Cotidiano

Professor fala sobre grafite e intervenções em patrimônio público

Refletindo a realidade das ruas, traços representam uma forma política e cultural de se expressar

Rafaella Martinez

Publicado em 23/10/2016 às 10:44

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O grafite atual nasceu na década de 1970, no hip-hop, como forma de expressar a realidade das ruas e a opressão vivida pelas camadas mais baixas da população / Rodrigo Montaldi/DL

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Traços detalhistas, feitos com cores vivas e com ampla gama de significados possíveis. Nos muros das cidades, a arte urbana e contemporânea do grafite quebra a monotonia das paisagens e propõe reflexões, além de discutir o uso e as intervenções artísticas no patrimônio público.

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Embora os registros nas paredes venham da época das cavernas, sendo uma das mais antigas formas do homem se expressar e transmitir sua visão de mundo, o grafite atual nasceu na década de 1970, fazendo parte do hip-hop, movimento cultural que envolvia música (o rap e o hip-hop) e dança (a street dance) como forma de expressar a realidade das ruas e a opressão vivida pelas camadas mais baixas da população. Isso ocorreu na periferia de Nova York, se espalhou pelo mundo e manteve a característica de expressão de rua dos centros urbanos.

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O professor Vlaidner Sibrão de Lima - o Colante - descobriu a habilidade na adolescência, mas o primeiro contato com o spray foi na pichação. “Comecei há 25 anos, em uma época onde não existia grafite em Santos. Alguns anos depois foram promovidos pela Secretaria de Cultura de Santos alguns cursos sobre a arte. Naquela época, o artista plástico Gilson de Melo Barros trouxe alguns artistas que trabalhavam com grafite em São Paulo para dialogar com a galera daqui e dar a oportunidade dos então pichadores produzir murais”, conta.

Na visão dele, é preciso promover ações, cursos e palestras para que os jovens possam começar seus trabalhos com arte urbana já no grafite. “Há aqueles que não querem fazer, mas a maioria se comunica e interage muito bem. Hoje em dia há um campo enorme para quem quer fazer grafite. Antes não tinha material e tampouco informação, algo que vem mudando com o tempo”, afirma.

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Colante é um dos membros da Organização Grafite Santos (OGS), coletivo que atuou em ações como os ‘Pilares de Santos’ - que coloriu as vigas localizadas ao redor do Terminal Rodoviário Municipal, no Centro da cidade - e ‘Graffiti nas Praças’, que coloriu as paredes de três praças santistas em homenagem ao Dia do Artista Plástico.

Para o grupo, embora o diálogo com o poder público e com a sociedade tenha avançado nos últimos anos, ainda são muitos os obstáculos enfrentados pelos artistas urbanos. “Nossa luta é para que a arte seja melhor compreendida. A Polícia Militar dos grandes centros urbanos já tem uma noção maior do que é arte e do que é vandalismo. Com os gestores a relação é mais complicada. Existem leis favoráveis, mas elas não são cumpridas, bem como muitos agentes municipais não têm conhecimento e acabam agindo de maneira inadequada”, afirma.

De acordo com Colante, o artista que vai para a rua expressar sua arte tem inúmeras motivações.

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“Existem algumas pessoas que vão pegar a veia do protesto; outros vão escrever frases e pensamentos e ainda tem alguns que optam por grafitar letras. O que cada um quer é muito pessoal. Alguns grafiteiros são farmacêuticos, professores, bancários e ativistas. A única coisa que nos une é nossa forma de nos expressarmos: por meio da arte urbana. Mas só ficam no movimento as pessoas que realmente gostam, pois a rua é rígida. Se você não está preparado para criticas e intervenções policiais, você não vai continuar. Grafitar é um ato de resistência”, finaliza.

Prefeituras da Baixada Santista apontam ações para o segmento artístico

Por meio de nota, as prefeituras da Baixada Santista apontaram ações específicas realizadas com o objetivo de valorizar a arte urbana.

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A Secretaria Municipal de Cultura (Secult) de Santos afirmou que tem apoiado inúmeros eventos relacionados à arte em questão e à cultura hip-hop, da qual o grafite faz parte. Tais ações já ocorreram no Centro de Cultura Patrícia Galvão, Teatro Guarany e Concha Acústica Vicente de Carvalho, reunindo também música e dança. Destacou também que as equipes da Guarda Municipal atuam apenas em atos que danifiquem o patrimônio público ou particular.

A Secretaria da Cultura de São Vicente desenvolve desde 2014 o Projeto Vias Vivas de fomento e apoio às Artes Urbanas. Em parceria com o Movimento Hip-Hop, a primeira ação do projeto proporcionou a mais de 120 pessoas, entre elas 80 grafiteiros, a possibilidade de participação na mudança do visual do centro da cidade, além de outras ações, como oficinas e intercâmbios.

Não existe legislação específica que beneficie os grafiteiros em Cubatão, mas há uma relação de entendimento mútuo entre a Administração Municipal e os artistas, com a criação de espaços públicos para estimular essa manifestação artística.
Mongaguá também não possui legislação específica sobre atividades com grafite. Porém, promove eventos voltados à linguagem artística urbana, seja na sede do Departamento de Cultura ou em logradouros públicos.

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Em Bertioga, a Secretaria de Desenvolvimento Social, Trabalho e Renda incluiu o grafite nas atividades desenvolvidas pelo Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) junto aos jovens. Durante o curso, os jovens aprendem a importância do grafite como forma de expressão urbana.

Itanhaém não conta com legislação específica sobre o assunto, que vem sendo estudado pelo Departamento de Cultura. Destaca ainda que para realizar o grafitismo, é necessária a autorização prévia do proprietário ou responsável.

A Administração Municipal de Praia Grande tem um estudo para elaborar projeto de lei de valorização do grafite, que prevê festividades, interações e reconhecimento dos artistas locais. Atualmente, já realiza o projeto “Histórias e Traços” que fica na entrada da Cidade, ao lado do Palácio das Artes (PDA), em um muro com 100 metros grafitados.

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