Cotidiano
Grande passeata e audiência pública na Câmara para conscientizar as autoridades e a opinião pública estão sendo organizadas por lideranças e membros de entidades de bairro
Os bandidos estão invadindo escolas, levando tudo e se aproveitando das saídas e entradas de estudantes para abordar pais, mães e moradores / Rodrigo Montaldi/DL
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Mães, crianças, direção e funcionários da Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) Samuel Augusto Leão de Moura, apoiados pelas demais escolas e inúmeras lideranças e entidades de bairro, estão preparando uma grande passeata pelas ruas e uma audiência pública na Câmara para tentar sensibilizar autoridades e a opinião pública sobre a situação dramática envolvendo a falta de segurança em uma das áreas mais esquecidas de Santos: a Zona Noroeste. Marginais estão invadindo as escolas e roubando tudo, além de praticarem assaltos em frente as unidades de ensino.
Uma comissão, formada por duas mães conselheiras da escola – Waleska Bley e Thais Lourenço – a diretora da unidade, Vania Bernal, e Eraldo Gomes Andrade, do segmento dos caminhoneiros independentes e 54 anos residente na região, revelou que, literalmente, a população está refém do crime. “A escola já foi invadida várias vezes. No último dia 14, mais uma vez. A escola estava ‘de pernas para o ar’. Roubaram ventiladores, torneiras, mesa de som, computador e monitor, além de dois notebooks usados pelas crianças. Foi mais vandalismo do que roubo. A situação que chegou ao limite”, afirma Thais, que confidenciou que chegou a escapar de uma tentativa de estupro.
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Waleska alerta que a violência não se resume à parte interna da escola, mas do lado de fora também. “As pessoas estão sendo assaltadas em plena luz do dia, nos horários de entrada e saída em função do grande movimento de alunos. As mães estão apavoradas. Chegaram a colocar a arma na cabeça de uma criança cadeirante. Ninguém está levando filho na escola com celular ou aliança”.
A comissão enfatiza que não vê efetivo da Polícia Militar e da Guarda Municipal na Zona Noroeste. Essa última, segundo alerta, coloca duas viaturas – uma na Passarela do Samba Dráusio da Cruz (Sambódromo) e outra no Complexo Hospitalar da Zona Noroeste – que são insuficientes. Os membros garantem que as 25 escolas da região estão sofrendo o mesmo e que até prostituição ocorre no entorno da EMEI que representam, que é cercada por terrenos abandonados e vulnerável à ação dos marginais.
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A diretora Vania Bernal afirma que não restou outra alternativa senão a mobilização. “Só assim o poder público, que está omisso há tempos, resolverá tomar uma providência. Câmeras de segurança só chegaram após os roubos, mas é preciso mais. Temos 380 crianças de três a seis anos, de manhã e à tarde, sob risco. É preciso um amplo projeto social para tirar os adolescentes da marginalidade. A situação não pode ser analisada somente pela vertente da segurança pública. É preciso assistência social às famílias para que os jovens não sejam cooptados pelo crime”, alerta a diretora, ecoando a opinião de especialistas em Educação.
Eraldo Andrade garante que hoje há uma insatisfação geral na Zona Noroeste. Ele já teve sua casa invadida e o marginal colocou a arma sobre a cabeça de sua esposa. Ele aponta descaso por parte das políticos e autoridades que só lembram da região por ser o segundo maior colégio eleitoral do Município e destaca que viaturas da Polícia Militar só são vistas no entorno dos supermercados da Avenida Nossa Senhora de Fátima – principal via de acesso à Zona Noroeste.
“Depois de eleitos, eles (políticos) não cumprem com suas obrigações. Os moradores não têm sossego. Até policlínicas são assaltadas e casas invadidas. Comerciantes foram mortos e até feirantes estão sofrendo. As delegacias estão sucateadas e fecham nos finais de semana. O descaso é total e agora atinge as crianças. Tem professor que está tendo que implorar para que o crime organizado poupe as escolas. Um terror”, desabafa o caminhoneiro e morador.
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Alerta feito
A Comissão ressalta que, recentemente, um alerta sobre a situação foi feito em reunião aberta onde compareceram membros de associações de bairro, do Conselho Regional de Educação, da Guarda Municipal, diretores das 25 escolas da região e vereadores. Os presentes do Legislativo foram Telma de Souza e Chico Nogueira, ambos do PT; Fabrício Cardoso (PSB) Audrey Kleys (PP); Fabiano da Farmácia (PR); Augusto Duarte; Geonísio Aguiar (Boquinha) e Kenny Mendes, todos do PSDB. Os secretários de Educação e de Segurança não compareceram, mas enviaram representantes.
Município explica, Estado não
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Procurada, a Prefeitura de Santos respondeu que a Secretaria Municipal de Segurança Pública, por meio da Guarda Municipal, está reforçando o patrulhamento nas escolas da Zona Noroeste, em parceria com a Polícia Militar. Além disso, instalou na última sexta-feira (22), na Escola Samuel Augusto Leão de Moura, quatro câmeras de monitoramento e também alarme, este com vários sensores distribuídos pela unidade.
“Câmeras de monitoramento estão sendo providenciadas para as outras unidades da Zona Noroeste, como Anízio Bento e Leonardo Nunes, que serão integradas ao SIM (Sistema Integrado de Monitoramento), em parceria com a Polícia Civil”, finaliza nota. A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo não se manifestou sobre o assunto.
Kenny vai buscar ajuda em São Paulo
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De todos os vereadores, o que se apressou em uma solução foi Kenny Mendes. Ontem, por whatsapp e um vídeo, ele informou que foi à São Paulo (capital) em audiência o comandante Geral da Polícia Militar do Estado, coronel Nivaldo Restivo.
O parlamentar foi falar justamente da invasão das escolas de Santos por marginais e entregar um abaixo-assinado com 8.100 assinaturas que conseguiu via redes sociais pedindo aumento do efetivo. Kenny levou edições do Diário do Litoral que retrataram a falta de segurança nos campus das faculdades localizados no Boqueirão (ver nessa reportagem). A audiência foi marcada pelo deputado Guilherme Mussi (PP), que não é da região.
Da ZN para o Boqueirão
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Vale lembrar que na última segunda-feira (25), o Diário publicou mais uma reportagem sobre a falta de segurança no entorno dos campus das universidades localizados no Boqueirão. Nela, foi revelado que, percebendo de que nada valeram as reuniões com o ouvidor público de Santos, Rivaldo Santos, com o secretário de Segurança Sérgio Del Bel e com membros 7º Conselho de Segurança (Conseg), o Centro Acadêmico Alexandre de Gusmão, da Faculdade de Direito da Universidade Católica de Santos (UniSantos), resolveu fazer uma ‘carta aberta’ pedindo socorro às autoridades no sentido de conter o grande número de assaltos.
Os estudantes estão preocupados com uma possível tragédia já que, por diversas vezes, ela está sendo anunciada. “Até nos atrevemos a dizer que foi a mais pura sorte o fato de nossos três colegas terem saído ilesos da situação. Sim, nossos três colegas, Desta vez, saíram sãos e salvos do triste episódio e não virarão manchetes nos jornais, nem silenciarão os corredores de nossa faculdade com sua ausência, nem inundarão as redes sociais com mensagens de pesar ou motivarão passeatas pela paz”, escreveram.
Os alunos já haviam iniciado um abaixo-assinado exigindo mais segurança nas ruas de entorno dos principais campus localizados na extensão da Avenida Conselheiro Nébias. Além da UniSantos, a Universidade Santa Cecília (Unisanta), a Metropolitana de Santos (Unimes), a Escola Superior de Administração, Marketing e Comunicação de Santos (ESAMC) e o Centro Universitário Lusíada (Unilus) passam pela mesma situação.
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