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Em meio a pressões políticas e uma guerra de números, o Supremo Tribunal Federal (STF) começa nesta quarta-feira, 27, a decidir se os poupadores têm direito a receber expurgos inflacionários decorrentes da mudança na correção das cadernetas de poupança em razão dos planos econômicos Cruzado, Bresser, Verão, Collor 1 e Collor 2. Uma discussão que se arrasta há décadas na Justiça e que será decidida apenas no ano que vem.
Em meio ao debate jurídico, os valores financeiros deverão estar no centro da decisão. O Banco Central alega que o julgamento a favor dos poupadores levará a uma perda de R$ 150 bilhões no capital dos bancos, retração de R$ 1 trilhão no mercado de crédito e, consequentemente, redução da atividade econômica e impacto no emprego e na renda.
O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor afirma que o número do BC é exagerado. Pelas contas da ONG, os bancos teriam de despender R$ 8,4 bilhões, caso saiam perdedores no STF.
A decisão do STF resolverá em definitivo essa questão e repercutirá em mais de 395 mil ações que tramitam nas diferentes instâncias do Judiciário. Uma vitória em favor dos poupadores, entretanto, não significará o pagamento imediato das diferenças nas contas dos correntistas.
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Trâmite
Integrantes do governo admitem a possibilidade de o STF, eventualmente, modular o impacto de uma decisão contrária aos interesses dos bancos. Além disso, terminado o julgamento, as ações de poupadores, que estão paradas, voltarão a tramitar normalmente. E cada uma delas chegará ao fim em momentos distintos. Só depois, os bancos, caso percam, terão de pagar os expurgos.
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As divergências em torno da correção das cadernetas de poupança envolvem a data de aplicação dos índices estabelecidos pelos planos econômicos, planejados pelos governos à época para combater a inflação.
Os bancos aplicaram os novos índices para corrigir os valores depositados nas cadernetas de poupança, desde o início até o fim do mês. Os poupadores alegam que, nas semanas anteriores aos planos, os valores deveriam ser corrigidos pelo porcentual usado até então.
É essa a diferença que está em jogo. Os valores variam conforme os planos. No caso do Plano Bresser, a diferença seria de 8,04%; no Verão, 20,46%. O Plano Collor se divide em três, com diferentes porcentuais: 44,8%, 2,49% e 4,39%.
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Plenário
Dois dos ministros do STF não participarão do julgamento. Luiz Fux e Luís Roberto Barroso se declararam impedidos de julgar as ações em pauta. Fux, porque a filha advoga em um dos processos. Barroso, quando advogado, trabalhou em favor dos poupadores.
Na sessão de hoje, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes e Dias Toffoli lerão os relatórios dos processos em julgamento. Em seguida, as sustentações orais de aproximadamente 30 advogados. Lewandowski afirmou que pretende ler seu voto ainda nesta semana. Mesmo assim, a decisão ficará para 2014.
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Ministros do tribunal vinham defendendo adiar o julgamento para o ano que vem. O presidente do STF, Joaquim Barbosa, manteve o processo em pauta. O receio de parte dos ministros é que o julgamento possa criar turbulências na economia e repercutir no processo eleitoral.