Cotidiano

Passo a passo mostra como apadrinhar crianças e adolescentes em Santos

Santos possui três abrigos: Casa Vó Benedita, Educandário Anália Franco e Casa da Criança

Jeferson Marques

Publicado em 03/04/2022 às 19:37

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Divulgação/PMS

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Procura-se quem esteja disposto a oferecer carinho e atenção, ou seja, desenvolver uma responsabilidade afetiva sobre crianças e adolescentes que morem em abrigos de Santos e não tenham chances de adoção ou retorno à família de origem. O caminho chama-se apadrinhamento afetivo - um programa previsto em lei municipal e no Estatuto da Criança e do Adolescente (Eca). O objetivo é ajudá-los a ter uma referência além dos muros da instituição, mantendo vínculos afetivos e duradouros com madrinhas e padrinhos - pessoas interessadas em doar amor e receber, no final das contas, muito mais em troca.

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“É um programa que já está no Eca, então a gente está fazendo valer a lei. E busca formar um elo entre essas crianças e adolescentes que estão em acolhimentos institucionais com alguém em quem poderão confiar e ter apoio do lado de fora”, destaca a psicóloga do programa, Biancha Meneguin Pereira Bordinhon.

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Santos possui três abrigos: Casa Vó Benedita, Educandário Anália Franco e Casa da Criança. Atualmente há quatro crianças e adolescente com padrinhos afetivos no Município e outras quatro aguardam por alguém que esteja interessado no programa, que abrange abrigados de sete e 18 anos incompletos.

APOIO DA FAMÍLIA

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Mas, para se tornar uma madrinha ou padrinho afetivo, é preciso cumprir algumas etapas, que incluem entrega de documentação e entrevistas, antes de se aproximar do afilhado. São condições para garantir a segurança e o bem-estar dos participantes. O processo de seleção pode levar cerca de quatro meses, explica Biancha.

As exigências para se cadastrar incluem ser maior de 21 anos e morar no Município. Apresentar comprovante de residência, além de RG e CPF próprio e também das demais pessoas que vivem na residência do interessado. Não pode haver nenhuma pendência judicial e ainda é necessário apresentar antecedentes de saúde física e de saúde mental.

O interessado receberá um termo de adesão ao programa, no qual constará os deveres e direitos dos padrinhos e madrinhas. Ele e os familiares também terão de assinar o termo de consentimento, porque o objetivo é promover a convivência familiar.

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“Não adianta a pessoa querer participar sozinha, já que vai levar essa criança ou adolescente para a casa dela. E se o marido ou a mulher não aprovar? Ou os filhos falarem algo? A gente estará revitimizando essas crianças e é tudo o que a gente não quer”, esclarece a psicóloga do Apadrinhamento Afetivo.

CONHEÇA AS ETAPAS DO PROCESSO

Se após conhecer as exigências, você estiver interessado, confira as etapas a seguir.

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O próximo passo será agendar uma entrevista no setor responsável, que geralmente dura duas horas. O encontro visa apresentar o programa e colher dados do futuro padrinho. Nessa entrevista o interesse é saber como foram os relacionamentos do interessado em apadrinhar com pai e com mãe,  como está dividida a dinâmica familiar, quem comanda a casa. O foco é a questão do afeto, não a financeira.

Outro requisito fundamental é disponibilidade de afeto e de tempo, porque o apadrinhamento afetivo exige aproximações sucessivas com as instituições de acolhimento também. Não será só um vínculo do padrinho ou madrinha com o afilhado. Há várias pessoas envolvidas, como as equipes técnicas do apadrinhamento, do acolhimento e do judiciário, uma vez que a Vara da Família também acompanha a seleção.

Existe uma capacitação, que é uma oficina de preparação para apadrinhar. São sete encontros de aproximadamente duas horas cada. Os padrinhos também terão de visitar seus afilhados, no mínimo, a cada 15 dias. O futuro padrinho ou madrinha entrará na vida da criança ou adolescente por completo, estabelecendo uma responsabilidade afetiva.

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Nesse momento, o interessado também conhece o perfil do futuro afilhado. Muitas crianças e adolescentes têm famílias com transtorno mental ou histórico de uso abusivo de drogas ou ainda foram vítimas de abuso sexual.  O interessado será treinado, a todo momento, para lidar com as situações. Faz parte afastar preconceitos e estigmas para que, se houver problemas, como acontece com qualquer adolescente, não haja o rótulo de que ocorreu porque é acolhido.

Após as oficinas, é realizada uma visita domiciliar para saber se a família tem conhecimento do programa e para esclarecimento de dúvidas. Depois, o cadastro da família será apresentado ao grupo gestor que aprovará ou não o interessado.

Na sequência, ocorre a entrega da documentação para a Vara da Infância e Juventude, onde é aberto um processo e, finalmente, ocorre a homologação do cadastro. Nesse processo também é traçado o perfil de afilhado, porque ele também tem que querer ser apadrinhado.

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Após a homologação e a seleção, é hora de conhecer o futuro afilhado. Uma fase que também acontece aos poucos. Primeiro, ambos trocam cartas sem saber exatamente quem são. Depois constroem avatares - espécie de figura digital representando a pessoa -, como primeira forma de apresentação. Somente depois disso, é que finalmente são apresentados pessoalmente. O encontro ocorre na seção de apadrinhamento e é monitorado.

Depois, há um mês de visitas semanais, que ocorrem na seção de acolhimento, para que seja avaliada a reação do afilhado diante dos encontros e como ele lida com isso. O próximo passo é eles darem uma volta. Depois passam o dia juntos. Após a análise desses encontros, os padrinhos têm autorização para levar o afilhado para casa.

Professora conseguiu realizar um sonho

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“Sempre sonhei em ser mãe de uma menina''. Foi assim que a professora Paula Gois Matos, 45 anos, deu os primeiros passos em direção ao programa. Apesar da vontade de ajudar, ela conta que o convite chegou por um acaso. Primeiro foi uma solicitação de amizade feita por uma entidade de acolhimento institucional para crianças e adolescentes no Facebook, que buscava voluntários. Depois, devido à disposição dela, veio o chamado para ser madrinha afetiva.

“Fiquei lisonjeada de verdade quando a entidade me chamou para o projeto. Já sou mãe de um rapaz de 23 anos e a minha afilhada, de 13, é um presente maravilhoso na minha vida. É algo sem palavras”.

Ela fez a inscrição em janeiro de 2021. Depois do cadastro aprovado, vieram as cartinhas e o avatar para irem se conhecendo aos poucos. Somente em maio ocorreu o primeiro encontro com a adolescente. Agora, Paula fica com a afilhada todo final de semana, férias e períodos de festa. 

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“É um programa que eu acredito. Quando você realmente cria vontade de fazer a diferença e se joga, entrega seu coração, é inacreditável. Você acha que está ajudando, mas você é ajudado”.

Segundo a psicóloga do programa, Biancha Meneguin Pereira Bordinhon,  o objetivo é exatamente esse, encontrar pessoas que estejam dispostas a cuidar, que haja uma troca afetiva e seja uma relação duradoura. “Porque a relação que eles têm é sempre coletiva. Existe a rotatividade de funcionários, de técnicos, de acolhidos. Então, a nossa proposta é de uma relação individual e duradoura. É para ter uma figura de referência, alguém para chamar de meu. É minha madrinha, como eles enchem a boca para falar”.

As pessoas que o apadrinhamento atrai são aquelas que querem crescer com a diversidade do ser humano, continua a psicóloga. “Elas entram achando que vão só dar, mas acabam recebendo mais, porque a troca amplia a visão de tudo: a visão social, do ser humano, das limitações, das expectativas. Você ressignifica sua história. É um processo muito forte, muito lindo e intenso”, conclui Biancha.

CONTATO

Interessados podem entrar em contato pelo e-mail [email protected], pelo telefone 32519333 ou pessoalmente, na Av. Dino Bueno, 16, Ponta da Praia, de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h.

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