As antigas estações de trem nas cidades do litoral sul estão em estado de abandono / Divulgação
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Viajar de trem na antiga Estrada de Ferro Sorocabana era um ótimo passeio para muitas famílias que moravam nas cidades do Litoral Sul. Antigos moradores de Itanhaém relembram com saudades e têm boas recordações do trem de passageiros.
Eles aguardam a retomada da linha de passageiros que fazia o trajeto Santos-Juquiá, e que está paralisada há mais de 30 anos na região.
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A antiga linha que fazia o trajeto Santos-Juquiá, saía da Estação na avenida Ana Costa, em Santos,até chegar na cidade de Juquiá, no Vale do Ribeira.
A empresa inglesa Southern São Paulo Railwayfoi a responsável pela construção da linha Santos-Juquiá.
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A inauguração ocorreu em 21 de dezembro de 1913, com uma linha provisória que saía de Santos até Itanhaém, pois o trecho até Juquiá não havia sido completado.E em 30 de novembro de 1927 houve a encampação da linha pela Estrada de Ferro Sorocabana.
Um dos funcionários que trabalhou na época na Estrada de Ferro Sorocabana é o aposentado Marcelo Lara, de 89 anos, e que atuou por 25 anos.
Ele é casado com dona Nair Neves Dias Lara (82).O pai dela também trabalhou na Sorocabana. Casados há quase 63 anos, eles tiveram quatro filhos e moram há 50 anos em Itanhaém.
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“Trabalhei como ferroviário na linha permanente, que era o setor responsável pela manutenção da linha férrea. A Estrada de Ferro Sorocabana iniciou com a empresa Southern São Paulo Railway e,anos depois, a Fepasa assumiu”, frisa.
Na época havia trens de passageiros e de cargas que percorriam as cidades do Litoral e de São Paulo.
De Santos a Juquiá eram 34 estações e pontos de parada. Em todo o percurso, o trem levava cerca de três horas de viagem.
Marcelo lembra que viajava por várias cidades, conforme a demanda do serviço.
“Cheguei a ficar uma semana ou até quinze dias trabalhando fora, mas havia um vagão aos funcionários para dormir e fazer as refeições”, completa.
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A sede do aposentado era em Itanhaém, mas quando ele tinha que ir para outras cidades, a empresa pagava em dobro.
Marcelo chegou a sofrer um acidente no vagão em um trem de carga. O trem estava carregando pedras e ele estava ajudando outro funcionário.Porém uma das portas se abriu e ele caiu no chão, mas não teve ferimentos.
Outro acidente ocorreu foi em 1º de abril de 1938, quando chuvas fortes provocaram a queda de árvores à beira do rio e os troncos trazidos pelas correntezas forçaram as colunas da ponte, e não sustentaram a passagem do trem.
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O aposentado Marcelo guarda boas lembranças da época em que trabalhou na Sorocabana.
Ela trabalhou ainda na serra, na região da estação Samaritá, em São Vicente, com desvio para São Paulo. “Tenho saudades dos banhos de cachoeiras que ficavam próximas à serra”, conta.
Marcelo acredita que caso houvesse a retomada da linha de Santos até Peruíbe, seria oferecida mais uma opção de transporte aos moradores da região.
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A escritora e pesquisadora Maria Tereza Leal Diz, conhecida como Teté, também defende a volta da linha de trem de passageiros. Em seu livro, lançado em junho, ela publicou uma crônica sobre a Estrada de Ferro Sorocabana.
Teté conta que passear de trem era uma viagem deliciosa. “Passava-se pelas estações, apreciava-se o movimento, e de quebra, desfrutava-se das paisagens que corriam do outro lado da janela”, destaca.
Diz que com a vinda dos trens, a população passou a fazer passeios até a estação, simplesmente para ver o trem passar. Havia pessoas que iam até a estação para comprar jornais e revistas que eram vendidas no trem.
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“A instalação da estrada de ferro nesta região transformou o cotidiano dos caiçaras, que passaram a mudar os seus hábitos de vida. E proporcionou novos caminhos em busca de uma vida melhor”, completa.
Linha turística
Uma reunião aconteceu, no ano de 2017, para a discussão de um projeto para a retomada do transporte de passageiros sobre trilhos, por meio de uma linha turística,com os prefeitos do litoral sul e o então deputado federal João Paulo Papa, em Peruíbe.
O projeto previa implantar uma linha de trem para fins turísticos, que iria percorrer um trecho de 66 quilômetros, a partir de Mongaguá até Pedro de Toledo.
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A empresa concessionária responsável é a Rumo Logística pela malha ferroviária no litoral de São Paulo.
Conforme reportagem publicada no jornal Folha de São Paulo, na última semana, o governo federal está próximo de dar início à retomada gradual de 11,1 mil quilômetros de trilhos abandonados da malha ferroviária nacional.
Diz ainda que hoje o equivalente a 36% das ferrovias no País virou sucata. E que as atuais concessionárias terão de indenizar os cofres públicos para que possam renovar seus contratos com a União.
Segundo os técnicos do governo, essas indenizações têm capacidade de gerar cerca de R$ 20 bilhões, recurso que pode ser reinvestido no próprio setor ferroviário.
Os trilhos abandonados estão nas mãos de três empresas que assumiram trechos da antiga malha ferroviária federal, no final dos anos 1990.
A maior parte do traçado inoperante é controlada pela concessionária Rumo, responsável por um total de 4.900 quilômetros de ferrovias paralisadas.
Em novembro de 2022, a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) havia aprovado o projeto de lei 148/22, de autoria do Executivo, que previa a retomada do modal ferroviário para o transporte de cargas e de passageiros em São Paulo, através de shortlines – linhas de trajeto curto.
O PL previa ainda a criação do Departamento Ferroviário do Estado que iria regulamentar as shortlines. Porém, até o momento, o projeto ainda não saiu do papel.
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