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O Diário do Litoral foi à casa da viúva e funcionária pública Roberta Reis, a primeira a denunciar irregularidades no Cemitério de Cubatão, para saber como andam as investigações sobre o desaparecimento dos restos mortais de seu marido Luiz Antônio dos Reis Neto e como os filhos estão reagindo à exposição sobre o caso.
Segundo ela adiantou ao DL, há uma esperança na busca pela ossada do marido: um terço idêntico ao que ele usava foi encontrado por sua irmã na abertura do ossário número 6, feita pelos vereadores da Comissão Especial de Vereadores (CEV) na última segunda-feira, dia 22.
Diário do Litoral - Você imaginava que, na primeira reclamação oficial que você fez para alguém, que a história chegaria a este ponto?
Roberta Reis - Não imaginava. Estou até assustada. E as pessoas falam ‘você não tem medo?’, ‘toma cuidado’, mas medo eu não tenho. Estou assustada porque não sabia que iria tomar esta proporção toda, mas além de resgatar os ossos do meu marido, que é o meu objetivo, agora tem uma coisa a mais. Eu, quanto cidadã e moradora de Cubatão, quero que as coisas sejam esclarecidas, que os culpados sejam punidos. Mesmo que eu encontre os ossos do meu marido, eu vou continuar nesta empreitada com os vereadores que são as pessoas que estão me ajudando e estão empenhados nesta luta comigo. Eu já escutei até do coveiro do cemitério que era viúva alegre, mas o meu objetivo não é esse. Eu não quero me aparecer. Se as pessoas estão vindo até mim é porque está dando ‘ibope’.
DL – Você esteve com a prefeita Marcia Rosa esta semana. Como foi o encontro? O que vocês conversaram sobre o assunto?
Roberta – Me ligaram do gabinete dizendo que ela queria conversar comigo e eu fui. Ela se propôs a ajudar, contratar uma empresa de DNA e tudo mais, mas eu não sei até que ponto é política por parte da Administração ou é solidariedade. Neste mesmo dia eu tinha uma entrevista para um canal de televisão, a Prefeitura sabia disso, então eu não sei qual foi o foco em relação a isso. Ela se colocou abismada com tudo isso que está acontecendo, ela mostrou para mim todos os documentos que provavam que o pedreiro em questão é dono de quase todo o cemitério porque todo mundo doava campas para ele e ele repassava como doação para terceiros. Eu acredito que ele não esteja sozinho nisso. Ela me perguntou se eu desconfio, mas eu não posso julgar ninguém e nem apontar esse funcionário ou aquele porque eu não conheço os servidores do Cemitério. Não sei quem são, estou conhecendo agora. Mas eu desconfio sim. Acho que todos desconfiam. Vai aparecer mais coisa. As pessoas estão denunciando na Câmara. E eu ouvi uma história dizendo que há politicagem por parte dos vereadores, que eles estão querendo se promover. Mas não tem nada a ver com política porque eu que fui pedir ajuda. A primeira pessoa que eu pedi ajuda foi para o Ivan (Hildebrando) e depois para o Roxinho, porque eles têm assessores que são nossos amigos. Eu tenho uma amizade com o Dinho (Heliodoro) fora da política. Mas é como eu falei para a Marcia Rosa, eu não estou culpando esta Administração ou a outro porque é uma coisa antiga, mas a história estourou agora e ela que vai ter que responder quanto prefeita. E ela me disse que administrativamente isto não dá em nada, que não há punição para o funcionário. Isso eu ouvi da boca dela. Mas eu espero que juridicamente isto dê em alguma coisa. Eu acho que tem que haver uma punição sim. Eles têm que ser demitidos, exonerados. Então quer dizer que o funcionário público pode fazer o que quiser. Mas, enfim, continuo com o meu objetivo que é encontrar os restos mortais do meu marido e há está possibilidade.
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DL – Recebemos a informação de que a sua irmã teve acesso ao ossário e de que ela teria visto um terço que seria do seu marido. Esta história procede?
Roberta - Sim. Este terço ele tinha um e eu outro, ganhamos em um encontro de casais (evento religioso) que fizemos e a minha irmã desconfiou que fosse o dele. Como eu tenho o meu, ela conferiu e ela comprovou que é o mesmo. Eu tive acesso a uma foto deste terço e, realmente, é o terço dele. Então, minha advogada está solicitando à Prefeitura que eles façam a retirada. Na verdade, ela foi ao delegado e ele disse que precisa de uma negativa da Prefeitura para abrir este ossário judicialmente. A Prefeitura tentou fazer um acordo comigo, mas eu não quero acordo nenhum com a Prefeitura porque eu fiquei todo este tempo nadando contra a maré e ninguém se posicionou. E eu tenho medo de fazer acordo com a Prefeitura porque eu não sei qual é a intenção deles, se é para me ajudar ou se é para camuflar mais as coisas. Então vou fazer as coisas dentro da esfera política, minha advogada já fez o documento e vou protocolar hoje (sexta-feira, dia 26). Se eles tiverem a fim de me ajudar, eles vão agilizar isto, porque só assim a Polícia poderá autorizar a retirada.
DL – É a mesma situação da Neide (terceira depoente). Ela precisa de uma autorização judicial para abrir o seu jazigo e confirmar a história que contou à comissão.
Roberta – É engraçado. Eles mexem à vontade nas campas, trocam os corpos e a gente, que tem direito de fato, precisa de toda uma burocracia. Não existe burocracia, não existe lei, não existe nada para quem trabalha lá dentro. Agora para a gente que é da família existe toda uma burocracia. Eu espero que eles não se oponham e que eles ajudem porque eu quero fazer o DNA. Aquela parte eu posso dizer que é dele, mas e o restante. A prefeita me propôs em receber só as partes principais, mas eu não quero. Eu não enterrei só as partes principais dele.
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DL – Na quinta-feira, em coletiva à imprensa, a prefeita Marcia Rosa explicou que a Administração está contatando empresas de DNA, mas que será trabalhoso e oneroso para os cofres públicos porque são muitas partes para serem analisadas.
Roberta – Eu digo para ela que é problema dela. Se for oneroso para os cofres públicos, eu não quero saber. Porque está sendo muito mais oneroso para a minha família. Não tem dinheiro nenhum que pague o que fizeram comigo e com os meus filhos. Vai demorar muito tempo para a gente recuperar tudo o que a gente já vinha se recuperando. A gente ainda está caminhando para se recuperar do falecimento dele. A gente estava começando a viver nossa vida e aí veio esta cacetada. Isso não tem dinheiro que pague. E será muito mais oneroso para eles porque eu vou processar a Prefeitura sim.
DL – Como estão os seus filhos com toda esta história e esta exposição?
Roberta – É complicado. Meu filho está no psicólogo. Minha filha está na psicóloga, está com depressão, está tomando medicamento e fazendo tratamento com psiquiatra. Ela teve problemas na escola, as notas caíram. Ela é mais velha, ela sente mais. Eu também não consigo dormir, não consigo comer. Também estou na psicóloga. Já tinha recebido alta, mas tive que retornar. Mexe com todo mundo. Minha mãe ficou doente, minha sogra a mesma coisa. Não é fácil lidar com isso. O mais novo não entende direito, fica agressivo e você tem que contornar, tem que entender.
DL – O que você diria a pessoas que viveram uma história parecida, mas que ainda não se manifestaram e não denunciaram por medo ou por achar que não tem solução?
Roberta – Não tem que ter medo. Se não for agora, não vai ser nunca mais. Se vocês desconfiam de alguma coisa, se têm uma história parecida, denunciam na Câmara. Não adianta denunciar na administração do Cemitério porque eles camuflam tudo e jogam para baixo do tapete. Façam um boletim de ocorrência e procurem os vereadores. Às vezes, nem resolverá o problema, mas vai ajudar a parar tudo isso que acontece de errado.
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DL – Você acha que o senhor Raimundo (pedreiro autônomo envolvido nas denúncias) tem alguma coisa a ver especificamente com o seu caso?
Roberta – Eu acho. Achar não prova nada, a gente tem até medo de falar alguma coisa. Mas eu acho que não só ele como alguém do Cemitério, que permitiu.
DL – Antes desta confusão toda, a senhora conhecia o Sr. Raimundo?
Roberta – Não. Minha sogra sim. Ela já procurou os serviços dele para fazer a reforma da sepultura da família dela e ele cobrou R$ 15 mil na ocasião e aí começou a confusão porque não queriam deixar outro pedreiro entrar para fazer o serviço. Houve reclamação na Prefeitura sobre a exclusividade dele neste tipo de serviço e ela conseguiu levar outro pedreiro para arrumar o jazigo que cobrou R$ 6 mil. Mas o coitado do pedreiro levava material dele para trabalhar e roubavam. Diziam lá que eram os vândalos.
DL – A senhora foi ameaçada de alguma forma?
Roberta – Por enquanto não. Não fui ameaçada e não acredito que vá ser. As pessoas que mexem com isso, que fazem bandidagem com restos mortais, são covardes. As pessoas que mexem com quem não pode se defender são covardes. O meu medo é que, além dos funcionários que são pessoas mais simples, existam pessoas maiores, forças maiores por trás desta história.
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