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O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse nesta segunda-feira que Edward Snowden terá de parar de divulgar segredos norte-americanos se quiser conseguir asilo em seu país, mas acrescentou que o ex-funcionário da CIA e de uma empresa que presta serviços para o governo dos Estados Unidos não tem planos de fazer isso.
O presidente Barack Obama disse que tem realizado discussões de alto nível entre Estados Unidos e Rússia a respeito a extradição de Snowden, mas Putin reiterou que não tem intenção de mandar Snowden de volta para o território norte-americano e afirmou que Snowden não é um agente russo e que agências de segurança da Rússia não entraram em contato com ele.
Falando durante uma coletiva de imprensa, Putin disse que Snowden se considera um ativista, um "novo dissidente" e o comparou a Andrei Sakharov, físico nuclear russo que defendia as liberdades civis e ganhou o prêmio Nobel da Paz em 1975.
Snowden está num limbo legal na zona de trânsito do aeroporto Sheremetyevo, em Moscou, desde que chegou ao local de Hong Kong, em 23 de junho. Os Estados Unidos invalidaram seu passaporte e o Equador, país onde ele esperava conseguir asilo, tem sido relutante em tomar uma atitude.
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Putin, que foi o anfitrião de uma reunião de cúpula entre países exportadores de gás em Moscou - dentre eles Venezuela, Bolívia e Irã - disse não saber se algum desses países poderia oferecer abrigo a Snowden.
"Se ele quiser ir para algum lugar e há quem o receba, ele é bem-vindo para fazer isso", disse Putin. "Se ele quiser ficar aqui, há uma condição: ele deve interromper suas atividades que têm como objetivo prejudicar nossos parceiros norte-americanos, independentemente do quão estranho isso possa soar, saindo da minha boca."
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Mas o presidente russo acrescentou que Snowden não pretende encerrar seus esforços para revelar informações sobre os programas de vigilância dos Estados Unidos. "Como ele acha que é um defensor dos direitos humanos, das liberdades, ele não parece ter a intenção de parar com isso", afirmou Putin.
Obama não confirmou os relatos de que agências de aplicação da lei russas e norte-americanas buscam uma solução para o caso Snowden.
As declarações dos dois presidentes foram feitas no momento em que o governo Obama enfrenta problemas com seus principais aliados por causa dos programas de vigilância, já que instalaram dispositivos secretos de escuta em escritórios da União Europeia (UE). As reclamações tiveram início no sábado, quando a revista alemã Der Spiegel que a Agência Nacional de Segurança (NSA) dos Estados Unidos grampeou diplomatas de países amigos em escritórios da UE em Washington, Nova York e Bruxelas.
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As informações foram em parte baseadas em uma série de revelações sobre o programa de escutas norte-americanos divulgados por Snowden.
Até então, muitos países europeus estavam calados a respeito das revelações sobre a grande rede de vigilância norte-americana, montada com o objetivo de evitar ataques terroristas, mas a reação às últimas informações indicam que os aliados de Washington não devem deixar o assunto morrer sem, pelo menos, uma forte demonstração de indignação.
Obama afirmou que todos os países do mundo que possuem serviços de inteligência tentam entender o que os demais países estão pensando. Ele afirmou que os Estados Unidos continuam a avaliar a matéria da Spiegel, acrescentando que seu país vai fornecer todas as informações que seus aliados europeus pedirem.
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O presidente francês François Hollande exigiu que os Estados Unidos interrompam imediatamente as escutas e deu a entender que o escândalo pode prejudicar as negociações sobre um acordo de livre-comércio. "Não podemos aceitar este tipo de comportamento de parceiros e aliados", disse Hollande à televisão francesa nesta segunda-feira.
Num sinal da desconfiança que a matéria provocou, o governo alemão lançou uma revisão da rede governamental de comunicações. A Comissão Europeia ordenou uma "abrangente varredura de segurança". "Espionar amigos é inaceitável", declarou o porta-voz do governo alemão, Steffen Seibert, aos jornalistas em Berlim. "Não estamos mais na Guerra Fria."
O secretário de Estado norte-americano John Kerry disse nesta segunda-feira que desconhecia detalhes sobre as acusações, mas tentou minimizá-las, afirmando que muitos países realizam várias atividades para proteger seus interesses nacionais. Mas ele não conseguiu conter a indignação dos aliados, entre eles França, Alemanha e Itália.
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Não ficou claro em que nível atividades similares são colocadas em prática, mas algumas pessoas na Europa temem que as ações norte-americanas incluam espionagem econômica. Quando perguntado se a Alemanha espiona seus aliados, Seibert respondeu que "não é a política do governo alemão espionar Estados amigos em suas embaixadas. Isso deveria ser óbvio."
Apesar da retórica, a ameaça às negociações comerciais deve ser mínima. Negociações técnicas geralmente são tratadas num nível separado das considerações políticas e, até o momento, a UE não pretende deixar a primeira rodada de negociações para um acordo de livre-comércio por causa do escândalo de espionagem.
O governo dos Estados Unidos organiza a primeira rodada para período entre 8 e 12 de julho, em Washington.
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