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“Estive na prisão e fostes visitar-me”. Este é o versículo 36 do capítulo 25 do Evangelho de Matheus. E é também o lema da Pastoral Carcerária, braço da Igreja Católica que leva um pouco de acalanto aos presidiários em todo o País. Como prioridade central está a evangelização, mas algumas coordenadorias, como a da Diocese de Santos, vão mais além e incluem a caridade ao serviço.
Na Baixada Santista, o vice-coordenador da pastoral Murilo Martins se dedica a este serviço há 20 anos. No entanto, só assumiu a coordenadoria em 1999. “Aqui, nós colocamos um trabalho que, possivelmente, não terá em outras dioceses. Cada diocese faz do seu jeito. Além da evangelização, nós demos espaço a caridade”, explica.
Segundo Martins, para os detentos que não recebem visitas familiares, ter produto de higiene é mais difícil. Ele explica que o Estado fornece, mas que os produtos acabam viram itens de barganha dentro do presídio. “Nós vemos tanta desgraça, tanta situação difícil. Apesar deles terem causado muitas desgraças aqui fora, é lá dentro que eles começam a pagar”, complementa.
O trabalho da Pastoral Carcerária – que possui cerca de 30 membros de toda a Região -, além de possibilitar a ressocialização do detento com a palavra de Deus, pode apontar problemas estruturais dos presídios onde ocorrem as visitas. “A situação das cadeias da Região está péssima. Algumas têm mais tranquilidade do que outras, mas dois problemas despontam dentro dos presídios: saúde e superlotação. Elas que tornam as coisas mais difíceis. Se a cela cabe 10, eles colocam 20. Eles têm que receber os presos. O diretor não pode recusar preso”, explica o vice-coordenador.
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Foi desta forma que a pastoral santista denunciou as más condições da Cadeia Feminina de Santos – desativada para reforma desde julho do ano passado. As instalações em condições precárias – com infiltrações de água por toda a parte, fiação elétrica exposta, além da superlotação – eram há tempos denunciadas pela Pastoral Carcerária da Cidade, e em dezembro de 2013, Heidi Cerneka, da coordenação nacional da Pastoral, esteve no local junto com defensores públicos. Com isso, o Tribunal de Justiça (TJ-SP) determinou - em junho do ano passado – a interdição da unidade prisional, proibindo também a entrada de novas presas na carceragem.
“A gente costuma encaminhar diretamente para a pastoral estadual. Eu participei por 12 anos do Conselho da Comunidade, um órgão da VEC (Vara de Execuções Criminais) que ajuda a pastoral nestas denúncias. A VEC tem um pouco mais de respeito, porque eles (órgãos judiciais) enxergam a pastoral só como religião”, explica Martins.
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Visitas
As visitas aos Presídios e Centros de Detenção Provisórios (CDPs) são feitas aos sábados. A pastoral evita visitar no mesmo dia que as famílias por considerar as visitas familiares mais importantes.
Os agentes se reúnem com os detentos para ler o Evangelho e fazer uma reflexão sobre a palavra de Deus e deixam livres aqueles que querem dar algum testemunho. Os agentes levam também um kit de higiene pessoal, revistas religiosas e a Liturgia Diária. “O mais importante para a Pastoral Carcerária é nunca perguntar o que os detentos fizeram no passado, porque isso já foi, já passou. Mas perguntamos o que eles querem fazer no futuro”, ressalta Martins.
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Os agentes também fazem visitas às famílias, atendendo pedido dos próprios presos. Atualmente, as visitas são feitas no CDP de São Vicente, nas penitenciárias masculinas 1 e 2 e no 2º Distrito Policial, também em São Vicente; no Centro de Progressão Penitenciária de Mongaguá e no Cadeião de Vicente de Carvalho.
Martins explica que a principal característica para ser um agente da Pastoral Carcerária é sentir o ‘chamado’: “As pessoas tenham receio de fazer parte deste trabalho, mas é preciso ver que os presidiários são seres humanos e, muitos, se mostram arrependidos, com desejo de retornar para a família e reconstruir a vida dignamente. Por exemplo, temos um caso de um ex-detento que saiu da prisão, voltou a trabalhar e hoje é dono de uma imobiliária, conseguiu refazer a vida e essa é nossa maior alegria”, destaca.
Doações
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A Pastoral Carcerária recebe doações de material de higiene pessoal, como sabonetes, cremes dentais, escovas de dente, lâminas de barbear, absorventes e papéis higiênicos.
As doações podem ser feitas nas paróquias ou na Cúria Diocesana de Santos, que fica na Avenida Conselheiro Rodrigues Alves, 254, Macuco. Quem deseja ser um agente da Pastoral Carcerária pode entrar em contato com o Centro de Pastoral da Diocese de Santos através do telefone (13) 3228-8888.
No Brasil
Assim como acredita a Pastoral Carcerária Nacional, este ministério nasceu com o próprio Jesus Cristo. “Ele mandou que os cristãos visitassem os presos e Ele mesmo foi um preso. Depois dele, os apóstolos também foram presos, recebiam visitas e se correspondiam por cartas com os demais cristãos. Essa solidariedade dos cristãos com os presos, que hoje chamamos de Pastoral Carcerária, nasceu com o próprio cristianismo e cresceu espontaneamente, pois onde existisse uma prisão, havia voluntários visitando os encarcerados”, explica no site www.carceraria.org.br, onde é possível conhecer o trabalho desenvolvido em todo o País.
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A coordenação nacional foi criada em 1988. “O massacre do Carandiru em 1992 abriu as veias do sistema penitenciário. A Pastoral Carcerária que já vinha apontando as frequentes brutalidades do sistema foi uma importante fonte de informação para aqueles que desconfiavam dos dados oficiais”.
Com o lema: “Cristo Liberta de todas as Prisões”, a Campanha da Fraternidade sobre os presos de 1997 representou um marco na vida da Pastoral Carcerária, pois a partir daí houve extraordinária expansão da Pastoral Carcerária por todo o Brasil.
Durante as rebeliões de maio de 2006, a pastoral acompanhou de perto os acontecimentos e “apontou os equívocos de uma política estatal minimalista no reconhecimento dos direitos dos presos e maximalista na criminalização e repressão aos pobres. Essa política repressiva levou a Pastoral Carcerária a propor como tema da Campanha da Fraternidade de 2009 a segurança pública para trazer os cristãos e a sociedade em geral a assumir, juntos, o compromisso com a paz”.
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