Cotidiano

Sem opção de lazer, crianças se equilibram entre vagões em Santos

Situação foi flagrada pelo Diário do Litoral na última quarta-feira (19), às 16 horas, atrás do prédio da Alfândega, no Centro

Carlos Ratton

Publicado em 23/03/2014 às 22:40

Compartilhe:

Compartilhe no WhatsApp Compartilhe no Facebook Compartilhe no Twitter Compartilhe por E-mail

Continua depois da publicidade

O que há de comum entre as cidades de Soweto (contígua à Joanesburgo), na África do Sul, e Santos, no Brasil? As imagens captadas pelo repórter-fotográfico Matheus Tagé, na última quarta-feira (19), às 16 horas, respondem: os surfistas de trem.

Em Soweto não há praia para que crianças pobres possam surfar. Em Santos sim. Porém, crianças pobres do Centro, sem dinheiro e opção de lazer, vêm surfando nos trens em alta velocidade, na linha férrea entre o Porto e a Avenida Perimetral.

Elas acessam os trens por várias entradas, mas a maior concentração, conforme flagrado pelo Diário do Litoral, fica no trecho atrás do prédio da Alfândega, próximo ao terminal das barcas que levam ao Distrito de Vicente de Carvalho, em Guarujá.

Este passatempo para lá de arriscado já custou muitas vidas ao longo dos anos no Brasil e na África do Sul, considerado o país de origem do surf de trem. Há relatos de pessoas que executam acrobacias em cima de comboios em movimento que datam do início de 1980.

Nos trilhos de Santos, não se tem notícias recentes de que crianças perderam a vida. No entanto, se as autoridades responsáveis por crianças e adolescentes não iniciarem um trabalho rápido e eficiente de conscientização, em conjunto com iniciativas que proporcionem entretenimento às crianças e mais segurança à linha férrea, o Município poderá começar a apresentar índices ainda inexistentes de mortes e amputados após acidentes nos vagões.

Faça parte do grupo do Diário no WhatsApp e Telegram.
Mantenha-se bem informado.

Crianças e adolescentes arriscam suas vidas na zona portuária (Foto: Matheus Tagé/DL)

Falta de entretenimento

É muito comum moleque gostar de brincadeiras arriscadas. Mas elas acontecem, geralmente, quando a criança não tem opção de lazer e utiliza espaços inadequados para fugir do ócio. Ano passado, essa questão foi abordada pelo Diário do Litoral, por intermédio de Geovani Marques, conhecido como Mano Falcon.

Vigilante de profissão e morador do Centro da Cidade, Falcon é envolvido nas questões sociais do Paquetá e Vila Nova. Na época, ele já revelava a falta opção de lazer, alertando que as crianças só tinham uma alternativa: jogar futebol, aos domingos, no Colégio Santista — um favor da direção da instituição.

Mano Falcon dizia que os bairros são os únicos de Santos que não são contemplados com projetos esportivos, culturais, educacionais e comunitários. “Parece que, no Centro, não existem moradores. A área central virou depósito de mendigos e usuários de crack. Ao invés de quadras esportivas e equipamentos de lazer, querem montar bases policiais na rampa das catraias, ao lado do Mercado Municipal. Falta ao Centro à atenção que nunca teve”, dizia.

A falta de opção dos meninos e meninas do Centro foi facilmente constatada neste último verão, também através das lentes do repórter Matheus Tagé, que registrou menores se banhando na fonte da Praça da República, também em frente a Alfândega, correndo riscos de choques elétricos, entre outros.

Um exemplo ruim que correu o Mundo

Pode-se dizer que o surf de trem em Soweto foi um mau exemplo ao Mundo. O ‘hobby’ dos meninos sem opção de lazer espalhou-se, com destaque para o Brasil, Alemanha e, lógico, Rússia, mas Joanesburgo continua a ser único com variedade de estilos.

A forma mais comum e menos perigosa de surfar um trem envolve subir em cima de um vagão, descer quando ele começa a se mover e subir novamente enquanto estiver em movimento.

Tem o surf lateral, com candidatos a dublês que correm ao lado do trem na plataforma de passageiros enquanto seus amigos mantém a porta aberta, ou então que ficam dependurados para fora da porta se balançando.

Mas o mais letal de todos é surfar em cima do trem ao tentar desviar de cabos de energia e pontes. Todos os diferentes movimentos têm nomes como Matrix, 2020, Gravul ou Svandals.

Crescer no gueto de Soweto, sem nenhuma chance de conseguir uma educação adequada e empregos decentes, os jovens pilotos de trem veêm o surf como uma maneira fácil de obter notoriedade entre os seus pares.

Muitos deles sabem que estão brincando com suas próprias vidas cada vez que realizam suas acrobacias radicais, mas é um risco que vale a pena para ganhar a atenção que anseiam.

Outros acreditam que os surfistas de trem veêm à morte uma forma de fugir de seus problemas diários, então, encorajado pelo álcool e drogas, saltam em cima dos trens, sem pensar duas vezes com uma alta probabilidade de perder suas vidas. Muitos deles caem ou são eletrocutados, mas há sempre novos aventureiros para tomar o seu lugar. (Fonte: Metamorfose Digital – www.mdig.com.br)

Continua depois da publicidade

Continua depois da publicidade

Mais lidas

Conteúdos Recomendados

©2024 Diário do Litoral. Todos os Direitos Reservados.

Software