conforme explicam os dirigentes e o advogado, a Diretoria havia decidido vender 2/3 da área do clube para pagar indenizações trabalhistas e as do caso do Show dos Raimundos, além de impostos atrasados. Após receber várias ofertas, expô-las a apreciação e cumprir todo o trâmite estatutário do clube, obteve como oferta mais vantajosa a da empresa Patrimônio Construções e Empreendimentos Imobiliários, que ofereceu R$ 13,5 milhões e mais assessoria jurídica ao clube para as demais demandas jurídicas.

“A Miramar foi a terceira colocada. A Patrimônio depositou parte do dinheiro e realizamos os primeiros acordos, incluindo o judicial envolvendo a vítima que ingressou com a alienação, na ordem de R$ 297 mil. Foi feita uma minuta de um edital ser aprovada pela Justiça e publicada. Nessa minuta, foi acordada a suspensão do leilão durante 30 dias para pagamento do valor. Tudo homologado e deferido pelo juiz. No entanto, sem qualquer publicidade, o advogado da vítima recorre ao juízo antes do prazo determinado e pede cancelamento do acordo. O juiz manda reavaliar a área e tudo volta atrás, sem qualquer comunicação à Direção do regatas e publicidade”, afirma Alonso, indignado com o ocorrido.

Alonso, Clemente e Fonseca querem reverter na Justiça (Foto: Matheus Tagé/DL)

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Um dia

Segundo os dirigentes e o advogado, as surpresas não pararam. No dia 1º de outubro de 2009 (poucos dias depois do ano em que tudo ocorreu), a Miramar apresenta a única proposta para arrematar a área. “E novamente, sem publicidade e prazo para que outros pudessem apresentar proposta, no próprio dia (01.09), o juízo deferiu a alienação. E o pior de tudo, o depósito de uma parte (R$ 6 milhões) foi feito no mesmo dia, junto com o auto de alienação. Como isso? Em nove horas saiu a proposta, a decisão judicial, o depósito e a alienação. Um verdadeiro recorde da Justiça”.

Para os dirigentes, todos os atos deveriam ser nulos e as pessoas que tinham dívidas a receber do clube estão se habilitando nos autos e recebendo o dinheiro antecipado pela Miramar, o que seria uma temeridade. “O agravo foi protocolado em 8 de junho último. Esperamos anular esse equívoco jurídico. Se isso ocorrer, o Estado terá que indenizar a Miramar”, finaliza Alonso.

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Dirigentes

Carlos Clemente ressalta que a compra anterior, feita com a empresa Patrimônio, foi realizada de forma transparente. “Estamos sofrendo com esse imbróglio jurídico. A Miramar está usando a área do clube para estacionamento, instalação de circo e o clube é quem paga o IPTU (imposto predial e territorial urbano)”, disse acompanhado de Aguinaldo Fonseca. “Isso tem que ser resolvido porque a área do clube – 12 mil metros quadrados com valor de cerca de R$ 100 milhões - está sendo usada de forma imprópria”.

Tragédia

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Em novembro de 1997, oito jovens morreram 63 pessoas ficaram feridas no Show da banda Raimundos, no Regatas Santista. Na ocasião, cerca de cinco mil jovens lotaram o ginásio do clube, na Ponta da Praia. O clube não tinha alvará da Prefeitura, nem autorização dos Bombeiros, para a realização de qualquer espetáculo.

O acidente aconteceu por volta das 3 horas, quando das cinco escadarias de acesso, apenas uma estava liberada. Por causa do excesso de peso, a estrutura de uma escada não resistiu e acabou caindo. Dezenas de pessoas começaram a cair junto e se amontoar. Por causa da correria e do pânico, sete jovens morreram asfixiados e um com traumatismo craniano.

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