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Durante a reconstituição dos últimos momentos que antecederam o sumiço do pedreiro Amarildo Souza, de 43 anos, na Rocinha, no Rio, os investigadores da Divisão de Homicídios (DH) estiveram nesta terça-feira, 3, em quatro pontos da favela, entre eles na Cachopa, nas proximidades da casa que pertencia ao ex-chefe do tráfico local Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, que está preso.
O imóvel atualmente é usado como uma das bases da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Foi dali que, em 14 de julho, dia do desaparecimento de Amarildo, partiu a viatura da Polícia Militar (PM) de prefixo 54-6014 que horas depois conduziu o pedreiro do Centro de Comando e Controle (CCC), na Rua 2, até a sede da UPP, no Portão Vermelho. Um dos quatro PMs que conduziram Amarildo naquela noite foi levado pelos investigadores da DH à Cachopa para indicar o local e o horário exatos de partida do automóvel até o CCC.
Relatório do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos (CEDDH) - ao qual a reportagem teve acesso - destaca que, em 24 de abril, o órgão recebeu denúncias de três moradores da Rocinha dizendo que a antiga casa de Nem era usada pelos PMs para "práticas de tortura, como eletrochoques, para conseguir testemunhos de moradores sobre o tráfico de drogas local". Datado de quinta-feira, 29, o documento é assinado pelo presidente do CEDDH, Pedro Strozenberg, e pela coordenadora da Comissão de Segurança Pública e Privação de Liberdade da Secretaria Estadual de Defesa dos Direitos Humanos, Thais Duarte.
O advogado João Tancredo, que representa a família de Amarildo, encaminhou o relatório ao Ministério Público (MP), cobrando providências. Pelo menos oito PMs da UPP da Rocinha serão denunciados à Justiça sob acusação de tortura contra moradores. Durante a reprodução simulada, os policiais da DH também estiveram no bar onde o pedreiro foi abordado pelos Pms.
O estabelecimento é próximo à casa onde ele morava. Depois, os policiais civis foram ao CCC. Por fim, visitaram a sede da UPP, onde ouviram os depoimentos de 13 PMs que estavam de plantão na noite do sumiço de Amarildo - entre eles, o comandante da unidade, major Edson Santos, que será exonerado do cargo nos próximos dias. O trajeto entre o bar onde Amarildo foi abordado e a sede da UPP foi refeito três vezes pelos investigadores - um PM participou de cada vez. O objetivo era encontrar contradições em depoimentos anteriores dos PMs.
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