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Distantes das ruas conservadas do Centro e da Orla, os moradores do bairro Jardim Rio da Praia, conhecido como Mangue Seco, em Bertioga, convivem diariamente com lama, buracos, mato e esgoto a céu aberto. As imagens do local destoam das encontradas do outro lado da rodovia que corta a Cidade.
“Quando chove, alaga tudo. Preciso jogar cloro todos os dias aqui em frente para não afetar a clientela. Não tem esgoto. É tudo vala a céu aberto. O engraçado é que na conta vem descontado taxa de esgoto, mas cadê?”, questiona Domingos Brito da Silva, morador do Mangue Seco.
Silva mora no bairro há 26 anos. Ele mantém um pequeno bar na frente de sua casa. O comerciante disse que equipes da Prefeitura não aparece há muito tempo pelas ruas do Mangue Seco. “É muito difícil essa situação. Só promessas e depois ninguém faz nada. No Vicente de Carvalho II (bairro que fica ao lado) já asfaltaram, aqui nem sinal”.
O Diário do Litoral percorreu algumas ruas do Mangue Seco. As vias de terra estão desniveladas e com imensos buracos. O mato alto toma conta das valas por onde escoam o esgoto. “Agora imagina essa situação em dia de chuva”, disse um morador que acompanhava a Reportagem.
A situação encontrada parece que vai permanecer. A Prefeitura de Bertioga informou que, em virtude do abairramento (divisão), o bairro Rio da Granja, atual Rio da Praia ou Mangue Seco, não conta com rede de esgoto, que é de responsabilidade da Sabesp. Para realizar a pavimentação das ruas, a Administração Municipal utiliza como critério as vias que já contam com rede de esgoto e de drenagem, para então realizar a pavimentação.
A Sabesp afirma que já existe projeto para implantar um sistema de esgotamento sanitário no bairro Jardim Rio da Praia, em Bertioga. “O projeto encontra-se em fase de contratação da empresa que executará as obras. Estão previstos investimentos de R$ 14,5 milhões, que beneficiarão os moradores dos bairros Jardim Rio da Praia, Mangue Seco e Jardim das Canções”, diz.
Os locais, ainda segundo a Sabesp, receberão, no total, aproximadamente 18 km de redes coletoras, 3,3 km de tubulações pressurizadas e 4 estações de bombeamento. “Com isso serão conectadas cerca de 2 mil residências à rede de esgoto da companhia.”
Sem asfalto
Já no Centro, a Reportagem encontrou o aposentado Heleno José da Silva. Sentando em frente à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Cidade, ele aguardava notícias do filho que estava internado no local. Aproveitou a oportunidade para falar da situação da rua onde mora.
“A Saúde é boa em Bertioga. Só não tem UTI e quando a gente precisa fazer um exame mais detalhado, mandam a gente para Santos. Mas quero falar da Rua Sebastião Arantes onde moro. Há mais de 9 anos disseram que iam asfaltar, mas até agora nada. Quando chove, alaga tudo e a gente tem que andar de canoa”, desabafou Silva.
Segundo o aposentado, a situação da rua, que fica no Centro, não difere de outras vias de bairros mais afastados. “Os bairros estão cheio de buracos. Estão enfeitando o Centro e a praia, mas se você andar mais um pouco vai entender o que estou falando”.
Mas o sonhado asfalto da rua de seu Heleno está longe de chegar. A Prefeitura de Bertioga disse que não há previsão de pavimentação do local. No entanto, a Administração Municipal informou que, por meio da Secretaria de Serviços Urbanos, realiza manutenção periódica na via, como nivelamento e raçada de mato.
Feira será transferida, mas local é incerto
Sentada em uma cadeira em frente a sua banca na Feira de Convivência, no Centro de Bertioga, a comerciante Luzia de Carvalho Guerra, de 71 anos, manuseia uma peça de gesso. A artesã chegou ao Município quando ele ainda pertencia a Santos, em 1984. Saiu de Taubaté em busca de uma vida mais tranquila. Após alguns anos trabalhando no comércio local, vive a expectativa de como serão os próximos dias.
“O custo de vida em Bertioga é muito alto. Na temporada passada e no Carnaval, o movimento foi fraco. Agora parece que eles vão tirar a feira daqui para colocar a ciclovia. Não sabemos para onde vamos. Disseram que a Prefeitura planeja colocar a gente perto da Rodoviária”, disse a artesã.
A Feira de Convivência fica entre as avenidas Anchieta e Vicente de Carvalho, próximo ao Mercado Municipal de Pescados. O local conta com 60 barracas que comercializam produtos diversos e alimentos. “Teve uma reunião no dia 17 de março com o prefeito e lá foi falado que a feira sairia daqui por causa da ciclovia, mas não disseram para onde”, afirmou Luzia.
Além da incerteza sobre a feira, a falta de segurança também incomoda a comerciante. “Roubaram as lojas. Tem gente fechando as portas. Já roubaram as bancas também. A gente precisou contratar um segurança. No Carnaval teve até tiroteio”, disse.
Estudo
A Prefeitura de Bertioga confirmou a transferência da Feira de Convivência para outro local e disse que estão sendo realizadas reuniões para tratar do assunto. No entanto, a área ainda não foi definida. Segundo a Administração Municipal, o novo espaço poderá ser público ou particular.
De acordo com a Prefeitura, a mudança é necessária e um dos principais motivos para essa medida é o Decreto Municipal 527/2000, que dispõe sobre o regulamento da feira, que não está sendo cumprido em sua totalidade.
A Administração Municipal informou que a feira foi criada com o objetivo de escoar a produção individual de caráter informal, divulgar os artigos típicos da região, culinária e produtos artesanais, o que não vem ocorrendo atualmente, e que a proposta, em estudo, é que a Feira de Convivência seja um espaço para a venda de artesanato, produtos industrializados e industrianato (artesanato industrial).
Multas e licenças
Ainda de acordo com a Prefeitura, o decreto municipal também estabelece que, após o encerramento da feira, qualquer material que permaneça no local de sua instalação será recolhido ao Pátio municipal, sendo aplicada multa ao responsável, fato que não ocorre atualmente, tendo em vista que a Feira de Convivência está fixa no local.
Além da mudança de espaço, outra questão que vem sendo debatida entre a Prefeitura e a comissão é a adequação do valor da taxa paga pelos permissionários dos boxes. Cada um deles recolhe uma anuidade de pouco mais de R$ 300,00, que corresponde a uma licença paga para a venda de produtos em sacolas. Uma licença para a venda de milho verde, por exemplo, custa para o ambulante uma taxa anual de cerca de R$ 600,00 – o dobro da licença para um box na feira de convivência, o que é considerada uma disparidade entre ambas as modalidades de venda.