Cotidiano

Papo de Domingo: Uso excessivo de celular por crianças e adolescentes gera críticas

Professor da Universidade Católica de Santos, doutor Helio Alves fala sobre problemas relacionados ao uso excessivo do aparelho

Publicado em 02/08/2015 às 10:37

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O aparelho celular é um objeto comum na vida do brasileiro. A estimativa é que existam no País, hoje, cerca de 282 milhões de celulares. Uma média de 138 celulares a cada 100 habitantes.

Mas o uso excessivo do aparelho nas escolas fez com que São Paulo, desde 2007, proibisse o uso de celulares em salas de aula. A lei, de autoria do deputado estadual Orlando Morando (PSDB), foi pioneira no País.

Estados como Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Ceará, Mato Grosso, Bahia, Rondônia, Goiás e Rio de Janeiro possuem leis semelhantes.

Mas, quais problemas o uso excessivo do aparelho celular pode trazer para crianças e adolescentes?

Neste Papo de Domingo, o professor doutor Helio Alves, do curso de Psicologia da UniSantos, fala sobre o tema e alerta que, sem o uso consciente do aparelho, o celular pode se tornar uma dependência, como uma droga. Confira:

Diário do Litoral: Qual a sua opinião sobre a proibição do uso de aparelhos celulares nas escolas no estado de São Paulo?

Helio Alves: Infelizmente, no nosso País precisamos de lei para tudo. É uma questão de educação. Se uma pessoa vai para escola é para estudar, não para atender telefone, ficar jogando e navegando. Isso é uma questão de educação. É papel dos pais. Deveria acontecer em casa, mas como não acontece, precisamos de lei e torcer para ela funcionar. O objetivo do celular é para se comunicar, mas tem hora. Como tem hora para tudo. Seja para estudar, para lazer, para trabalho. Isso deveria fazer parte da educação, da família passar isso. Como não está acontecendo, precisa de uma lei. Eu acho ótimo, mas não deveria acontecer.

DL: Segundo um levanta-mento da Nielsen Ibope, temos 68 milhões de usuários de internet pelo celular no Brasil. Cerca de 15% são de pessoas, entre 10 e 17 anos. Isso é aproximadamente 10,2 milhões de crianças e adolescentes. Podemos considerar um número alto?

Helio: Para nossa realidade acaba sendo grande mesmo. Mas, as pessoas também precisam ter essa crítica e passar esses valores. A primeira coisa que os pais fazem é dar celular e a criança troca de aparelho com uma facilidade incrível. Para os pais, como grande parte acaba trabalhando, é uma forma de ter o controle, de entrar em contato, saber onde a criança está.

DL: Existe uma idade ideal para a criança utilizar o aparelho celular?

Helio: Não existe uma idade ideal fixa. O que existe é uma apresentação do celular, do brinquedo, do game para a criança, mas com tempo reduzido. É importante. Não tem como viver, hoje, sem celular. Mas é necessário ter tempo para isso e também para outras coisas. Porque, senão, o celular acaba sendo usado muito mais como um ‘cala a boca’. Tem joguinho e outras coisas. A criança fica lá jogando, se entretendo e deixa ter contato com outras crianças, explorar o mundo, de ter atividade que exija a parte motora. Acaba desenvolvendo outro lado que é prematuro. É importante introduzir o celular na vida da criança, mas de forma moderada, gradativamente.

'É importante introduzir o celular na vida da criança, mas de forma moderada, gradativamente', afirma Alves (Foto: Matheus Tagé/DL)

DL: O uso do aparelho celular na infância, de maneira excessiva, pode trazer problemas de relacionamento futuramente?

Helio: Com certeza. Até porque o celular é um tipo de relacionamento, mas não é um contato direto. É um contato que você acaba estabelecendo com uma pessoa que, na maioria das vezes, é só voz ou mensagem. Você não sabe quem é. Isso contribui para o isolamento da criança. Isola-se da família, dos amigos e os pais acabam não tendo o controle. Hoje, o telefone não é só falar, é para muito mais. Então, acaba tendo contato com outras pessoas enquanto navega na internet e fica difícil limitar. A criança acaba se expondo, falando coisas da vida pessoal ou da família e isso não deveria acontecer. A criança ou o adolescente acaba não tendo essa crítica. Expõe os pais, postam fotos. Acaba trazendo prejuízos para a criança e o adolescente, por muitas vezes, irreversíveis.

DL: Sobre a questão do isolamento, o celular influencia a criança ou o adolescente a viver uma realidade virtual? Deixar de viver o mundo real para passar a ser um personagem nessa outra realidade?

Helio: A criança e o adolescente já possuem isso naturalmente. Vivem no mundo da lua, possuem esse lado criativo que, teoricamente, não precisaria disso (mundo virtual). Só que, como tem, vira um estímulo. Para tirar disso fica muito difícil. Vira um vício como outra droga qualquer, vira droga. Cria uma dependência.

DL: Tem casos até que, durante um almoço de família, os pais dão o celular na mão da criança para ela ficar entretida, e ela fica isolada enquanto os pais almoçam.

Helio: Exatamente. Mas não só crianças como adolescentes também. É importante o momento do almoço, da janta, do lanche, não só para comer, para comungar as coisas. É um momento de troca, de você olhar o outro, saber como o outro está e trocar figurinha. Com o celular isso não está mais acontecendo. Ficam trocando mensagens e não olham nem na cara de quem está à mesa. Olha para a comida só para tirar uma foto e colocar no Facebook. Acaba não tendo uma proximidade, um relacionamento. A criança não conhece os pais e os pais não conhecem o filho.

DL: Que outros problemas podem trazer o uso excessivo do celular para crianças e adolescentes?

Helio: É importante nessa fase do desenvolvimento o relacionamento próximo com os pais. Atualmente, as crianças e adolescentes acabam confidenciando, trocando informações, desejos com outros. Acaba tendo um hiato entre essa proximidade com os pais. Os pais não sabem para onde os filhos vão e com quem se relacionam. Isso contribui para o desconhecimento. Às vezes, acaba se relacionando mais só quando aparece um problema maior.

DL: O que os pais podem fazer para que a criança cresça com o uso consciente do aparelho celular?

Helio: É aquela coisa que parece jargão, mas não é. É uma realidade. Limite. Tudo é bom dentro de um limite e o celular também. O bisturi é excelente para o cirurgião. Ele salva vidas dentro de um limite. Se ele passar do limite, ele mata. O celular também. Bem usado é muito bom e contribui bastante. Agora, a partir do momento que não tem limite é como bolo de chocolate. Para quem gosta é muito bom, mas se você comer um monte vai ter problemas.

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