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Maria Amélia não conhecerá o pai. O seu nome foi escolhido há duas semanas, e ela nascerá dentro de quatro meses. Ela é filha do baixista e vocalista da banda A Banca, Luiz Carlos Leão Duarte Júnior, o Champignon, morto, aos 35 anos, na madrugada de ontem (9) na Capital e que será sepultado hoje (10), às 15 horas na Memorial Necrópole Ecumênica, em Santos.
Considerado um dos melhores baixistas da cena recente do pop/rock brasileiro, Champignon ganhou os holofotes há 20 anos, no Charlie Brown Júnior. Há seis meses, com a morte do vocalista Chorão, Champignon e outros remanescentes do CBJr montaram a nova banda, com o mesmo perfil da anterior. Ganhou prêmios, em reconhecimento à técnica com que usava o baixo. Mas também chegou a dividir o microfone com Chorão. Na A Banca, era o vocalista.
O choque da morte do artista se deu não somente pela precocidade, mas pela forma violenta: um tiro no rosto, após um jantar, em restaurante japonês, com a esposa Cláudia Campos e com amigos. O garoto humilde que amarrava a bicicleta em postes no início da carreira morreu em um apartamento de luxo no Morumbi.
Ontem, nos arredores da Memorial Necrópole Ecumênica, o espanto de amigos e músicos era com o fato dele guardar armas em casa. “Não combinava com a imagem dele. Achava que ele tinha um monte de contrabaixos em casa, e não armas”, comentou Pinguim, ex-baterista do Charlie Brown Júnior.
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A empresária de A Banca, Samantha Jesus, assegurava que ninguém poderia imaginar que ele guardava armamento em casa. “Uma era de brinquedo”, afirmou ela, cujo último contato com Champignon foi no sábado passado em sua casa.
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O que teria feito um artista, com agenda de shows marcada até dezembro – o próximo seria em Recife -, e prestes a assinar um contrato com uma das maiores gravadoras do País, a Som Livre, se matar com um tiro no rosto talvez nunca se saberá. Uma das hipóteses seria a pressão dos fãs ao músico, segundo a empresária.“Não dava para perceber nada, porque ele vivia alegre, doce e brincalhão”.
E foram os fãs a principal ausência no início do velório, ontem à noite. O grupo de admiradores era bem reduzido. Uma garota, aparentando 15 anos, chegou a desmaiar, mas se recuperou rápido e não precisou ser encaminhada para atendimento médico.
Uma pessoa próxima à banda, ouvida pela Reportagem, comentou que na A Banca ninguém o pressionava. “Pode ser que ele tenha sido vítima de uma pressão interna. A gente nunca sabe como uma pessoa suporta certas situações”.
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Champignon também não estaria sob o efeito de drogas. Samantha revelou que depois da tragédia com Chorão, vítima de overdose de cocaína, todos que estavam ao redor do baixista estavam bem distantes de qualquer tipo de entorpecente.
A empresária reconhece que, com o fim do CBJr, uma dificuldade financeira tomou conta dos remanescentes da banda devido à escassez de shows. “Os cachês diminuíram bastante. Atingiu a todos: a banda e aos técnicos”.
O pai de Champignon, Luiz Carlos Leão Duarte, chegou por volta das 20h30 ao cemitério e atendeu rapidamente a Imprensa. Ele afirmou que "todos temos problemas".
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‘Grande vazio’
Pinguim ressaltou que o amigo era muito querido por todos. “Ficará um grande vazio. Ainda estou em choque. Ele vinha fazendo um trabalho de recomeço com a banda”. O baterista soube da morte do amigo, ainda de madrugada, na saída de um show no Centro de Santos. “Primeiro, veio uma agitação; depois a confirmação da morte. É difícil de entender”.
“Estamos tentando...”, assim, interrompendo Champignon, começou o último contato entre ele e um velho amigo, o professor e biólogo Fábio Alexandre Nunes, o Fabião. “Tentando nada. Tira isso da boca. Você está fazendo já. Daqui a pouco, vai estar no palco”, retrucou o professor. A conversa entre ambos ocorreu no último dia 23, no backstage, antes do show de A Banca, na Fantastic, em São Vicente.
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Fabião conheceu o então “Cabeça de Cougumelo” quando o garoto, ainda franzino pelos 14 anos, começava a dar os primeiros acordes no Mr. Green, banda muito conhecida na então cena roqueira de Santos. “Ele virou Champignon depois”.
Classificando como “inegável” a contribuição do baixista para o cenário artístico do País, Fabião esteve no show do Revolucionários, outra banda de Champignon, em Santo André, e se recorda de um dos primeiros shows dele, em uma sala no Parque Balneário Hotel, há 21 anos.
Fabião avalia que parte do crescimento do baixista como artista se deve ao produtor Rick Bonadio. “Deu uma lapidada neles legal”. Ele não acredita que o amigo estivesse em depressão porque estava cheio de projetos. Um deles era criar uma escola de música. “Não dá para acreditar. Ainda sinto o abraço dele”.
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