Cotidiano

Projeto TAMTAM ensina a cuidar do próximo

Eles mostram que inclusão pode, sim, fazer parte do cotidiano de cada cidadão

Carlos Ratton

Publicado em 24/06/2013 às 11:32

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Eles são 180 artistas especiais em todos os sentidos. Basta olhar no rosto de cada um para ficar simplesmente apaixonado pela força de vontade e inteligência. Na Associação Projeto TAMTAM, pessoas das mais diversas idades e classes sociais mostram que inclusão pode, sim, fazer parte do cotidiano de cada cidadão. E, nessa demonstração de força e comprometimento quem ganha são os espectadores.

Juliana da Silva é tida como normal. Com 17 anos (dois dentro do projeto), ela faz jazz e teatro e escolheu o TAMTAM por intermédio das noites do Café Teatro Rolidei. “É maravilhoso, pois aprendemos a olhar e pensar em grupo. É olhar o outro da mesma maneira que gostaria de ser olhado. Não há preconceito e nem medo de se aproximar. Eu lido com a igualdade e não com as diferenças”, afirma Juliana.

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A aluna reconhece que era uma pessoa antissocial. Tinha problemas para falar em grupo, para se relacionar com pessoas, inclusive, de sua idade. “Mas a base construída aqui no TAMTAM é de carinho e compreensão. Sabe aquele lugar que você pode procurar quando precisar de alguma coisa? Onde as pessoas estão sempre dispostas a te ajudar? Você não precisa se esconder, fingir em ser uma pessoa que não é para ser aceita”, completa.

Juliana Prol conseguiu superar uma anorexia. Aluna de teatro, ela tem 24 anos e se viu dentro do problema com 14 anos. Aos 21 anos, teve que ser internada com 32 quilos. Em 2010, após sair da clínica, ela descobriu o TAMTAM. Segundo uma amiga, “um lugar para ocupar a cabeça”.

Formada em Letras, ela começou a participar do projeto e a anorexia foi ficando no passado. “Eu cheguei a ter uma recaída dentro do TAMTAM, foi quando descobri o quanto o projeto é importante na minha vida, porque as pessoas não ficavam passando a mão na minha cabeça. Levantei pelo amor do grupo. O amor fez com que eu ganhasse peso e aprendesse a me amar. Nunca me trataram como doente. Hoje a minha mãe faz aula aqui comigo”, afirma sorridente, não mais se importando com o peso e garantindo que a relação com os pais mudou para melhor.

São mais de 180 artistas mostrando que inclusão faz parte do cotidiano de qualquer um (Foto: Luiz Torres/DL)

O ator Armando Martins Fernandes Serra Júnior não tem vergonha alguma do nome cumprido. Ele diz adorar as aulas de teatro, balé e jazz e, com 30 anos, já se apresentou até em Portugal. “Participei de duas peças. Agora, estou me profissionalizando e a carteira de ator profissional já está a caminho”, garante, alertando que é funcionário do Mc Donald’s.

No projeto, Armando extrapola a atividade artística. “Eu também ajudo os demais alunos e a Claudia Alonso (arte educadora) nas atividades. Também escrevo roteiros”, adianta Armando Serra.

Natália Santos Feitosa tem 20 anos e também faz teatro, balé e jazz. Ela explica que as atividades são importantes. “Ser atriz é muito bom, porque a gente pode mostrar o nosso talento para as pessoas. Em uma das peças, meu personagem era Terra”, afirma.

Em Portugal, assim como Armando, Natália revela que se sentiu importante. Para ela e para sua família, a experiência foi inesquecível. “Eu fiquei muito orgulhosa”, afirma.
Alexandre Brito Batista, de 52 anos, afirma que possui problemas relacionados ao sistema nervoso. Ele garante que anos a fio teve que tomar remédios para o estomago. “Eu vim para cá para fazer teatro e participar da oficina de poesia Outras Palavras. Faço leitura dirigida e minha vida mudou completamente”.

Batista faz questão de dizer que os membros do Projeto TAMTAM entenderam seu problema e o aceitaram. “Eu tinha complexo de inferioridade e não conseguia me relacionar. Com o tempo, aqui no TAMTAM, isso foi diminuindo e, agora, eu me relaciono com todo mundo, sem acanhamento”.

Alexandre Batista disse que o projeto, inclusive, foi fundamental para que ele superasse a perda da mãe. “Assim que minha mãe faleceu, eu vim para cá (TAMTAM) e me encontrei. Hoje eu vivo só, mas me viro tranquilamente. A solidão não existe porque eu venho para cá”, finaliza.

Sem dúvida, um dos exemplos mais surpreendentes do projeto é protagonizado pela atriz e bailarina Fernanda Gabrieli da Conceição, de 17 anos, deficiente auditiva. Quando chegou ao TAMTAM, ela praticamente não se comunicava. Hoje, participa de todas as atividades e ninguém percebe seu problema. “Eu amo teatro e balé. Também amo todo o grupo. As pessoas me ajudam a desenvolver meu talento”, diz a menina, completando: “eu sou muito feliz”.

Um trabalho fundamental

Conforme publicado no último dia 18 (da Luta Antimanicomial), a Associação Projeto TAMTAM, que continua sendo a maior referência no acolhimento e tratamento de pessoas com múltiplas deficiências no Brasil e no Mundo, está praticamente esquecida nas dependências do Teatro Municipal.

Liderada pelos arte-educadores Renato Di Renzo e Cláudia Alonso, a Associação, que já atendeu milhares de pessoas, luta com dificuldades para manter a assistência dos atuais 180 alunos, de sete a 75 anos que, aos poucos e diariamente, ultrapassam obstáculos, conquistam espaços, vencendo o preconceito e a discriminação.
Pautada pela diversidade, pluralidade e principalmente a inclusão, a Associação – que funciona no Espaço Sociocultural e Educativo Café Teatro Rolidei (dentro do Teatro Municipal de Santos) – embora seja reconhecida como de utilidade pública, não tem convênio, subvenção ou qualquer apoio financeiro público ou privado, mesmo já tendo conquistado diversos prêmios dentro e fora da Cidade.

No Café Teatro Rolidei, enquanto as mães trocam experiências e ajudam na manutenção do espaço, os filhos – sem pagar nada - participam de oficinas, apresentações musicais e teatrais, saraus de poesia, palestras, workshops, conferências, lançamentos de livros e outras atividades, que proporcionam qualidade de vida, saúde mental coletiva enfim, como dizem Di Renzo e Cláudia “celebram à vida”.

Recentemente, o TAMTAM firmou parceria com o Sindicato de Artistas e Técnicos em Espetáculos e Diversões do Estado de São Paulo e, por intermédio de um termo de cooperação técnica, poderá profissionalizar pessoas portadoras de deficiência, que receberão registro de ator, atriz, contrarregra, iluminador e outras funções da profissão de artista e técnico.

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