A linda orla de Santos e a maior favela em palafitas do Brasil / Divulgação/PMS e Rodrigo Montaldi/DL
Continua depois da publicidade
Eternizado em bronze nos jardins da Praia do Boqueirão, Vicente de Carvalho dizia que "na beirada das ondas" a alma dele "abriu-se para a vida como se abre a flor da murta para o sol do estio". Naqueles dias, comerciantes de café erguiam palacetes à beira-mar e empresários com interesses "subterrâneos" se organizavam para privatizar a "linda praia da Barra", descrita pelo jornalista como uma "joia doada pela natureza".
Mas, o então presidente da República, Epitácio Pessoa, se encantou pelos versos do "poeta do mar". E entregou aos santistas a faixa de areia que, décadas depois, se tornaria um mosaico de palmeiras e flores no maior jardim à beira-mar do Planeta.
Continua depois da publicidade
Cento e três anos depois, a praia continua linda. E cobiçada! Tanto que o metro quadrado de área construída em Santos foi o que mais se valorizou no Estado em 2024, com alta de 13,5%.
Mas, a Cidade mais verticalizada do País, segundo o IBGE, convive com paradoxos...
Continua depois da publicidade
Na orla, como nos tempos do 'poeta do mar', Santos é "uma alma sobre a qual o céu resplande".
Passada a linha do trem, Santos se esgueira por outros caminhos, longe dos cartões postais, e sob as bênçãos de José Bonifácio, Anna Bemvinda, Quintino de Lacerda e Patrícia Galvão. Mas, "ambas se irmanam por analogias", como dizia outro poeta santista, Martins Fontes.
E a Santos dos muitos cenários se equilibra entre a rica arquitetura do Centro Histórico, as íngremes encostas do São Bento, as casas arborizadas do Rádio Clube e os trapiches sobre o mangue, na maior favela em palafitas do Brasil.
Continua depois da publicidade
Enquanto chalés de madeira erguidos com o talento de imigrantes portugueses e espanhóis são riscados do mapa, torres de alto luxo com suas varandas e áreas gourmet avançam sobre os tradicionais prédios de três andares, segregando castas diferentes até em bairros operários.
Nesse contexto, insubmisso o santista testemunha a decadência (irreversível?) de artérias como a João Pessoa, a Amador Bueno e a General Câmara. Tudo sob o olhar incrédulo da Nossa Senhora do Monte Serrat...
Estimativas da Rede BR Cidades, que reúne engenheiros, arquitetos, urbanistas e advogados, apontam que há 30 mil famílias sem um teto adequado na Cidade.
Continua depois da publicidade
Enquanto isso, o arquiteto santista André Fernandes Gonçalves contabiliza 150 mil metros quadrados de área construída ociosos e desmoronando na área onde Brás Cubas fundou a vila que adormecia mercê do ataque de piratas e corsários.
E nos cortiços por onde o Querô de Plínio Marcos transitava "nenhum tesouro está seguro em seus cofres quando um pai escuta o filho chorando de fome".
E o mar avança! E os homens de terno buscam soluções milionárias para evitar que as ressacas engulam o Marco Padrão, na Ponta da Praia, onde Martim Afonso tocou o solo da ilha pela primeira vez, nos idos de 1532.
Continua depois da publicidade
Seculares, os canais de Saturnino de Brito ainda são a nossa redenção!
E nossa referência!
Mas, não há mais o Edson Pelé para embalar sonhos geniais de grandeza...
Continua depois da publicidade
A esperança é a volta do 'menino' Ney!
E a extrema direita prospera na "Cidade Vermelha".
Santos, Miami, Dubai, Mônaco... Porto Príncipe, Cité Soleil, Trenchtown!
Continua depois da publicidade
E Santos avança para os 500 anos de fundação com a 'Navalha na Carne', talvez consciente de que "o passado é um exemplo o futuro, uma esperança, e o presente é um puta pé no saco!", como dizia Plínio, o "repórter indigesto" que "dava voz a quem não era ouvido".
Embora as novas gerações saibam que "pra quem tem pensamento forte, o impossível e só questão de opinião" e sigam "livres pra poder sorrir", dispostas a "te reencontrar (Santos) numa bem melhor"...
Que nos seus 479 anos, Santos continue sendo motivo de orgulho para seus filhos e filhas, mesmo os 'do coração', como o Alexandre Chorão.
Continua depois da publicidade
E que possamos olhar para a Cidade "com os olhos de criança que só quer brincar"...
Mantendo sempre vivo dentro de nós o talento para improvisar e sorrir, como fazia o outro Ney, o 'Barbosa' Latorraca.