Cotidiano

Restaurante Vista ao Mar vai completar 50 anos

Um dos restaurantes mais antigos e tradicionais da região vai completar meio século de existência e resistência, em dos endereços mais concorridos de Santos

Vanessa Pimentel

Publicado em 17/02/2020 às 08:30

Atualizado em 17/02/2020 às 08:32

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Exemplo de dedicação é o Paulo Roberto, que dos seus 70 anos, dedicou 50 ao restaurante. / Nair Bueno/Diário do Litoral

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Entrar no restaurante Vista ao Mar, em Santos, é como voltar às décadas de 70 e 80. O casarão mantém a arquitetura antiga e resiste ao boom imobiliário da orla. Nas paredes, fotos de pratos criados há mais de 40 anos, mas que até hoje são os mais pedidos. No verso do cardápio, uma imagem mostra a clientela de uma época onde homens da moda usavam blusa polo com shorts meia-coxa e as mulheres, cabelos altos e com permanente.

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Há quem não goste e diga que o lugar parou no tempo. Mas, há também os cansados de tantas modernidades e que enxergam como privilégio ter por perto um local que faz questão de preservar um pouco do passado. 

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Se você faz parte dessa turma, vai gostar do Vista ao Mar, um dos restaurantes mais antigos e tradicionais da região, que em outubro deste ano celebra 50 anos de existência e resistência, em dos endereços mais concorridos de Santos: a Avenida Bartolomeu de Gusmão, 68, no Embaré.

Sem aparentar nenhuma vontade de parar, é Agustin Alvarez Perez, no auge dos seus 79 anos, quem recebe a Reportagem para contar a história da empresa que assumiu alguns anos depois de ter deixado a Espanha para viver no Brasil. 

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Sincero, ele diz que o movimento nem se compara aos tempos áureos de uma Santos em expansão, com festas em clubes que faziam a cidade fervilhar e noites que atraíam celebridades e políticos dos quatro cantos do país.

Para ele, Santos tinha mais vida no passado. "O clube Atlético, o Sírio Libanês, o Caiçara e o Ilha Porchat recebiam eventos grandiosos, com gente famosa e vinha todo mundo comer aqui. Hoje, os clubes estão quebrados", diz.

A modernização das operações portuárias também impactou o movimento. "Para carregar um navio de açúcar levava 70 dias porque o porto era todo braçal. Hoje, com tanta máquina, o navio chega de manhã e à tarde já vai embora. Não descem mais marinheiros, nem capitão. Foi-se o tempo onde eu dispensava clientes porque não tinha mais mesas". Com dois andares, o salão comporta mais de 200 pessoas.

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Em tanto tempo ativo, o estabelecimento passou por muitas crises financeiras, mas em todas elas fechar não foi uma opção. A equipe chegou a ter 33 funcionários – hoje tem 18. Aliás, no time do restaurante, o garçom mais novo trabalha lá há 32 anos e o mais antigo, desde a fundação. São como uma grande família.

"Há quatro anos tive uma oferta tentadora para vender o imóvel, mas eu tô velho, passo o dia aqui, é a minha vida", comenta Alvarez.

O MENU.

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Com uma bela vista para a praia, o menu enaltece os frutos do mar. Quando assumiu o lugar, que até então vendia pizzas, Agustin quis mudar a proposta. Ele percebeu que os restaurantes da cidade ofereciam filé de peixe ao molho de camarão ou filé mignon com fritas, não havia variedade ou ousadia na criação do cardápio.

Para fugir da mesmice, testou receitas até conseguir o sabor que queria em sua famosa 'Paella'.

"Aprendi esse prato com a minha finada mãe. Muita gente achou que não ia dar certo, mas até hoje é o carro-chefe da casa".

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A receita, típica da Espanha, é uma combinação de arroz com açafrão, camarões, mariscos, lula, polvo e lagostin.

Os preços não são baratos, mas os pratos são bem servidos e contemplam de três a quatro pessoas - bom na hora de dividir a conta.

Perez não abre mão da qualidade. Um exemplo é o marisco, importado do Chile. Para não ficar sem camarão quando chega o período de defeso, ele construiu uma câmara frigorífica capaz de armazenar 30 toneladas de mercadoria a -22 C°. Em uma região com imóveis cada vez menores, poucos restaurantes têm câmaras desse tamanho.

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"Trabalhar com frutos do mar é difícil. Se o preço é muito baixo, pode ter certeza que não tem qualidade", .

Agustin também não é adepto de chefs de cozinha que "enfeitam o pavão", como classifica as receitas ornamentadas demais.

"Outro dia fui num restaurante na França e o prato veio cheio de flores. Eu falei para o chef que se quisesse comer flor ia no jardim. Comida tem que ser saborosa e bem servida e é o que prezo em minha casa".

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Os três cozinheiros do Vista ao Mar seguem à risca as instruções de Agustin, mas quando há necessidade, ele ainda vai para a cozinha.

"Vejo muita gente abrindo restaurantes cheios de firulas, com fila na porta e eu pergunto: quanto tempo vai durar? Isso que é difícil no ramo da gastronomia". 

PRATA DA CASA.

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Não é só a boa comida que mantém, por 50 anos, um restaurante aberto. Os garçons são parte importante desse sucesso. Com mais de 30 anos trabalhando no mesmo lugar, todos sabem explicar aos clientes cada opção do cardápio.

Exemplo de dedicação é o Paulo Roberto, que dos seus 70 anos, dedicou 50 ao restaurante. "Eu me aposentei, mas vou continuar trabalhando até quando der. Me sinto bem aqui e sempre falo que Agustin e o Vista ao Mar são guerreiros", declara.

Durante essa trajetória, muita gente famosa teve a honra de ser servida por eles. Já passaram por ali o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso; o finado Mário Covas, de quem Agustin era amigo pessoal; Laudo Natel, ex-governador de São Paulo; Pelé; comissões olímpicas; celebridades e, não menos importantes, os clientes anônimos mas fiéis. "Os mais velhos da família trazem os mais novos e os almoços aqui acabam passando de geração em geração", diz Paulo. 

E ao que tudo indica, o Vista ao Mar seguirá , quem sabe por mais 50 anos, matando a fome e a saudade de quem tem boas lembranças das “décadas de ouro".

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