Continua depois da publicidade
Daniela Origuela
Tudo começou com a vontade de tornar a Rua Goiania um lugar melhor para morar. Sem asfalto e saneamento básico, os moradores da pequena via que fica no Jardim Irmã Dolores, no antigo Quarentenário, em São Vicente, foram à luta e conquistaram, com recursos e punhos próprios, as melhorias tão sonhadas. Não sabiam que ali tinha início a formação de uma grande família: a PSG Goiania.
O ano era 2004. A habilidade do auxiliar de serviços gerais, Ronaldo Silva, 40 anos, consistia na instalação de manilhas de esgoto — atividade a qual tem orgulho de executar. Em uma das reuniões, o morador da Rua Goiania foi desafiado a iniciar uma nova tarefa. “Chegamos ao consenso que era necessário ir além das melhorias. Que também era preciso fazer um trabalho social com as crianças da rua”, disse. Nessa época, eles fundaram a Associação de Voluntários do Grupo Goiania, o PSG Goiania.
Mesmo sem ter intimidade com a bola, Silva assumiu a responsabilidade de levar as crianças para jogarem futebol todos os sábados no campo de areia que fica ao lado da Lagoa do Quarentenário, principal referência do bairro. “No início, eram apenas os nossos filhos. Começamos com sete crianças. Eu não entendia muito de futebol, mas resolvi encarar a ideia da Cinthia (uma das moradoras)”, relembra.
Continua depois da publicidade
O auxiliar de serviços gerais conta que os treinos eram improvisados com garrafas plásticas. Diferente dos grandes clubes de futebol, que disponibilizam piscinas aos atletas para o treinamento, as crianças eram levadas ao mangue para correrem e exercitarem os músculos. “Não tínhamos recursos para treinar. Entendia que a água poderia melhorar o condicionamento físico deles”, afirma.
Em um ano, o projeto já contava com a participação de 40 crianças. A ideia havia dado certo, e a chegada de outros voluntários permitiu a inclusão de aulas de karatê e axé. Tudo acontecia de forma improvisada na garagem de um dos moradores. “Fomos criando vínculo com aquelas crianças que passaram a nos procurar mesmo fora das aulas. Muitos não têm família estruturada”, comenta Silva.
Continua depois da publicidade
O Jardim Irmã Dolores é um dos bairros mais carentes de São Vicente. A realidade muitas vezes bateu à porta de Ronaldo e dos outros voluntários do PSG Goiania. Pedidos de alimentos e remédios passaram a ser comuns. Lidar com as emoções também. “Tudo foi acontecendo e a gente teve que se virar. Aliás, a gente se vira até hoje. Faz festas, realiza campanhas de arrecadação de alimentos, o que for necessário”, afirma o auxiliar de serviços gerais.
Para manter de pé o projeto, e garantir a participação dos atletas nos campeonatos, eles decidiram alugar um caminhão para recolher materiais recicláveis todas as terças e quintas-feiras em Santos. O quintal de Ronaldo serviu como depósito durante dois anos. “Acho que os meninos aprenderam bastante com essa experiência. Não foi fácil, mas nos deu força para chegar até aqui”, comenta.
Ronaldo, que até então treinava sozinho as crianças, recebeu o apoio do cadeirante Lucas Shinaider, que havia chegado recentemente ao bairro. “Ele queria fazer alguma coisa, então falei pra ele me ajudar com os treinamentos, e deu certo. Não imaginava que uma pessoa na cadeira de rodas poderia se sair tão bem”, disse.
Continua depois da publicidade
PSG Goiania comemora parceria com SBFC
Após 10 anos de luta, e a conquista de alguns campeonatos da Associação Paulista de Futebol, o PSG Goiania comemora uma parceria com o São Bernardo Futebol Clube.
O clube do ABC paulista, por meio do Projeto Tigrinho, dará a estrutura necessária para o treinamento das 200 crianças e jovens que o PSG Goiania atende atualmente. Um dos voluntários se tornou funcionário do São Bernardo e comanda os treinos que passaram a ser realizados, em dois turnos, de segunda a sexta-feira. A parceria também prevê o monitoramento social das crianças atendidas, tendo como requisito principal a frequência escolar.
Continua depois da publicidade
“É uma grande emoção olhar para trás e ver que, depois de tantas batalhas, conseguimos vencer. Não apenas pela parceria com o São Bernardo, mas pela conquista de nosso principal objetivo que é manter a união entre os moradores e dar oportunidade as nossas crianças e jovens”, afirma Santos, emocionado.
Atualmente o PSG Goiania conta apenas com as aulas de futebol. Os voluntários da associação, que não possui convênio com órgãos públicos, pensam ampliar as atividades oferecidas. Mas, para isso, precisam da ajuda de novos parceiros. O projeto também recebe a doação de alimentos.
Mais informações podem ser obtidas na sede do PSG Goiania, que fica na antiga Administração Regional do bairro, ao lado da Lagoa do Quarentenário. O local funciona de seguda a sexta-feira das 9 horas ao meio-dia, e das 15 às 16 horas.
Continua depois da publicidade