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Ao pedir que os parlamentares norte-americanos aprovem seu plano de ação militar contra a Síria, o presidente dos EUA, Barack Obama, terá que navegar em meio a um humor público de pessimismo com os possíveis resultados de um ataque dos EUA e com a incerteza quanto a uma resposta militar. Pesquisas recentes apontam uma profunda aversão pública às ações norte-americanas no exterior após mais de uma década de envolvimento no Iraque e no Afeganistão.
Desde o ataque surpresa do ex-presidente dos EUA Ronald Reagan à ilha caribenha de Grenada, em 1983, os presidentes vinham tendo apoio de pelo menos uma pequena maioria do país. Ataques maiores, como a Guerra do Golfo em 1990 e o início da guerra no Afeganistão em 2001, tiveram apoio público significativo.
No caso da Síria, porém, o apoio público à ação dos EUA parece especialmente fraco. Uma pesquisa da NBC News divulgada recentemente apontou que somente 42% dos norte-americanos apoiam o uso de força militar contra o governo sírio por ter supostamente utilizado armas químicas. Esse número subiria para 50% se a ação fosse limitada a ataques de mísseis originados em navios norte-americanos.
"Existem preocupações reais com a eficácia dessa ação e medos profundos de um envolvimento dos EUA na Síria", disse James Lindsay, especialista em política externa que integrou o governo do ex-presidente Bill Clinton. "O público tem um caso grave de cansaço das intervenções após 12 anos de envolvimento no exterior - o maior tempo da história dos EUA."
Estudos sobre o apoio popular para ações militares nos EUA mostram que ele depende fortemente de três fatores: a percepção dos riscos aos interesses e à segurança nacional norte-americana, a perspectiva de sucesso e os custos potenciais, financeiros ou de vítimas.
Na pesquisa da NBC, um quinto dos norte-americanos afirmaram que uma ação militar na Síria seria de interesse dos EUA e somente 27% disseram que um ataque melhoraria a situação do país árabe. O levantamento sugere que Obama enfrentará desafios em seus esforços para impulsionar o apoio público às suas ações.
A pesquisa apontou ainda que o apoio a uma ação militar caiu para 34% entre aqueles que afirmaram que "digeriram muita informação" sobre o suposto ataque químico na Síria, que matou mais de 1.400 civis, segundo o governo norte-americano. O resultado mostrou que o maior conhecimento do assunto diminui o desejo de um ataque militar.
O apoio à ação militar é maior entre aqueles com menos de 35 anos de idade e menor entre os que têm mais de 65 anos. Já as mulheres, em geral, são mais céticas em relação ao assunto. Somente 47% das mulheres, ante 54% dos homens, disseram apoiar um ataque de mísseis por meio de navios norte-americanos.
A falta de apoio à ideia de Obama independe de ideologia. A pesquisa da NBC indicou que somente 46% dos democratas apoiam a ação, ante 41% dos que se classificam como republicanos ou independentes.
Obama vai enfrentar o desconforto bipartidário do Congresso à sua proposta de atacar a Síria com mísseis. O Senado norte-americano deve começar a debater o assunto esta semana e, na semana seguinte, será a vez da Câmara dos Representantes.
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