Cotidiano

Pedestres se preocupam com chegada do VLT em São Vicente

Segundo moradores vizinhos à estações inauguradas, ciclistas e pedestres não respeitam limites do novo transporte

Publicado em 29/08/2015 às 23:54

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“Não há progresso sem mudança”, já diria o dramaturgo George Bernard Shaw. Esta frase é a realidade dos moradores de Santos e São Vicente desde o início das obras do VLT, em 2013. Até agora, as mudanças negativas são as que mais incomodam a população. Por isso, a Reportagem do Diário do Litoral percorreu todos os pontos de obras para saber as vantagens e desvantagens que o novo transporte está proporcionando nos locais.

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No geral, a maior reclamação é dos pedestres. Semáforos muito espaçados e demorados, falta de segurança para atravessar, falta de respeito dos ciclistas, cruzamentos perigosos e o livre acesso aos trilhos. “Está horrível para atravessar depois que colocaram os trilhos. Eu sou uma senhora de idade e tenho dificuldade para me locomover. É difícil ter que andar tanto para poder atravessar e ainda esperar tanto tempo até ter a passagem livre. No horário de pico, a situação piora”, reclama a aposentada Rosa Maria da Costa, que mora próxima à Estação São Vicente.

Para a secretária Fátima Junqueira, além da espera no semáforo, a falta de respeito dos ciclistas com a sinalização prejudica ainda mais a passagem dos pedestres. “Eles não respeitam. Mesmo com o sinal fechado para eles, eles dão um jeito e atravessam. Já vi gente sendo atropelada por eles na calçada, enquanto esperava para atravessar. Quando os trens começaram a funcionar efetivamente, acho que esta parte precisa ser revista”, sugere a moradora vizinha à Estação Nossa Senhora das Graças.

E os motoristas também reclamam. “Estes semáforos precisam ser mais rápidos ou então um carro de polícia terá que ficar em cada esquina. Esta região não é segura para ficarmos tanto tempo esperando. Não era antes e vai ser pior agora”, lamenta o técnico de segurança Diego Dantas, parado na Estação Emmerich.

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Outra preocupação dos moradores, que também foi flagrada pela Reportagem do jornal, é a passagem dos pedestres pelos trilhos do VLT. “Eu não sei como eles vão fazer, mas acho que deveriam por gradil ou algo que impedisse os moradores de atravessarem sob o trilho. Tem gente que faz caminhada e anda de bicicleta entre os trilhos. Isto não vai dar certo. Por enquanto, só estão fazendo testes, mas eu quando começar pra valer?”, questiona o aposentado Oscar Fernandes Morais, vizinho da Estação José Monteiro.

Sem gradil

Segundo a Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU), nesta fase de testes, a sinalização dos locais de circulação do VLT é de responsabilidade da companhia de transito local.

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“A EMTU/SP está construindo um Centro de Controle Operacional, no Terminal Porto, que vai controlar os semáforos do percurso do VLT de forma inteligente, com capacidade para orientar os cruzamentos por onde circulará o VLT”, explica.

No entanto, garante que para minimizar incômodos e interferir minimamente na vida da população, a construtora responsável, em parceria com o departamento de trânsito do município, tem procurado sinalizar e informar a população a respeito das intervenções e desvios em andamento.

Sobre a passagem dos pedestres sob os trilhos, a EMTU afirma que o VLT não contará com cancelas, grades ou bloqueios além dos semáforos. “Não se trata de um trem e sim de um veículo de alta tecnologia criado para se integrar, de forma harmoniosa, com o entorno dos bairros por onde circula, com a rotina da população e os demais modos de transporte”.

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O VLT circulará com uma velocidade média de 30 quilômetros por hora. Nos cruzamentos, a velocidade média será de aproximadamente 20 quilômetros por hora.

Passagem de pedestres pela área do VLT não será detida (Foto: Matheus Tagé/DL)

Cidade mais bonita

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Mas não é só reclamação. Para alguns moradores, a chegada do VLT à cidade ajudou a urbanizar uma área que estava abandonada. “Aqui está bem mais bonito do que antes, quem mora por aqui sabe”, elogia a dona de casa Benedita dos Santos. O mesmo confirma o ambulante Carlos José. “Dá até uma valorizada no nosso negócio, não posso reclamar”, complementa. Ambos acompanharam de perto as obras da Estação Mascarenhas de Moraes.

Mas a frente, na Estação São Vicente, a aposentada Neide Teixeira, confirma as mudanças positivas. “Está bem melhor. Agora está urbanizado e iluminado. Tem cara de cidade mesmo”, comenta. Assim como acredita o jornaleiro Sinésio José Leite, que trabalha em frente à Estação José Monteiro. “O VLT coloca São Vicente em primeiro lugar neste quesito. Isso é muito bom. Temos uma cidade mais bonita”, elogia.

Foi inaugurada?

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Em junho deste ano, o governador Geraldo Alckmin esteve em Santos para inaugurar as primeiras cinco estações do VLT e túnel que liga a cidade à São Vicente. No entanto, mesmo com os locais entregues à população, a Reportagem encontrou diversos operários e maquinários trabalhando na maioria das estações já inauguradas.

Questionada, a EMTU se limitou a dizer que “as nove estações das 15 paradas da primeira etapa do VLT já estão prontas e passam por testes diários, que é uma etapa primordial para que uma nova linha possa iniciar a operação comercial”.
Segundo a empresam, os testes servem para que profissionais e passageiros se habituem ao novo sistema, ao mesmo tempo em que permite a implantação e ajustes de sistemas e equipamentos que elevem os padrões operacionais até os níveis necessários ao início da operação comercial.

Maior problema está no Itararé

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O problema maior do VLT em São Vicente acontece próximo à Estação Itararé. Os moradores do bairro acreditam que as obras do Estado pioraram a drenagem das ruas e os alagamentos passaram ser maiores. O caso foi denunciado ao Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente da Baixada Santista (Gaema-BS), que convocou uma reunião com os munícipes, representantes da EMTU, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), a Prefeitura de São Vicente (que não compareceu) e o engenheiro Miguel Garcia Sobrinho, encaminhado pela Promotoria.

No final de junho, o parecer de Sobrinho concluiu que “as obras do VLT provocaram a impermeabilização do terreno e a consequente diminuição da área de drenagem natural, aumentando o volume de contribuição das águas pluviais na rede de drenagem”. Além disso, segundo o engenheiro, as intervenções contribuíram para o represamento das águas, agravando os problemas de alagamento na região.

Sobrinho afirmou ainda que o sistema de drenagem projetado e implantado no trecho da Estação Itararé do VLT não foi suficiente para garantir o adequado escoamento das águas pluviais que se direcionam para a Rua da Constituição, uma das mais atingidas.

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Com isso, Sobrinho determinou que “os responsáveis pela obra deverão apresentar e executar novo projeto de drenagem”. Entre as ações necessárias, o engenheiro expõe: a limpeza e o desassoreamento das galerias existentes a cada 30 dias, em períodos de chuvas intensas; criar galerias complementares para captar as águas pluviais vindas do morro Itararé; substituir o revestimento de concreto das canaletas por grama; e a captação das águas que passarão pelas canaletas para que elas sejam direcionadas para uma caixa coletora. Todas estas ações devem ser executadas antes do período próximo de chuvas.

A Reportagem verificou na última semana que homens estão trabalhando nos locais mencionados pelo engenheiro.
Desde agosto do ano passado, os moradores sofrem com as enchentes. Segundo eles, os problemas são decorrentes das obras do VLT, que retiraram a drenagem natural e elevaram o nível da rua.

“Nós fizemos inúmeras reclamações, tentamos o diálogo, mas não tivemos resposta. Só tivemos resposta quando denunciamos o caso ao Ministério Público e a doutora Almachia comprou nossa briga”, explica o turismólogo Renato Marchesini, um dos moradores da via.

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Em setembro do ano passado, Marchesini e outros moradores da Rua da Constituição solicitaram a imediata intervenção do Ministério Público nas obras da EMTU e Consórcio Expresso VLT.

“Moramos em uma rua que já possuiu histórico de enchentes. Mas durante anos, a via foi objeto de mudanças e adaptações que sanaram os problemas de grandes inundações, isso durante os últimos 12 anos. Quando iniciaram as obras do VLT, os moradores, vislumbrando a diminuição das áreas de drenagem naturais já anteriormente criadas, alertaram os responsáveis pela obra deste fato, e que fossem criteriosos na execução da drenagem da rua. Para nosso espanto, ao longo da obra começamos a observar que, em vez de melhorar, estavam piorando a drenagem”, explica Marchesini.

Segundo o turismólogo, as primeiras cheias ocorreram em agosto do ano passado. Desde então, os moradores da Rua Constituição tentam a atenção da EMTU para solucionar o problema. “No dia 19 de setembro de 2014, alguns engenheiros vieram na rua conversar com os moradores, afirmando que não teríamos problemas, pois era um sistema de drenagem todo projetado e que não deveríamos nos preocupar”, conta.

Depois desta data, outras reuniões foram marcadas, mas não evitaram que chuvas de dezembro e janeiro causassem estrago nas moradias. “Tivemos um ano de estiagem e sem chuvas. Foi aí que em 22 de dezembro de 2014 aconteceu o que os moradores temiam. Primeira chuva de verão e maré alta, exatamente o que estávamos alertando e eles não deram valor”.

O número de prejuízos, Marchesini contabiliza em documento encaminhado ao MP: “ruas, casas, carros alagados e moradores ilhados; moradores que perderam bens materiais; lama e esgoto dentro das casas; crianças, idosos, adultos e turistas constrangidos em meio ao alagamento e risco de doenças”. Os mesmos problemas se repetiram um mês depois.

Questionada sobre o problema, a EMTU garante que as obras do VLT não prejudicaram o sistema de drenagem do bairro. “O projeto realizado ao longo do trecho Barreiros-Porto promoveu, inclusive, melhorias na drenagem de águas pluviais da região. A Rua da Constituição, cujos moradores reclamaram de problemas com enchentes, situa-se praticamente ao nível do mar, o que também dificulta a vazão da água da chuva no caso de altos índices pluviométricos. Tal situação ocorria mesmo antes da obra do VLT”, justifica.

Além disso, a empresa afirma manter reuniões com a Prefeitura e com moradores da região para esclarecer as providências tomadas e tem solicitado à Administração a limpeza das bocas de lobo, que poderá minimizar o problema relatado pelos moradores.

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