Cotidiano
Dentro de campo, definitivamente não foi como sonhávamos. Fora dele, a torcida se mostrou vibrante, esquecendo os problemas sociais que sacudiram o país nas vésperas do evento
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A Copa veio e se foi para o Brasil. A seleção chegou à semifinal, como manda o figurino, perdeu seu maior craque e acabou eliminada de forma vexatória. Dentro de campo, definitivamente não foi como sonhávamos. Fora dele, a torcida se mostrou vibrante, esquecendo os problemas sociais que sacudiram o país nas vésperas do evento. Agora, inevitável que uma boa dose de frustração tome conta desses torcedores tão apaixonados.
Enquanto adultos, sabemos - ou ao menos, tentamos - lidar com isso. Mas como será que as crianças, muitas delas vivenciando o clima de Copa pela primeira vez, e ainda por cima de maneira tão próxima, reagirão a essa perda? E como os pais devem agir diante do sentimento de angústia que elas possam vir a sentir?
Segundo especialistas, os sentimentos de frustração são imprescindíveis para o crescimento saudável das crianças, já que são inerentes à vida e quanto mais cedo os pequenos aprenderem a lidar com isso, menos forçada e dolorosa será a adaptação ao problema no futuro. Por mais que doa aos pais verem seus filhos sofrendo, eles não devem, de forma alguma, banir essas experiências atendendo a todos os seus desejos.
“A frustração ensina”, diz a psicóloga Ana Cássia Maturano. “Ela mostra que perder faz parte e que não podemos ter tudo que queremos. Sentir-se triste e chorar é normal”.
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Para Quézia Bombonatto, da Associação Brasileira de Psicopedagogia, ABPp, os 7 a 1 aplicados pela Alemanha são um bom momento para trabalhar os princípios da tristeza, já que é impossível dar aos filhos o que foi perdido pela seleção. “É importante que elas sejam orientadas de que desta vez não foi possível vencer, e que as derrotas também fazem parte do esporte, assim como da vida”, diz a especialista.
Segundo Ana Cássia, uma dica é ensinar à criança que haverá uma próxima vez e que teremos novas oportunidades. “Não há mal em brincar com os filhos e tentar animá-los, explicando a situação e deixando que eles lidem com seus próprios sentimentos”, diz ela. “Mas é aconselhável evitar medidas compensatórias, como dar presentes ou comprar coisas para contrabalancear.”
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“Medidas como essas podem dar ao pequeno a ideia de que suas frustrações sempre serão compensadas, ou a de que elementos materiais possam curar ou ter o mesmo valor que seus sentimentos”, complementa Quézia.
Na medida do possível, segundo as especialistas, é também aconselhável que os pais tenham certo controle sobre as próprias emoções na frente dos filhos. “Incentivá-los à tristeza, lamentando demais a perda e supervalorizando a derrota, é errado e traz prejuízos à criança, que pode ter dificuldades para enxergar o lado construtivo da perda, tanto no esporte como na vida, se a prática for recorrente”, explica Ana Cássia.
A Copa se foi. A seleção se esforçou, mas perdeu para uma equipe melhor. Outras virão. O Brasil já ganhou cinco em mais de meio século. Não é preciso fantasiar para compensar as frustrações de ninguém. A visão realista é sempre melhor e, neste caso, mais que suficiente. Basta apenas encará-la pelo prisma correto.
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