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Distante do asfalto e dos grandes prédios da área urbana, entre as curvas da Rio-Santos, rodovia que liga o litoral de São Paulo ao Rio de Janeiro, existe uma Santos cercada de beleza natural. Com quase três mil moradores e característica interiorana, os bairros da Área Continental da Cidade ficam entre os municípios de Cubatão, Guarujá e Bertioga. Pouco conhecida por boa parte dos santistas, a região viu o desenvolvimento chegar ao longo dos anos, no entanto, alguns direitos básicos ainda são limitados.
“Tem escola, creche e posto de saúde. Construíram o consultório do dentista, mas não tem dentista. Quando ele falta ou está de licença, não tem outro no lugar. Agora mesmo ele está de licença. É um só que atende no posto de Caruara e aqui. Meu pai de 82 anos ficou ruim e precisou extrair o dente. Fomos no dentista em Vicente de Carvalho (bairro de Guarujá)”, disse a dona de casa Valdelis Barreto, de 54 anos. Ela entrou em contato com a Ouvidoria da Prefeitura. “Ficaram de me dar retorno”. A Prefeitura confirmou ao Diário do Litoral a licença médica da dentista, e que a mesma retornará ao trabalho amanhã (13).
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Valdelis nasceu em Monte Cabrão, um dos bairros da Área Continental de Santos. Disse que o lugar é sossegado e que já esteve em condições piores. “O prefeito deixa a desejar aqui. Mas faço questão que vocês coloquem na matéria que o coordenador da Área Continental atende os moradores sempre que é chamado”.
A nora de Valdelis, a estudante Kellen Souza, se mudou há pouco tempo para Monte Cabrão. Com dois estágios na área da saúde, a jovem busca uma vaga para a filha na creche, mas sem sucesso. “Falaram que não tem. Estudo e faço estágio, preciso de alguém para ficar com ela. Agora vou voltar lá com o documento para colocar ela na lista de espera. Não sou só eu, outras mães também estão esperando”, disse. A menina estava matriculada em uma creche do Caruara, bairro vizinho, onde residiam.
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A dona de casa Tatiana Silva, de 30 anos, confirmou a falta de vaga relatada por Kellen. “Falam que não podem pegar porque não professor para tantas crianças. A minha comadre trabalha e precisa deixar a filha na creche, mas não consegue vaga”, afirmou.
Tatiana mora em Monte Cabrão desde que nasceu. Ressaltou que a falta de transporte público é um problema enfrentado pelos moradores. “Tem um ônibus só. Se quebrar tem que ir para a pista pegar o Bertioga ou Cubatão. Dia de semana o ônibus passa três vezes por dia, de manhã, a tarde e a noite. No domingo, ainda é pior. O ônibus passa as 11 horas e depois só as 18 horas. Acho que deveria ter mais. Eu tenho carro, mas quem não tem?”, questionou.
Apesar de os moradores relatarem a falta de vagas na creche, a Secretaria de Educação de Santos disse que não há falta de vagas nas unidades e que todas as mães que solicitaram matrículas serão atendidas neste segundo semestre.
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Buracos
A estrada que dá acesso ao Monte Cabrão é asfaltada, mas está esburacada, assim como boa parte das vias do bairro. Algumas ainda são de terra. Os moradores utilizam muito a bicicleta. Para se deslocar para outros trechos da Área Continental, caminhar pelo acostamento da rodovia, que não é duplicada, também é uma opção.
A Subprefeitura da Área Continental de Santos informou que no Monte Cabrão o serviço de Tapa Buraco é feito periodicamente e, assim que o tempo melhorar e o chão secar, o trabalho será realizado novamente.
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Escola
Em 2013, a Prefeitura de Santos anunciou que no início de 2014 a quadra da única escola de Monte Cabrão seria coberta, no entanto, a Reportagem constatou que o equipamento continua sem cobertura.
Procurada, a Prefeitura informou que está sendo feito estudo para a realização da obra. A Administração Municipal destacou que a unidade passou, recentemente, por uma reforma com investimento de R$ 376 mil.
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Insegurança
A auxiliar administrativa Paula da Silva disse que desde que uma unidade da Fundação Casa foi inaugurada em Monte Cabrão, os moradores sofrem com a insegurança.
“Despejaram as crianças da ‘Febem’ aqui e não dão segurança. Quando eles fazem rebelião fogem para as casas. Já tiveram algumas rebeliões aqui, mas ninguém ficou sabendo”, afirmou.
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A assessoria de imprensa da Fundação Casa informou o centro socioeducativo Santos mantém vigilância constante na área interna, mas não tem nenhuma interferência sobre a área externa da unidade. Contrariando a informação da moradora, disse que o último registro de fuga na unidade foi no início do ano, sendo que a ocorrência de entrada de adolescentes nas casas vizinhas não chegou ao conhecimento da instituição.
Sem esgoto
Caruara é uma espécie de ‘capital’ da Área Continental de Santos. O bairro mais populoso daquela região, com 1.126 habitantes de acordo com o Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE), conta com estrutura de saúde, educação e segurança, que atende os outros bairros. Sua principal via é asfaltado. No final dela há um portinho utilizado por pescadores.
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Diferente da avenida principal, as outras ruas do Caruara não contam com rede de esgoto e asfalto. Foi em uma delas, que a Reportagem encontrou a dona de casa Maria Selma Santos. Conversava com os vizinhos. Declarou o amor por onde mora, mas fez questão de ressaltar a vontade ver as ruas asfaltadas e com esgoto encanado. “Quando chega perto da eleição eles vêm dizer que vão asfaltar, depois não voltam mais. Os buracos é a gente que tapa. Aqui ainda tem galeria porque os moradores não aguentavam mais os mosquitos e pagaram”, disse a senhora. A maioria das casas conta com fossa séptica.
Seu vizinho, o aposentado Vitor dos Santos, também ressaltou os problemas ocasionados pelas valas. “Tem cada ‘ratão’. A gente que pagou para colocar manilha para tirar a vala da porta”, disse.
O aposentado é natural de Sergipe. Morou no bairro Cachoeirinha, em Guarujá, e após aposentar comprou a casa em Caruara. Cria seis cachorros, galos e galinhas em seu quintal de terra. Com sete filhos, 25 netos e 24 bisnetos, seu Vitor destacou que a alegria de morar na Área Continental de Santos. “Gosto daqui por causa do sossego. A maioria que vem para cá é velho, é aposentado. A gente só vai embora direto para o ‘lar eterno’”.
Prefeitura x Sabesp
Apesar de a Reportagem não encontrar obras de saneamento em Caruara, e de a Prefeitura de Santos responder que no bairro será instalada pavimentação ecológica, com fácil absorção da água da chuva, mas somente após a Sabesp realizar a instalação de rede de esgoto, a Sabesp informou que já iniciou as obras para implantação do sistema de esgotamento.
A companhia afirmou que para evitar transtornos aos moradores, agiu em parceria com a Prefeitura e aproveitou obras municipais de drenagem e pavimentação para instalar mais de 2 km de tubulações que irão coletar os esgotos das residências. A Sabesp informou ainda que para complementar as obras já executadas e colocar o sistema em operação, os bairros Caruara, Monte Cabrão e Ilha Diana serão contemplados na 2ª etapa do programa Onda Limpa - um dos maiores programas de saneamento da América Latina e a maior intervenção ambiental na costa brasileira.
Ensino Médio
Na Área Continental de Santos não existe escolas de Ensino Médio. Os jovens precisam se locomover para os municípios vizinhos. Boa parte estuda em unidades de ensino de Vicente de Carvalho, em Guarujá, que é mais próximo. “Acho que quem quer estudar enfrenta as dificuldades. Meu filho trabalha em Guarujá e estuda por lá. Acorda bem cedo e volta muito tarde. Vai e volta de ônibus. Seria bom ter uma escola para atender os moradores”, disse uma moradora de Monte Cabrão.
A Secretaria de Educação informou, referente ao ensino médio, que é competência do Estado, que existe uma parceria com a Secretaria de Educação Estadual, que compartilha o espaço da UME Judoca Ricardo Sampaio Cardoso, em Caruara, parceria iniciada em 2004, com 4 salas, e que permanece ativa.
Segundo o Censo de 2010 do IBGE, a Área Continental de Santos possui 2.872 moradores distribuídos em 10 bairros. Depois de Caruara, Quilombo, que fica próximo a divisa com Cubatão, é o maior bairro da região, com 1.006 moradores.
As bananas da Rio-Santos
Quem passa pela rodovia Rio-Santos, no trecho da Área Continental de Santos, se depara com vendedores de banana que oferecem os produtos dispostos em barracas localizadas em frente às casas ou no acostamento da estrada. Foi em uma delas, que o Diário do Litoral conheceu o Cosme Mendes Farias, de 58 anos. Natural de Itamaraji, na Bahia, o vendedor, que há 20 anos reside em Monte Cabrão, vai bem cedo para a pista trabalhar.
“O movimento é melhor na temporada. Agora é fraco. Dá para ganhar um dinheirinho. Vendo banana há 12 anos, mas faço de tudo. Bico de pedreiro, o que aparecer”, disse Cosme. O baiano mora sozinho em uma casa cedida pelo fornecedor das bananas que vende. Ele disse que a maioria das bananas vendidas na estrada não é produzida na Área Continental. “Vem de Peruíbe, Registro e Micaratu. As bananeiras que você vê na pista é muda que a gente planta”.
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