Cotidiano

Rodovia ignorada completa 51 anos e projeto continua parado no Governo do Estado

A Parelheiros-Itanhaém permitiria ligação da Capital com o Litoral Sul em apenas 30 minutos e desafogaria Sistema Anchieta-Imigrantes

Nilson Regalado

Publicado em 23/02/2025 às 07:00

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A Parelheiros-Itanhaém ligaria SP ao litoral em apenas 30 minutos / Rubens Chaves/Folhapress

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O Governo do Estado não avançou sequer um metro na concretização da SP-040. Em julho de 2024, o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) revelou com exclusividade ao Diário do Litoral que retomaria os estudos de viabilidade da rodovia, conhecida como Parelheiros-Itanhaém. Na ocasião, o DER, afirmou que sua Diretoria de Engenharia faria uma atualização das informações contidas na planta elaborada pelo próprio DER em 2015.

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Porém, passados sete meses, na semana passada o órgão limitou-se a dizer que “o Governo de São Paulo, por meio da Secretaria de Parcerias em Investimentos, está constantemente avaliando alternativas para aprimorar a mobilidade no estado, como no acesso ao litoral”.

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A estrada teria apenas 15 quilômetros e permitiria a ligação da Capital com o Litoral Sul em 30 minutos. O projeto da SP-040 começou a ser “estudado” há 51 anos, foi aprovado pela Assembleia Legislativa há 35 anos e já teve até empreiteira interessada em assumir a obra, mas nunca saiu do papel.

“Sobre a Estrada Parelheiros-Itanhaém (SP 040), os estudos conduzidos anteriormente pelo DER foram recebidos pela SPI e seguem em análise”, resumiu, em nota, a Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Parcerias em Investimentos (SPI).

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A Parelheiros-Itanhaém ligaria a praia ao extremo sul da Capital Paulista e ajudaria a desafogar o Sistema Anchieta-Imigrantes, beneficiando os motoristas que se dirigem a Santos, São Vicente, Guarujá, Cubatão e Bertioga.

Ela atenderia não só os moradores de Itanhaém como também reduziria pela metade o tempo de viagem de São Paulo a Mongaguá, Peruíbe e Praia Grande nos dias de semana.

“O acesso entre a Baixada Santista e o Planalto é um dos maiores gargalos da nossa Região Metropolitana”, salientou o prefeito de Itanhaém, Tiago Rodrigo Cervantes (Republicanos) em entrevista ao Diário no ano passado.

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“A implementação da Rodovia Parelheiros-Itanhaém beneficiaria significativamente Itanhaém e toda a região, melhorando não apenas a logística, mas também a mobilidade, a segurança dos motoristas e reduzindo o tempo de viagem”, completou o prefeito.

Desenvolvimento econômico

“Esse avanço (a rodovia) fortaleceria o turismo e impulsionaria nossa economia”, projetou Cervantes, de olho no eventual surto de desenvolvimento a partir da ligação direta com a região que mais cresce na Capital e que concentra 40% do território de São Paulo.

Além do Litoral Sul, a estrada levaria desenvolvimento econômico a cidades do Vale do Ribeira, como Itariri e Pedro de Toledo. Os moradores dos dois municípios precisam se deslocar pela Rodovia Padre Manoel da Nóbrega até a Rodovia Régis Bittencourt (BR-116) para chegar ao Planalto.

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Assim, são obrigados a rodar até 170 quilômetros para acessar a Capital do Estado, distância que cairia pela metade com a Parelheiros-Itanhaém. A outra alternativa para os moradores das duas cidades é o sobrecarregado Sistema Anchieta-Imigrantes.

E essa distância aumenta os custos para escoamento dos produtos agrícolas oriundos desses municípios para a Ceagesp, a maior central atacadista de alimento in natura da América do Sul.

Mas, o documento enviado pela Assessoria de Imprensa do DER ao Diário do Litoral cita que “no momento, o foco está em projetos estruturantes, como a terceira faixa da Rodovia dos Imigrantes, que deve contribuir para a fluidez do tráfego na região”.

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E a rodovia ligando o extremo sul da Capital ao Litoral Sul serviria como rota alternativa aos caminhões que se deslocam do norte do Paraná, da região oeste do Estado de São Paulo e até do Mato Grosso do Sul rumo ao Porto de Santos.

Luta de 51 anos

A construção da rodovia mobilizou um grande ato político no início dos anos 1970. O evento lotou o antigo Cine Castro, em Itanhaém, e reuniu prefeitos, deputados e secretários de Estado. O “Plenário de Santo Amaro”, como ficou conhecido o ato, também contou com grande adesão de moradores do Litoral Sul e de bairros do extremo sul da Capital.

Naqueles dias, a primeira pista da Imigrantes, inaugurada em 1976 pelo então governador Paulo Egydio Martins (1928/2021), já estava estrangulada. Àquela altura, os congestionamentos eram frequentes. 

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Os transtornos idem. Turistas esperavam até sete horas para descer a Serra do Mar nos feriados de final de ano. E o Porto de Santos estava travado.

Ciente da sobrecarga no Sistema Anchieta-Imigrantes, o então deputado Erasmo Dias (1924/2010) apresentou na Assembleia Legislativa do Estado (Alesp) um projeto autorizativo que previa a construção da Rodovia Parelheiros-Itanhaém. A proposta foi protocolada na Alesp em 7 de outubro de 1994 e previa a concessão da obra para a iniciativa privada.

E o Projeto de Lei 560/94 foi aprovado em plenário, depois transformado em lei estadual pelo então governador Mário Covas (1930/2001).

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“A permanente ligação entre o Planalto e o Litoral Paulista é necessidade imperiosa e que hoje está saturada, em que pese a existência do complexo Anchieta-Imigrantes”, resumiu Erasmo Dias no texto original.

“O município de São Paulo tem cerca de um terço da sua superfície na Zona Sul de Parelheiros, área inexplorada, que com a citada rodovia viria a se dinamizar sob todos os aspectos”, explicou o deputado na época.

“A iniciativa privada tem nessa concessão uma feliz oportunidade de demonstrar além de sua capacidade técnica, a contribuição inestimável ao Poder Público e à Sociedade nessa obra de grande envergadura e de necessidade vital para o Estado’, completou Erasmo em sua justificativa aos demais deputados estaduais.

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Empresa se interessou pela obra, traçado segue estrada rural e passa por Aeroporto

Em 2012, a empreiteira Contern Construções e Comércio Ltda chegou a manifestar ao Governo do Estado interesse em construir e operar a rodovia, a princípio chamada provisoriamente de Nova Imigrantes. 

Posteriormente, o nome do ex-presidente João Goulart (1919/1976), deposto ilegalmente pela Ditadura Militar de 1964, foi cogitado para batizar a Parelheiros-Itanhaém. Goulart foi o primeiro presidente a tentar implementar uma ampla reforma agrária no Brasil, o que desagradou a elite.

Mas, a obra da rodovia nunca saiu do papel.

O projeto original previa que as pistas atravessariam os vales dos rios Aguapeú, Branco e Branquinho. O traçado começa no encontro da Rodovia Padre Manuel da Nóbrega com a Avenida José Batista Campos, em Itanhaém. Essa via passa em frente ao Aeroporto Antônio Ribeiro Nogueira Júnior.

E segue pela Estrada Rural Coronel Joaquim Branco até o “pé” da Serra do Mar. Nesse trajeto, a Parelheiros-Itanhaém passaria em frente à Estação de Tratamento de Água Mambu/Branco, da Sabesp, e próximo à Terra Indígena do Rio Branco.

Após a subida da Serra do Mar a estrada chegaria ao Planalto pela margem do Vale do Rio Capivari, já no Município de São Paulo.

A partir daí o asfalto seguiria no sentido sul-norte paralelamente à antiga estrada de ferro que ligava os distritos de Marsilac e Santo Amaro através da Estação Evangelista de Souza.

E cruzaria o Rodoanel Mário Covas (SP-21) na altura do Km 56. O fim da viagem seria na Estrada Ecoturística de Parelheiros, próximo do cruzamento com a Avenida Fernando da Cruz Alves.

Responsável pela construção da segunda pista da Rodovia dos Imigrantes e administradora das pistas que interligam a Capital a Santos, a Ecovias foi consultada em 2024 pelo Diário do Litoral, mas alegou que não conhecia detalhes do projeto da Rodovia Parelheiros-Itanhaém.

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