Cotidiano

Proteção tira produtividade do setor automotivo

Qualquer mexida pode ter impacto na geração de riqueza e de emprego - para o bem ou para o mal

Publicado em 28/06/2014 às 16:31

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O Brasil é o 7.º maior produtor mundial de automóveis, mas é o 21.º em exportações. Apenas cerca de 15% dos veículos fabricados no País são exportados. Para completar, nos últimos anos, uma parcela desproporcional vai para a Argentina. As tarifas de importação de automóveis incentivam as montadoras estrangeiras a estabelecer linhas de montagem no Brasil para criar empregos locais.

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No entanto, na avaliação do Instituto Global McKinsey, essa abordagem não ajuda o Brasil a se integrar em cadeias globais de valor, o que leva a indústria automotiva brasileira a perder produtividade em relação a seus pares. No médio e longo prazos, a perda de produtividade pode ameaçar até os empregos que se tenta preservar.

O México, que optou por desenvolver uma indústria de classe mundial, extremamente conectada às redes globais, segue caminho inverso. Tem ganhos de produtividade. Suas plantas produzem praticamente o dobro das brasileiras.

Na avaliação de Letícia Costa, diretora do Insper e especialista em mercado automotivo, é complexa e polêmica a discussão sobre a exposição do setor à economia internacional. Ela lembra que a produção de veículos representa cerca de 20% do setor industrial do País. Qualquer mexida pode ter impacto na geração de riqueza e de emprego - para o bem ou para o mal.

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(Foto: Divulgação)

"Pessoalmente, sou a favor do livre-comércio, mas na forma como as indústrias estão organizadas qualquer abertura depende de discussões políticas e vai demandar uma janela de tempo", diz Letícia. "Não pode ser feita abruptamente, sob pena de repetir os efeitos negativos que vimos nos anos 90."

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No início da década de 90, o setor permanecia fechado e o consenso geral era que estava estagnado. Para dinamizá-lo, indústrias, trabalhadores e governo firmaram um acordo automotivo, com metas de modernização, expansão e exportação. Com ele, foi possível elevar as unidades brasileiras a um novo patamar de produção, investimento e gestão. Entre 1991 e 1993, os investimentos somaram quase US$ 1 bilhão - valor similar ao de toda a década de 80. Na sequência, os investimentos na ampliação das unidades, de quase US$ 20 bilhões até o fim da década, desconcentraram e diversificaram o setor.

Mas há o outro lado da moeda. O número de empregos ficou abaixo do esperado, porque parte das novas linhas adotou robôs. As empresas de autopeças, por sua vez, sofreram um baque. O setor era formado por um número grande de empresas brasileiras que não tiveram tempo, dinheiro e agilidade para fazer frente à concorrência das estrangeiras.

Um fator decisivo foi o câmbio. Expostos à sobrevalorização do real, perderam margem de lucro, enquanto as estrangeiras foram favorecidas a elevar as importações. Várias empresas quebraram ou foram compradas por gigantes globais.

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"Proteger a indústria automotiva não é uma exclusividade do Brasil - historicamente ela é protegida no mundo", diz Letícia. Um dos argumentos que sustentam a necessidade dessa proteção é que o setor tem alta capacidade de inovação, um trunfo em um mundo cada vez mais movido a novas tecnologias.

No entanto, segundo Letícia, o Brasil não tem sido eficiente em aproveitar o caráter inovador do setor. "O Brasil não consegue fazer acontecer justamente no que se refere à inovação porque as políticas criadas para o setor exigem pouco das montadoras nesse item."

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