Cotidiano

Santos 479 anos: Que santista é você? Vicente, Plínio ou Chorão?

A Cidade mais verticalizada do País, segundo o IBGE, convive com paradoxos

Nilson Regalado

Publicado em 26/01/2025 às 06:40

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A linda orla de Santos e a maior favela em palafitas do Brasil / Divulgação/PMS e Rodrigo Montaldi/DL

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Eternizado em bronze nos jardins da Praia do Boqueirão, Vicente de Carvalho dizia que "na beirada das ondas" a alma dele "abriu-se para a vida como se abre a flor da murta para o sol do estio". Naqueles dias, comerciantes de café erguiam palacetes à beira-mar e empresários com interesses "subterrâneos" se organizavam para privatizar a "linda praia da Barra", descrita pelo jornalista como uma "joia doada pela natureza".

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Mas, o então presidente da República, Epitácio Pessoa, se encantou pelos versos do "poeta do mar". E entregou aos santistas a faixa de areia que, décadas depois, se tornaria um mosaico de palmeiras e flores no maior jardim à beira-mar do Planeta.

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Cento e três anos depois, a praia continua linda. E cobiçada! Tanto que o metro quadrado de área construída em Santos foi o que mais se valorizou no Estado em 2024, com alta de 13,5%.

Mas, a Cidade mais verticalizada do País, segundo o IBGE, convive com paradoxos...

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Na orla, como nos tempos do 'poeta do mar', Santos é "uma alma sobre a qual o céu resplande".

Passada a linha do trem, Santos se esgueira por outros caminhos, longe dos cartões postais, e sob as bênçãos de José Bonifácio, Anna Bemvinda, Quintino de Lacerda e Patrícia Galvão. Mas, "ambas se irmanam por analogias", como dizia outro poeta santista, Martins Fontes.

E a Santos dos muitos cenários se equilibra entre a rica arquitetura do Centro Histórico, as íngremes encostas do São Bento, as casas arborizadas do Rádio Clube e os trapiches sobre o mangue, na maior favela em palafitas do Brasil.

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Enquanto chalés de madeira erguidos com o talento de imigrantes portugueses e espanhóis são riscados do mapa, torres de alto luxo com suas varandas e áreas gourmet avançam sobre os tradicionais prédios de três andares, segregando castas diferentes até em bairros operários.

Nesse contexto, insubmisso o santista testemunha a decadência (irreversível?) de artérias como a João Pessoa, a Amador Bueno e a General Câmara. Tudo sob o olhar incrédulo da Nossa Senhora do Monte Serrat...

Estimativas da Rede BR Cidades, que reúne engenheiros, arquitetos, urbanistas e advogados, apontam que há 30 mil famílias sem um teto adequado na Cidade.

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Enquanto isso, o arquiteto santista André Fernandes Gonçalves contabiliza 150 mil metros quadrados de área construída ociosos e desmoronando na área onde Brás Cubas fundou a vila que adormecia mercê do ataque de piratas e corsários.

E nos cortiços por onde o Querô de Plínio Marcos transitava "nenhum tesouro está seguro em seus cofres quando um pai escuta o filho chorando de fome".

E o mar avança! E os homens de terno buscam soluções milionárias para evitar que as ressacas engulam o Marco Padrão, na Ponta da Praia, onde Martim Afonso tocou o solo da ilha pela primeira vez, nos idos de 1532.

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Seculares, os canais de Saturnino de Brito ainda são a nossa redenção!

E nossa referência!

Mas, não há mais o Edson Pelé para embalar sonhos geniais de grandeza...

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A esperança é a volta do 'menino' Ney!

E a extrema direita prospera na "Cidade Vermelha".

Santos, Miami, Dubai, Mônaco... Porto Príncipe, Cité Soleil, Trenchtown!

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E Santos avança para os 500 anos de fundação com a 'Navalha na Carne', talvez consciente de que "o passado é um exemplo o futuro, uma esperança, e o presente é um puta pé no saco!", como dizia Plínio, o "repórter indigesto" que "dava voz a quem não era ouvido".

Embora as novas gerações saibam que "pra quem tem pensamento forte, o impossível e só questão de opinião" e sigam "livres pra poder sorrir", dispostas a "te reencontrar (Santos) numa bem melhor"...

Que nos seus 479 anos, Santos continue sendo motivo de orgulho para seus filhos e filhas, mesmo os 'do coração', como o Alexandre Chorão.

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E que possamos olhar para a Cidade "com os olhos de criança que só quer brincar"...

Mantendo sempre vivo dentro de nós o talento para improvisar e sorrir, como fazia o outro Ney, o 'Barbosa' Latorraca.

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