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Na pequena cidade de Wollerau, vivem alguns dos maiores milionários da Suíça, como o tenista Roger Federer e donos de bancos globais. O motivo não é a vista privilegiada sobre os Alpes, mas o fato de que a região é uma espécie de paraíso fiscal dentro do país, com os menores impostos para grandes fortunas em toda a Europa.
Mas um dos terrenos mais nobres tem outro dono: Jérôme Valcke, o secretário-geral da Fifa e que, durante a preparação do Brasil para a Copa do Mundo, sugeriu que o País levasse um "chute no traseiro".
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Apenas o terreno de 1,4 mil metros quadrados está avaliado em R$ 15 milhões, cerca de 4,3 milhões de francos suíços pelos valores de mercado praticados na região. Já a mansão com 451 metros quadrados e piscina é hoje modelo para revistas e sites especializados em arquitetura.
O Estado de S. Paulo obteve com exclusividade documentos oficiais das autoridades que comprovam que a propriedade de luxo e que fica a 20 minutos de carro da sede da Fifa foi adquirida pelo francês. A compra ocorreu um dia antes do natal de 2011 justamente na cidade com apenas 7 mil habitantes, mas com a maior renda per capta da Suíça, graças a sua política de atrair grandes fortunas.
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Procurada pela reportagem, a Fifa se limitou a dizer que "não comenta assuntos privados de seus empregados". Mas o que a compra e as fotos revelam é apenas uma parcela de um segredo guardado a sete chaves na Fifa: o salário de seus cartolas, responsáveis por zelar pelo desenvolvimento do futebol pelo mundo.
Nesta semana, em Zurique, a Fifa realiza suas eleições e Joseph Blatter deve ser escolhido para um quinto mandato consecutivo. Ele não se deu ao trabalho de apresentar um projeto para os próximos quatro anos e nem de participar de debates públicos. Blatter também se recusou a atender a uma pressão internacional para revelar seu salário, apesar de o Comitê Olímpico Internacional (COI) ter optado pela transparência em 2015 pela primeira vez em sua história.
No caso de Blatter, bastou prometer a cada federação nacional e cartolas a distribuição de muito dinheiro, nem sempre para o bem do futebol. Os documentos oficiais da entidade indicam que os dirigentes receberam um total de US$ 110 milhões em salários e bônus em 2014, mais de R$ 300 milhões.
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No informe financeiro, porém, não especifica quanto foi destinado ao presidente Joseph Blatter ou ao secretário-geral da entidade, Jérôme Valcke, encarregado por anos de vender contratos comerciais com patrocinadores. Mas em menos de dez anos, os salários na Fifa mais que dobraram e coincidem com os lucros recordes que a entidade teve na Copa do Mundo no Brasil. Em 2008, por exemplo, eles eram de cerca de US$ 52 milhões.
Os números contrastam com o dinheiro que a Fifa deu ao Brasil, sede da Copa e onde não se cobrou impostos da entidade. A federação criou um fundo para ajudar o futebol nacional e enviará ao longo dos próximos anos um total de US$ 100 milhões.
A contribuição foi destacada por Blatter e Valcke como uma prova de que parte da renda da Copa do Mundo voltaria ao Brasil. Em novembro de 2014, o secretário-geral indicou que o fundo criado para o Brasil seria "uma excelente plataforma para distribuir os benefícios de uma Copa inesquecível".
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O que o francês que circula como uma Ferrari não revelou é que os maiores beneficiados dessa explosão na renda da Copa seriam eles mesmos, com maiores salários e mais funcionários.
Mas não é apenas a cúpula da Fifa que recebe o dinheiro. A Federação das Ilhas Cayman, por exemplo, tem recebido um total de mais de US$ 2 milhões para erguer sua sede e construir campos. A cada desastre internacional, a Fifa se apressa em mandar dinheiro, sempre para o dirigente local.
Um caso polêmico foi o do Haiti. Se a Fifa enviou para o país cerca de US$ 250 mil para ajudar o esporte no país depois do terremoto de 2010, a federação de Porto Príncipe alega que apenas US$ 10 mil chegaram até seus cofres. As investigações sobre o que ocorreu com o dinheiro continuam.
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Esbanjando
A realidade é que a expansão das Copas deixou a Fifa em uma situação inédita. Depois do Mundial de 2014, a entidade obteve uma renda recorde de US$ 5 bilhões e a possibilidade de distribuir esse dinheiro de forma conveniente aos aliados.
No Congresso que ocorre nesta semana, esse luxo será uma vez mais escancarado. Apenas nos eventos similares que ocorreram entre 2011 e 2014, a entidade destinou mais de US$ 232 milhões em reuniões nas quais as cartas já estão marcadas.
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Se muitos chegam em jatos privados, as limusines pretas que circulam por Zurique não transportam apenas os cartolas, mas também as esposas de cada um deles a programas separados. No total, a Fifa ainda vai distribuir R$ 2 milhões em dinheiro vivo aos dirigentes para que gastem sem qualquer constrangimento e com apenas uma garantia: a de que os donos da bola nunca estiveram tão ricos como hoje.
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