Cotidiano

Papo de Domingo: “Estamos em 2015 com equipamentos da década de 80”

Segundo o ambientalista cubatense, Aluísio Gomes, a cidade não luta mais contra a poluição como há 30 anos

Publicado em 13/09/2015 às 11:18

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A frase acima é do ambientalista Aluísio Gomes de Souza, conhecido por Lua. Militante na área ambiental desde 1975, Aluísio, aos 21 anos, foi membro da 1ª Conferência Nacional do Meio Ambiente, realizada pela Associação Brasileira de Prevenção da Poluição do Ar (ABPPOLAR), ocorrida em Cubatão. De lá para cá, esteve sempre à frente na área, como membro Conselho Municipal do Meio Ambiente (COMDEMA) de Cubatão, na Conferência Mundial do Meio Ambiente - ECO/92 (Rio de Janeiro) e ainda como gerente de Controle Ambiental da Prefeitura. Atualmente ocupa a Secretaria Executiva do Conselho Municipal de Saneamento Ambiental, como representante da Câmara Cubatão, preside o Núcleo Ecológico de Cubatão (NEC) e é membro do Painel Consultivo e Comunitário do CIESP/Cubatão, onde tem se destacado pelas suas posições firmes nas causas ambientais na cidade. Nesse Papo de Domingo, Aluísio aponta problemas ambientais que ainda atingem a Cidade, respaldado em seus 40 anos de luta.

Diário do Litoral – Como está a questão da poluição em Cubatão?

Aluísio – Cubatão teve um plano de recuperação ambiental muito bom na época do governador Franco Montoro. Hoje, passados 30 anos, o projeto está totalmente abandonado. Cubatão não é mais uma cidade de luta contra a poluição. A maioria dos dispositivos antipoluentes das indústrias está sucateada por falta de condições financeiras para mantê-los ativos.

Diário – Na sua opinião o que aconteceu para chegar a este ponto?

Aluísio – Os filtros das fábricas são importados e caros. Também não existe praticamente manutenção. As fábricas que produzem fertilizantes, por exemplo, despejam poluição principalmente à noite, quando a visibilidade impede as pessoas de perceber a quantidade de fumaça.

Diário – Mas não existe fiscalização para isso?

Aluísio – A questão é que o material particulado que sai das chaminés das fábricas não é controlado e nem fiscalizado pela Cetesb. Não existem técnicos suficientes e o material se acumula nas estradas – Rodovia Dom Domênico Rangoni. O trafego levanta o material, que entra em suspensão e atinge a cidade e as pessoas. As indústrias jogam a responsabilidade da poluição nas costas dos caminhões. Caminhão não produz material particulado.

Diário – Você até agora estava se referindo a poluição do ar. E quanto a água?

Aluísio – Quando chove muito aumenta a correnteza do Rio Cubatão e as empresas abrem os compartimentos que seguram os afluentes líquidos e os resíduos atingem o estuário de Santos. Muitas empresas se utilizam das águas do Rio Cubatão. A quantidade de oxigênio que fica na superfície é boa, mas no fundo é péssima. A matéria orgânica poluidora fica no fundo. Já fizeram pesquisa e ficou comprovada a existência de mercúrio, chumbo e outras substâncias. Cubatão é símbolo da ecologia somente até a página dois.

Diário – E a Cetesb?

Aluísio – No passado, a Cetesb tinha mais ou menos 30 funcionários com ampla capacidade técnica. Eles recebiam denúncias, se dirigiam a campo e autuavam. Hoje, ela está limitada a cinco ou seis funcionários e a fiscalização caiu muito. A maioria dos técnicos está atuando na iniciativa privada, ensinando como fazer o mal feito bem feito.

Aluísio Gomes de Souza, mais conhecido por Lua, atua na área ambiental desde 1975 (Foto: Matheus Tagé/DL)

Diário – Mas a Cetesb, recentemente, multou a Rhodia.

Aluísio – Sim, multou um cemitério. Da fábrica desativada, sobrou apenas o veneno encravado na terra. É preciso removê-la e destruí-la. Não adianta aplicar multa. Tem gente trabalhando na desativação e o Ministério do Trabalho não faz nada. A Cetesb tinha que mudar o foco e se preocupar com as indústrias que estão agindo na calada da noite. As empresas pararam seus processos de despoluição.

Diário – E a Prefeitura?

Aluísio – Em um ano passaram pela Secretaria de Meio Ambiente cinco secretários. Não existe carro, fiscais, nada. É como um castelo sem mobília.

Diário – Você participa de reuniões sobre meio ambiente na Cidade. Você pode avaliar o que foi feito até agora?

Aluísio – Não é feito nada. Existe muito produto químico enterrado em pátio de fábricas, algumas localizadas no território de Santos. O cais delas está em Santos, que também já está recebendo material particulado. A Ponta da Praia é um exemplo.

Diário – Qual a função do Conselho Municipal de Saneamento Ambiental, do qual você é membro?

Aluísio – Ele foi criado sob a exigência do Ministério Público e entre suas discussões está o novo contrato com a Sabesp, a disposição dos resíduos industriais, lixo orgânico e material reciclado. Porém, o conselho está há seis meses na gaveta, parado, inerte. Eu não sei o que fazer.

Diário – Existe um estudo sobre os itens citados?

Aluísio – Sim, foi realizado por uma empresa particular, contratada pelo governo estadual, mas ninguém sabe onde ele está. Só as indústrias sabem e ninguém cobra nada, nem para qual destino vai o lixo industrial, que vai de resíduos a material como parafusos, graxa, enfim. Esse estudo está engavetado.

Diário – No início da entrevista você citou um material chamado fosfogesso. O que é isso?

Aluísio – É o resultado de ácido fosfórico com gesso, que vem sendo depositado no pátio das indústrias, que possuem baias de contenção, que não são eficazes em relação ao vento. As indústrias não sabem o que fazer com esse material. Se você passar pela Cônego Domênico Rangoni e olhar à direita, vai ver montanhas amareladas, já cobertas por vegetação. No entanto, o material é cancerígeno. É preciso refazer todo o plano ambiental da Cidade. Estamos em 2015 com equipamentos da década de 80.

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