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Vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil, Montagem e Manutenção Industrial (Sintracomos), Luiz Carlos de Andrade, resolve “colocar a boca no trambone” e mostrar o lado oculto das indústrias com relação à categoria. Ele está revoltado com a situação de dois dos cinco trabalhadores queimados por ácido sulfúrico no Pólo Industrial de Cubatão, que continuam internados na Santa Casa de Santos em função de um acidente ocorrido no final do mês passado.
Confira a entrevista:
Diário do Litoral (DL) – Acidentes são muito comuns no Pólo de Cubatão?
Luiz Carlos de Andrade – Infelizmente, sim. Há uma imensa falta de prevenção de acidentes com o trabalhador da construção nas indústrias. As operações são feitas por técnicos industriais que não estão dando a atenção devida aos trabalhadores terceirizados. Terceirizar o serviço não é o mesmo que terceirizar a responsabilidade.
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DL – Os problemas são humanos e mecânicos?
Andrade – E acontecem nas paradas. Quando os trabalhos são retomados, ocorrem vazamentos e falhas operacionais. O ácido sulfúrico acaba com o trabalhador e causa sequelas para o resto da vida. Há um relaxamento total das indústrias. As empreiteiras não estão recebendo informações necessárias. A ideia é que trabalhador de empreiteira é uma espécie de material descartável. Volta e meia cai uma estrutura, há um vazamento de ácido ou uma explosão. E ninguém toma providências, num total descaso com a vida dos operários.
DL – Ninguém toma providências?
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Andrade – Depois da tragédia, pouca coisa pode ser feita.
DL – E o Ministério do Trabalho?
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Andrade - Várias indústrias estão sucateadas e suas diretorias empurram o problema com a barriga, enquanto o Ministério do Trabalho (MT) nada faz para coibir a violência contra a integridade física do trabalhador. O MT está sucateado, sem o número necessário de auditores para fiscalizar as condições de trabalho reclamadas pelo sindicato. Estamos descobertos com relação à segurança e o registro em carteira.
DL – As empresas não disponibilizam técnicos para acompanhar as empreiteiras?
Andrade - Por desleixo, não disponibilizam técnicos para acompanhar os serviços dos operários terceirizados. As empresas e as empreiteiras não participam das constantes reuniões do Comitê Permanente Regional (CPR) sobre condições e meio ambiente de trabalho na indústria da construção. São omissas.
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DL – Qual seria a solução?
Andrade – Mais 50 auditores fiscais. As empresas teriam que preparar seus técnicos para preservar os trabalhadores da construção e as comissões internas de prevenção contra acidentes (CIPAs) teriam que passar a funcionar.
DL – O que há de mais absurdo, por exemplo?
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Andrade – Para ter uma ideia, há empresas que desligam o ar-condicionado dos refeitórios. Isso acaba com o trabalhador. A refeição é sagrada e deveria auxiliar no desempenho. Parece que quem comanda não é um ser humano.
DL – E a questão dos alojamentos?
Andrade – Estamos atuando na legislação no sentido de mudar a nomenclatura para habitação coletiva. Isso vai fazer com que os órgãos fiscalizadores não precisem, por exemplo, de mandadojudicial para entrar em uma residência alugada como alojamento que, ao invés de abrigar cinco trabalhadores, abriga 50 amontoados e sem conforto, ventilação e até água potável.
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DL – Os órgãos sabem dos problemas?
Andrade - O Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest) e a Seção de Vigilância e Referência em Saúde do Trabalhador (Sevrest) de Cubatão estão avisados sobre os problemas.
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