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Os profissionais selecionados na segunda etapa do programa Mais Médicos, do governo federal, começarão a atender a população no início de novembro. Nesta nova leva, o Estado que vai receber o maior número de médicos é São Paulo, com 276 profissionais que desembarcaram na tarde deste sábado (26) na Base Aérea de Guarulhos e foram recepcionados pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Até março do ano que vem, de acordo com o ministro, o Estado terá "pelo menos" 2,5 mil médicos pelo programa.
Padilha reforçou que o critério de distribuição dos médicos se baseia no tamanho da população dependente do Sistema Único de Saúde (SUS) na região e no montante de população pobre que recebe atendimento. "O Estado de São Paulo foi o que mais demandou médicos para o Ministério da Saúde, por isso também é o que mais recebe médicos mês a mês. Agora, o critério de distribuição é o de maior concentração de pobreza e de pessoas com SUS-dependentes", explicou Padilha.
Só a cidade de São Paulo recebe 82 médicos nesta etapa do programa. Guarulhos recebe 17 e Campinas, 13. Padilha disse que há municípios grandes contemplados por profissionais pois existem "bairros inteiros que a Prefeitura, com todo o esforço que faça, não consegue garantir um médico permanente no posto de saúde".
Cotado como futuro pré-candidato do PT ao governo paulista nas eleições de 2014, o ministro rechaçou a ideia de que a distribuição tenha conotação política. "Não tem relação nenhuma", cravou ele, e completou: "Outros Estados que têm população muito menor do que o Estado de São Paulo recebem quase o mesmo número de médicos nessa distribuição, como é o caso da Bahia".
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Na segunda etapa do programa, só mais dois Estados, além de São Paulo, irão contar com o reforço de mais de 200 profissionais: Bahia (274) e Ceará (212). "Esses médicos, mesmo entre o Estado de São Paulo, estão indo para as áreas mais pobres do nosso País", lembrou, dizendo que 85% das localidades que recebem o Mais Médicos têm Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) abaixo da média nacional.
Dos 276 médicos que chegaram ao Estado e começarão a atender a partir do próximo dia 4 de novembro, 255 são cubanos. É o caso de Nancy Garcia, cubana que irá atender a população de Americana, interior do Estado. Segundo ela, a visão sobre a saúde do País, para quem vive no exterior, é de que há médicos que não se habilitam para visitar lugares distantes. "Estou disposta a fazer o que for necessário para melhorar a saúde deste povo e fazer medicina", disse. Ela passou três anos na África do Sul, onde atendeu "pessoas sem acesso a saúde" e estava atuando na Espanha. Nancy não faz parte do grupo de cubanos que veio por meio da parceria com a Organização Pan-americana de Saúde (OPAS).
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Também chegou ao Estado Jurandir Marcelino Ferreira Neto, brasileiro formado em Cuba. Ele destacou outro problema para a questão da saúde brasileira: a dificuldade da preparação para o vestibular de medicina de universidades públicas. O médico foi para Cuba ao ganhar uma bolsa para estudar e representar o povo indígena do qual faz parte. "Agora trouxe o conhecimento para aplicar na minha população e melhorar a saúde", disse Neto, que vai atuar em Pirituba, bairro da capital paulista. "Queremos ajudar a população, não ocupar o espaço de ninguém", completou.
Atrito com Conselhos Regionais
Na primeira etapa do programa, mais de 50 profissionais com diploma estrangeiro que chegaram a São Paulo demoraram a começar a atuar pois o Conselho Regional de Medicina do Estado (Cremesp) não concedeu registro profissional provisório que permite o exercício da profissão. Com a sanção da Medida Provisória do programa Mais Médicos, feita pela presidente Dilma Rousseff nesta semana, contudo, a responsabilidade pela concessão do registro a estrangeiros integrantes do programa foi transferida ao Ministério da Saúde.
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Para Padilha, a mudança garante a chegada de atendimento mais rápido à população. "O Ministério da Saúde, quando pegou a responsabilidade desse registro, já nessa semana deu registro para todos esses mais de 50 aqui no Estado de São Paulo e esses médicos agora já chegam com registro para atender a população integralmente", disse.
Questionado se isso representaria o fim do conflito com os conselhos regionais de medicina, Padilha respondeu: "Da parte do Ministério da Saúde, sim. O que o Ministério da Saúde mais quer é atender os milhões de brasileiros que não têm médico e isso também é muito bom para os médicos brasileiros que estão atuando em um hospital".
Diovan Cruz, brasileiro com diploma da Argentina e que será o único profissional que irá pelo programa para a cidade de Artur Nogueira, contou que pensa em fazer curso para revalidação do diploma "porque sabemos que está tendo muito atrito nesse impasse". Ele deixou o País em 1994 e morou também nos Estados Unidos.
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Futuro
O ministro da Saúde disse que a intenção é atrair, pelo menos, 12 mil médicos ao programa até março do ano que vem. Com a sanção da presidente Dilma Rousseff, a chegada dos profissionais poderá ser intensificada, contou. "Juntando os mais de 2,1 mil que chegam nessa segunda etapa ao País com os que já estão atendendo, teremos mais de 3,5 mil médicos", disse.
"Todas as iniciativas que possam trazer mais médicos são boas para a população. Nós estamos prevendo ainda abertura do próximo edital tanto para os médicos brasileiros como para os estrangeiros", declarou o ministro. O estudo sobre a data do lançamento do edital para a próxima etapa leva em conta, segundo ele, o calendário dos formandos brasileiros da graduação de Medicina. "Estamos batendo essas datas para permitir que os médicos que se formam em dezembro possam participar da seleção", disse.
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Saia Justa
Entre a leva de médicos que chegou em São Paulo, estava um profissional uruguaio que namorava à distância uma brasileira. Com o Mais Médicos, ele passará a morar no mesmo Estado da namorada e os dois se casarão em janeiro. Na chegada, enquanto a imprensa perguntava sobre a história, Padilha brincou "Onde está o casal? Vamos fazer o casamento agora, aqui na Base Aérea?". O médico uruguaio, reservado, pareceu não ter gostado da exposição, o que gerou desconforto no reencontro do casal depois de meses de separação.
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