Cotidiano

Em meio ao caos social, comerciantes fecham as portas em São Vicente

Problemas no entorno do restaurante Bom Prato do Centro deixa comércio apreensivo

Publicado em 17/05/2015 às 11:29

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Meio-dia de quinta-feira e a fila do restaurante Bom Prato, no Centro de São Vicente, está grande. Entre os carros parados no semáforo da Rua Ipiranga com a Rua Benjamim Constant, pessoas em situação de rua pedem dinheiro aos motoristas. Na esquina, dois indivíduos dormem em meio à sujeira. Acrescente ao cenário o consumo de drogas, brigas, sexo e pequenos furtos. Sem saber a quem recorrer, comerciantes daquela região estão fechando as portas.

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“É uma calamidade. O que acontece todos os dias aqui é uma vergonha. Não temos segurança. Junta muito maloqueiro e drogado logo cedo quando o Bom Prato abre. Eles usam droga na frente do nosso comércio, se a gente fala alguma coisa é ameaçado. Perdi clientes e não estou vendendo mais nada. Não tem guarda municipal e nem polícia”, disse Abdul Latif, proprietário de uma loja de roupas que fica próxima ao restaurante.

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Na loja de Latif restam poucas peças. Após 23 anos de trabalho no mesmo local, o comerciante fechará as portas. “Desde que esse restaurante veio para cá a coisa só piorou. Dormem na porta dos comércios, juntam lixo, intimidam as pessoas que se recusam a dar esmola. Dias atrás levaram a correntinha de uma idosa que estava na fila. Não vale mais a pena ficar aqui. Vou para outro local”, desabafou.

Arimateia Oliveira, vizinho de Latif, também está insatisfeito com a situação. “Eles fumam maconha e dormem nas calçadas. Os comerciantes não podem trabalhar. Quando chegamos logo cedo parece o Vale da Morte, um monte de ‘zumbis’ dormindo no meio da sujeira. Todo dia tem confusão na fila. Muita gente já deixou de vir no meu bar porque eles intimidam as pessoas para dar dinheiro. Tem que pagar ‘pedágio’”, afirmou.

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Segundo os comerciantes, os problemas têm início por volta das 8 horas, quando o Bom Prato é aberto para a comercialização de cafés da manhã ao valor de R$ 0,50 e seguem até as 14 horas, quando o restaurante encerra as atividades, após o almoço que custa R$ 1,00. Na última segunda-feira (12), depois de almoçar, um homem assaltou o local a mão armada e levou R$ 3 mil.

“É um problema social, mas alguma coisa tem que ser feita. Há dois anos não se consegue mais alugar os imóveis dessa região porque o cenário assusta o pessoal. Observamos que tem muito morador de rua de fora. Eles esperam o Bom Prato abrir e ficam até o almoço, depois seguem todos para a Biquinha Usam os banheiros do Crei. O pessoal da Assistência Social vem aqui, mas não adianta. A situação está fora de controle”, desabafou Luiz Carlos Amorim, que atua como corretor de imóveis há dois anos naquela região.

O comércio de David Dario Mota foi aberto pela última vez ontem. Com a baixa frequência de clientes e os problemas do local, fechar as portas foi a única solução. “É o nosso último dia de funcionamento. Não dá mais para ficar aqui. Vamos para o bairro. No feriado de carnaval arrombaram a porta e entraram na loja e levaram refrigerantes, sucos e doces. Só não levaram o micro-ondas porque não deu”, disse.

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Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social sugere aos comerciantes acionarem a Guarda Civil ou a Polícia Militar (Foto: Matheus Tagé/DL)

12 moradores

Acostumado com as cenas, ao chegar para trabalhar o advogado Francisco Calixto teve uma surpresa: 12 pessoas dormiam no estacionamento do prédio onde funciona o seu escritório. “É deprimente. Já presenciei eles defecando, urinando e fazendo sexo. Um dia contei 12 dormindo amontoados. Tem muitos pedintes. O cliente vem aqui, mas tem vontade de ir embora. Está faltando alguma coisa. Percebemos que houve despejo de gente no Município”, afirmou. Tapumes instalados em volta da garagem do prédio onde fica o escritório do advogado foram roubados durante a noite.

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Solvente e crack

Regis Lopes tem comércio no local há 17 anos. Ele disse que desde que o Bom Prato foi instalado no local, em 2006, os problemas ocorrem, porém, a situação piorou nos últimos três anos.

“Afastaram os clientes, principalmente as mulheres, porque eles coagem para pedir dinheiro. Eles brigam muito entre si. Tive que tirar as peças que ficavam em exposição na porta”, disse Lopes.

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O uso de entorpecentes é comum naquela região. “Os maiores fumam maconha e crack. Os menores cheiram solventes. Já cansaram de vir até a loja comprar, mas não vendo. Qualquer hora que você passar por aqui vai presenciar alguém fumando maconha ou cheirando cola”, disse o comerciante.

Prefeitura confirma e Governo do Estado lamenta

Ciente do problema que ocorre na região do restaurante Bom Prato do Centro, a Prefeitura informou que realiza ações no local. Por meio de nota, a Administração Municipal informou que a Guarda Civil Municipal (GCM) realizou, nos últimos 40 dias, 16 flagrantes de furto e roubo no local e quatro flagrantes de porte de drogas, que foram encaminhados à delegacia de polícia.

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De acordo com a Prefeitura, a GCM realiza rondas diárias na região central, incluindo a Rua Ipiranga — onde está instalado o Bom Prato — com motocicletas, viaturas e a pé. O comandante da corporação, Wagner Monteiro de Carvalho, vem realizando reuniões periódicas com os comerciantes a fim de atender todas as reivindicações.

A Administração ressaltou, por meio da Secretaria de Assistência Social, que as intervenções por meio de abordagens sociais têm se dado de forma bastante efetiva e das abordagens realizadas em sua maioria a equipe se depara com ‘usuários de droga com situações crônicas de vivência de rua’.

Ainda segundo a Prefeitura é oferecido aos moradores de rua assistência no Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua e que há a migração dessa população principalmente na alta temporada.

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Dependência química

Com relação aos dependentes químicos, a Prefeitura informou que disponibiliza, por intermédio do Caps ADII, ‘atividades comunitárias com enfoque na integração do dependente químico na comunidade, bem como sua inserção familiar e social, além de oficinas terapêuticas que visam desenvolver potencialidades para que o processo de reabilitação seja favorecido’.

Estado “lamenta”

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A Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social, responsável pelos restaurantes Bom Prato, lamentou, por meio de nota, os transtornos causados na rua onde o restaurante está instalado e sugeriu que os comerciantes acionem, quando necessário, a Guarda Civil Municipal ou a Polícia Militar.

 

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