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“Substantivo feminino. Área frequentada por drogados especialmente em crack”. Essa é a definição do Houaiss para o verbete “cracolândia”. A se considerar a classificação de um dos mais importantes dicionários da Língua Portuguesa, há um hiato entre o Poder Público e a realidade de Santos e São Vicente, quando se trata nos locais de consumo de uma das mais poderosas drogas.
O descompasso entre as versões das administrações municipais e a realidade das ruas está nas respostas enviadas à Redação: “Santos não possui cracolândia”, atesta a Secretaria de Comunicação e Resultados (Secor) da Prefeitura de Santos. Já São Vicente afirma realizar um mapeamento das concentrações de moradores de rua e das cracolândias. “Porém, trata-se de uma população flutuante, que migra com muita frequência dentro e fora do território do Município”.
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O Diário do Litoral percorreu, de segunda a quinta-feira, alguns das conhecidas áreas de uso de crack, nas duas cidades. A primeira constatação chega até ser positiva: algumas cracolândias sumiram – como a de uma rua no Jardim Rádio Clube, na Zona Noroeste, e ao lado da Gruta Nossa Senhora de Lourdes, no José Menino. Essa última foi “desativada” em função da movimentação das obras do sistema de Veículos Leves sobre Trens (VLT). A Estação Nossa Senhora de Lourdes – em fase de finalização – fica junto ao antigo local de consumo de crack.
A segunda constatação é negativa. Embora as prefeituras tentem minimizar o problema, especialmente com a adesão ao programa do Governo Federal “Crack é possível vencer”, o placar ainda é desfavorável para o Poder Público.
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O ponto de uso de crack mais usado em Santos fica no Elevado Aristides Bastos Machado, ao lado do Túnel Rubens Ferreira Martins, no Centro, a Reportagem viu três grupos reunindo onze pessoas no total, sendo quatro mulheres, no começo da tarde da última segunda-feira. Uma delas, de idade aproximada de 30 anos para quem a vê de longe, aparenta estar grávida.
Em um dos cantos do elevado, em um desses três grupos dá para ver claramente no registro feito por Luiz Torres um dos homens usando o cachimbo da droga. A viatura do Diário do Litoral passa a uma velocidade baixa, chamando a atenção deles. Há sempre um atento, evitando aproximação ou abordagem.
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A presença de carretas de caminhões em vários pontos do Município também permite o surgimento, e posterior desaparecimento, de pequenas cracolândias. Atrás das estruturas desses veículos, com a ajuda de panos e lençóis velhos, usuários encontram o isolamento ideal para o consumo do entorpecente.
Um desses pontos “ativos” fica na Rua Antonio Maia, no Macuco. A via é uma transversal da Avenida Mário Covas (ex-Avenida Portuária) e conta como “facilitador” o fato de ser um pouco escura, mesmo de dia, em função da sombra de grandes árvores. Na segunda e na terça-feira, o Diário do Litoral constatou a presença de pessoas escondidas atrás de carretas, mas não foi possível dar um “flagrante” do consumo da droga. Isso porque, ao verem o carro da Reportagem, membros do grupo se mostraram incomodados.
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Outro ponto retratado em reportagens do Diário do Litoral ficava no Jardim Rádio Clube, na Zona Noroeste. Pelo menos três vezes, o Diário do Litoral constatou a presença de usuários na mesma rua, no ano passado. Durante a última semana, a Reportagem retornou ao local e encontrou apenas lixo. E ninguém usando qualquer droga.
São Vicente
O Centro de São Vicente também conta com seu ponto de uso de crack, consumido, segundo comerciantes, por quem dorme no local. O ponto é na Rua Martim Afonso, em frente ao antigo prédio do INSS. De dia, com o comércio aberto, é difícil constatar o consumo. À noite, sem movimento, o cenário muda. “Já tive até de brigar com um usuário para tirar ele de frente da minha loja, porque ele estava causando confusão”, conta um comerciante.
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Às margens da Rodovia dos Imigrantes também se formam rodas para o compartilhamento de cachimbos de crack. Especialmente em duas áreas quase na divisa com Praia Grande.
O ponto de maior concentração fica na Imigrantes, debaixo da Avenida Nações Unidas, no Parque Bitaru.
Número de encaminhamentos em Santos subiu este ano
A Prefeitura de Santos aderiu ao Programa “Crack, é possível vencer” em março de 2013. E, no ano passado, a Cidade encaminhou 70 usuários para comunidades de recuperação, situadas em Itanhaém, Peruíbe e Guarujá. Até esta semana, o número de encaminhamentos deste ano chegou a 79.
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A Secor informou que está prestes a divulgar o atual número de dependentes de crack e, embora entenda que não há cracolândia no Município, diz que a equipe de consultório de rua atua semanalmente nos “locais onde há cena de uso de drogas” com esses usuários, “visando a formação de vínculos e a redução de danos, ofertando cuidados de saúde e tratamento”.
Ao aderir ao “Crack, é possível vencer”, Santos ampliou de um para três o número de consultórios nas ruas, a transformação do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) de nível II para nível III (e em regime de 24 horas), a implantação do Caps III na Zona Noroeste, implantação de duas unidades de Acolhimento Transitório Adulto e de uma Unidade de Acolhimento Transitório Infanto Juvenil, implantação de 20 leitos de desintoxicação em hospital geral, implantação de Caps Infanto Juvenil e ampliação de 30 para 60 vagas nas comunidades terapêuticas.
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A Prefeitura informa que está em fase de mobiliar e estruturar internamente o prédio Caps da Zona Noroeste e também está compondo a equipe para trabalhar no local.
Só em junho
A Prefeitura de São Vicente só aderiu ao Programa “Crack, é possível vencer” no dia 23 de junho deste ano. Em função disso, as verbas para as ações só devem chegar a São Vicente quando for feita a implantação do cadastro dos serviços junto ao Ministério da Saúde.
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Segundo a Assessoria de Comunicação, “a proposta do Município prevê a ampliação da Rede de Atenção Psicossocial com a implantação de vários serviços até o fim de 2015”.
São Vicente contabiliza 480 moradores de rua e, segundo a Prefeitura, “80% são usuários de substâncias psicoativas”.
A Prefeitura pretende, “após a implantação dos serviços na proposta do município”, criar 60 vagas para internação em comunidades terapêuticas, sendo 30 para adultos (15 homens e 15 mulheres) e 30 para menores de idade (15 rapazes e 15 moças)