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Vergonha. Essa foi uma das palavras mais ouvidas no Centro de São Vicente ontem (11). No segundo dia de greve dos trabalhadores da Companhia de Desenvolvimento de São Vicente (Codesavi), o que se viu foram as calçadas da região central repletas de lixo. As poucas cestas presas aos postes já não davam conta de armazenar os materiais. Na Praça Barão do Rio Branco, os pombos faziam a festa em meio aos resíduos. O cheiro de urina proveniente da estadia de moradores de rua, que pernoitam no local, era forte.
“Moro na Cidade desde 1959 e nunca vi São Vicente assim. Essa praça era o nosso xodó. Agora tenho vergonha. Vive cheia de ratos e moradores de rua. As famílias já não podem mais ficar aqui durante a noite. Não tenho mais esperança de que a situação melhore. Ele (o prefeito) fala que deixaram um rombo e não tem o que fazer”, disse Paulo Teixeira Pieroni, morador do Centro. Enquanto conversava com a Reportagem, seus olhos encheram-se de lágrimas.
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No outro lado da rua, na mesma direção da banca de jornais localizada na Praça Barão, um comerciante decidiu improvisar um cesto de lixo. Colocou uma caixa de papelão no meio da guia de passeio para chamar a atenção dos pedestres. “Foi meu pai que colocou hoje para que as pessoas joguem o lixo. Já faz um tempo que as lixeiras estão quebradas. O pessoal também não se importa, joga o lixo no chão. A situação de São Vicente está cada vez pior. É uma vergonha”, disse a comerciante Fabiana Morais dos Santos.
Próximo da cesta de lixo de papelão, o entregador de panfletos Leonardo Oliveira dos Santos, de 18 anos, também lamentou o cenário. “Está assim desde ontem. Muitas pessoas estão reclamando e falando que a Cidade está abandonada. Não só o Centro, mas os bairros também. Espero que o prefeito tome uma atitude”, disse o morador do México 70.
A aposentada Elvira Cabral, de 69 anos, criticou a Administração Municipal, mas também fez uma ressalva sobre o comportamento dos moradores. “São Vicente prima pela imundície. Nos bairros está pior. Sempre foi assim. A população não tem cuidado e joga na rua mesmo. O prefeito tem obrigação de fazer, e eu não votei nele, mas a população deve colaborar”, afirmou a moradora do Gonzaguinha.
A Reportagem também verificou o descarte de entulho e resíduos em diversos pontos da Cidade. Em um deles, na Rua Ipiranga, no Centro, o material tomava conta da calçada e impedia a passagem de pedestres.
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Greve
Os trabalhadores da Codesavi decretaram greve por tempo indeterminado na última terça-feira (10). Ontem (11), os salários e o vale-transporte dos funcionários do setor operacional foram pagos. A expectativa da companhia é resolver o impasse do tíquete alimentação e do plano de saúde nos próximos dias. Ainda assim, o término da greve é incerto.
Hoje (12), está prevista a realização de uma nova assembleia. Ontem, no final da tarde, o presidente da Codesavi esteve reunido com representantes da categoria na Prefeitura.
A greve dos trabalhadores da Codesavi prejudica os serviços de limpeza de ruas e praças, coleta de entulho, reparo asfáltico e manutenção de prédios municipais.
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Briga e cheiro de urina na Praça Barão
“Quando cheguei pela manhã havia quatro barraquinhas de moradores de rua. O cheiro de urina é muito forte”. O morador da Gleba II, Messias Santos, chamou a atenção sobre o aumento do número de pessoas em situação de rua na região central. Após conversar com ele, na Rua Martim Afonso, a Reportagem flagrou a ação da Guarda Municipal na Praça Barão do Rio Branco. A ocorrência: briga entre dois moradores de rua.
Os guardas municipais foram acionados pela população. Um dos moradores de rua, já conhecido dos agentes, teria provocado o colega e os dois trocaram agressões físicas. Eles foram conduzidos para a delegacia. No entanto, um deles, que seguiria na viatura, teve que aguardar. O veículo apresentou problemas e não saiu do lugar. Foi preciso chamar o apoio de outra equipe.
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Os agentes disseram que houve um aumento de moradores de rua na região central. Muitos não são da Cidade. Durante boa parte do dia, os guardas municipais são acionados para apartar briga da população de rua ou retirá-los do interior de estabelecimentos comerciais. Em maio, o Diário do Litoral relatou o conflito da população de rua e de comerciantes do entorno do restaurante Bom Prato, na Rua Ipiranga.
Segundo a Prefeitura Municipal, a Secretaria de Assistência Social (Seas), por meio do Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua – Centro-POP, atende, em média, por dia, 25 pessoas, que ocupam as ruas como espaço de moradia. De acordo com a Administração Municipal, na maioria das situações, essas pessoas são abordadas na rua pela equipe de Abordagem Social, que realiza a primeira acolhida encaminhando-os, posteriormente, ao serviço para atendimento técnico que será realizado por assistentes sociais e psicólogos.
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População encontra consultórios fechados no Hospital Municipal
Um banco colocado na porta de entrada dificultava a passagem do público. A sala de recepção, sempre lotada, estava vazia na tarde de ontem (11). Quem chegava para tentar uma consulta médica logo era informado que apenas casos de emergência e urgência seriam atendidos. “Caso de risco de morte. Facada, tiro, infarto, acidente”, disse uma das atendentes. O Diário do Litoral encontrou os consultórios fechados. No Hospital Municipal, o antigo Crei, médicos apenas na ala de emergência.
“Vou para Santos. Estou com muita dor”, disse uma mulher que chegou na unidade em busca de atendimento odontológico de emergência. Outra senhora, com feridas nos pés, também foi obrigada a voltar para trás. “Fui na semana passada no postinho, mas eles não estavam atendendo. É muito triste precisar de atendimento médico e não ter.
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Um servidor público, que preferiu não se identificar, disse que a situação é muito ruim. “Ele (prefeito) está sem pagar horas extras. Não é só o problema com o salário também falta material. É muito difícil trabalhar nessas condições”.
Greve
A greve dos servidores públicos municipais, que vinha afetando o atendimento no Hospital Municipal terminou na última terça-feira (10). No entanto, os médicos da unidade decretaram estado de greve devido ao não pagamento da produtividade. Segundo o Sindicato dos Médicos, os profissionais decidiram manter a operação-padrão de atendimento. Somente casos de urgência e emergência serão atendidos.
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A entidade afirmou que todo o efetivo cumpre à risca o que determina a lei, mas não foi isso que a Reportagem encontrou ao ver os consultórios fechados. Segundo apurado pelo DL, apenas dois médicos atendiam na tarde de ontem os casos considerados urgentes.
A Prefeitura de São Vicente informou que aguarda a reunião entre a comissão de médicos, o sindicato e a Prefeitura.
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Enquanto isso, o Hospital Municipal permanece com os atendimentos de urgência e emergência, e os médicos, em estado de greve. A Secretaria da Saúde disse que mantém o percentual de 30% nos serviços e atividades essenciais, conforme estabelecido na Lei de Greve.
Assembleia
Em nota, o Sindicato dos Médicos (Sindmed) disse que na assembleia realizada na última terça-feira (10) foi decidido que uma comissão de médicos que vai acompanhar, junto com a diretoria do sindicato, cada passo das futuras negociações. De acordo com a entidade, a categoria também aguarda resposta da Justiça a respeito das verbas rescisórias “carimbadas” e direcionadas para a saúde que chegam, mas não são aplicadas no setor.
“Os critérios de pagamento estão desencontrados e os médicos precisam saber sua real situação, ou seja, datas de pagamento e como os descontos são processados. Isso ainda não ficou esclarecido, apesar de nossa insistência. Diante da confusão a respeito do pagamento da produtividade, alguns colegas têm recebido holerite zerado. Verdadeiro absurdo”, disse Álvaro Valentim, presidente do Sindmed.