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O motorista enfrenta uma série de adversidades no trânsito, uma delas é o sono. O Instituto do Sono do Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), estima que de 27% a 32% dos acidentes de trânsito no trânsito são provocados por sonolência ou cochilo do condutor enquanto dirige.
As mortes nestes acidentes respondem por 17% a 19%. A sonolência pode ter como causas a privação ou distúrbio do sono, cansaço, excesso de jornada de trabalho e/ou alteração do ciclo claro-escuro.
No intuito de reduzir os acidentes relacionados ao “dormir ao volante”, a Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet) e a Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF), estão propondo que os medicamentos que provocam sonolência venham com o símbolo de alerta “proibido dirigir” na caixa. A proposta deverá ser enviada à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) até o final deste mês.
Segundo a assessoria de imprensa da ABORL-CCF, a proposta já foi discutida com a Anvisa, que deverá implantar a medida. A assessoria informou ainda que a proposta não precisa ir à votação no Congresso Nacional.
Para representantes de sindicatos de caminhoneiros e taxistas, a medida é válida e poderá contribuir de forma significativa para a redução de acidentes. “Tudo que venha a contribuir para minimiza os problemas e reduzir os acidentes é bem-vinda”, afirmou o presidente do Sindicato dos Caminhoneiros (Sindicam), José Luiz Ribeiro Gonçalves.
O coordenador da Academia Brasileira de Ronco e Apnéia do Sono, da ABORL-CCF, o otorrinolaringologista Helio Fernando de Abreu, esclarece que há uma série de medicamentos para aliviar sintomas de dor de cabeça e gripe, por exemplo, que provocam sonolência e, por isso, a necessidade do alerta nas embalagens.
Analgésicos e anti-alérgicos encabeçam a lista de medicamentos que provocam sonolência. “A maioria dos comprimidos para gripe e resfriado, por exemplo, provocam sonolência”, alertou. Porém, explicou que os efeitos colaterais variam de pessoa para pessoa. “Tem gente que pode ter muito sono ao tomar uma determinada medicação que provoca sono, e tem gente que não vai sentir nada”.
Antidepressivos, anti-eméticos (Dramin), insulina, calmantes e tranqüilizantes, anti-parkissonianos, entre outros, provocam alterações e podem prejudicar os reflexos do condutor no trânsito. (Veja lista abaixo).
José Luiz disse que 80% dos acidentes são causados por falha humana. “O caminhoneiro trabalha exaurido, cansado e um cochilo na direção é suficiente para ocorrer um acidente”, disse José Luiz, ressaltando que o caminhoneiro trabalha muitas horas ao volante, inclusive dirigindo à noite. Evitar medicamentos que reduzem ainda mais os reflexos no trânsito diminuirá o risco de acidentes.
O Sindicam representa cerca de três mil caminhoneiros na Baixada Santista. O representante da categoria ressalta que a medida vai ajudar e muito, uma vez que alerta para o risco de sonolência e o condutor poderá optar por não comprar determinado medicamento ou tomá-lo antes de dirigir.
“O brasileiro tem o mau hábito de se automedicar, de tomar qualquer comprimido quando está com dor de cabeça. E com o aviso na caixa do medicamento, evitará que a pessoa tome se for dirigir”, afirmou o presidente do Sindicato dos Taxistas Autônomos de Santos, São Vicente, Guarujá, Praia Grande e Cubatão, Luiz Antonio Sares Guerra.
Guerra afirmou que o taxista trabalha, em média, 12 horas, ou durante o dia ou à noite. “São 12 horas enfrentando o estresse do trânsito caótico, o cansaço e o sono”. “O aviso na caixa do remédio vai colaborar muito porque o motorista vai saber que aquele determinado medicamento vai reduzir os reflexos dele, no trânsito”.
Resolução 267/2008 do Contran
Com base em estudos do Instituto do Sono da Unifesp, está em vigor desde 15 de fevereiro deste ano, a resolução 267, do Conselho Nacional de Trânsito (Contran).
A norma determina que motoristas que quiserem tirar ou renovar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) nas categorias ‘C’ (para dirigir caminhões), ‘D’ (ônibus) e ‘E’ (carretas), além da avaliação médica padrão, se submetam a exames para detecção de distúrbios do sono. Estima-se que três milhões de pessoas dirijam profissionalmente no País.
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