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Em 16 de setembro próximo, às 20 horas, o elenco de três peças do santista Plínio Marcos – Balada de Um Palhaço; O Abajur Lilás; Navalha na Carne e um monólogo sobre a vida do dramaturgo maldito – estará reunido no Teatro do Sesi, em São Paulo, para um grande bate-papo sobre o escritor. A iniciativa precede a apresentação do Projeto Plínio Marcos: 80 anos, que começa no dia seguinte (17) e segue até 11 de outubro, período que estarão sendo apresentados os espetáculos na Capital Paulista, todos gratuitos (ver programação nesta reportagem). Neste domingo, o Diário do Litoral, conversou com o também diretor santista Tanah Correa, que dirige O Abajur Lilás, que tem no elenco outro artista da terra de Brás Cubas, Nuno Leal Maia. Plínio completaria 80 anos em 29 de setembro. Confira:
Diário – Quando surgiu o projeto?
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Tanah Corrêa – A ideia surgiu ano passado, quando se completou 15 anos de falecimento do Plínio.
Diário - Por que não começar o projeto em Santos, terra do Plínio?
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Tanah – Eu procurei o então secretário Raul Christiano, mostrei o projeto e fomos para São Paulo (Capital) para apresenta-lo ao secretário da Cultura do Estado, Marcelo Mattos Araújo. Os dois adoraram o projeto que era todo voltado para a Cidade, com exposições e espetáculos no Sesc local, envolvendo grupos de Santos. Tanto é que os ensaios de O Abajur Lilás, que estou dirigindo, estão ocorrendo no Centro Português, onde o Plínio apresentou sua primeira peça, Barrela, no Festival de Teatro de Estudantes.
Diário – Aproveitando artistas e talentos locais?
Tanah – Praticamente sim, com exceção do José Carlos Serroni (arquiteto brasileiro com atuação destacada na área de cenografia e arquitetura teatral) que já trabalhou comigo em diversos espetáculos, conceituado mundialmente, e iria me ajudar na curadoria e no audiovisual. Ele inclusive foi parceiro meu quando fizemos a exposição ‘Plínio Marcos, um grito de liberdade’, no Memorial da América Latina.
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Diário – Mas então, por que não vingou em Santos?
Tanah – O projeto previa uma curadoria conjunta Município, Estado e Sesc. O Marcelo ficou conseguir autorização do governador (Geraldo Alckmin) e o Raul faria o mesmo com relação ao Município. Eu entrei diversas vezes em contato e sempre me disseram que tudo estava sendo encaminhado. O Raul saiu e entrou a Professor Fabião (Fábio Nunes), que também se mostrou interessado, mas o tempo foi passando e os contados se perdendo até que resolvi viabilizar o projeto de outra forma.
Diário – Como?
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Tanah - Recebi a ligação de uma produtora do Rio de Janeiro, que pediu para eu dirigir O Abajur Lilás dentro de outro projeto. A partir daí, comecei a projetar essa encenação, convidando o Nuno Leal Maia, a Orleyd Faya, Rosane Paulo, Monica Camillo e o Felipe Dias. Estamos ensaiando no Centro Português.
Diário – Você acredita que houve falta de sensibilidade?
Tanah – É difícil conseguir da Administração Pública um entendimento da importância do Plínio Marcos. Um nome internacional com raiz em nossa Cidade. Ele deveria ser reconhecido como Patrícia Galvão (Pagú), Paschoal Carlos Magno, Nelson Rodrigues que, apesar de ter nascido em Recife, é cultuado no Rio de Janeiro. Santos não se manifesta. É preciso pedir favor para que se lembrem de Plínio Marcos. A administração pública não sabe valorizar os vultos internacionais. José Bonifácio é homenageado no Mundo inteiro, nos países socialistas e nos capitalistas. Aqui, fica restrito a uma estátua, uma praça, enfim. Isso é apenas um exemplo.
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Diário – Plínio continua presente no fazer teatral de Santos?
Tanah – Plínio continua vivo. As situações abordadas em seus textos não mudam. A temática dele está presente como nunca. Quem vem ao centro da Cidade hoje percebe a prostituição, a miséria, as dificuldades de sobrevivência, temas fortes abordados de forma brilhante por Plínio. Barrela; Dois Perdidos Numa Noite Suja; Navalha na Carne; O Abajur Lilás, enfim. As pessoas lembram do Plínio, mas não se aprofundam em suas obras. Não valorizam sua dramaturgia como deveria. Ele tem livros editados no Mundo. O Governo Santista não sabe valorizar Plínio Marcos.
Diário – O Plínio chamava a atenção para a vida dos esquecidos.
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Tanah – Nelson Rodrigues colocou a classe média em cena. Plínio Marcos mostrava o pobre, o povão. A puta, o cafetão, o trabalhador demitido. No Rio de Janeiro, Nelson Rodrigues é merecidamente bastante valorizado. Ele aparece em todo lugar, em espetáculos, exposições, mostras, em tudo. A única exposição feita do Plínio foi a que eu fiz, logo após seu falecimento, no Memorial da América, entre dezembro de 2000 e janeiro de 2001. Em compensação, grupos de teatro em outros estados montam muitos textos dele. A obra dele é montada, mas pouco valorizada.
Diário - Você conviveu com o Plínio?
Tanah – Ele foi coerente por toda sua vida. Ele era o que discursava. Ele nunca aceitou patrocínio de governos. Ele acreditava que no momento que se pega um patrocínio, não pode criticar o governo. Plínio Marcos era de uma coerência profunda. Foi o artista que mais enfrentou os governos militares e a Ditadura. Ele não precisava jogar bombas. Vendia livros de porta em porta, embocava peças proibidas, foi preso. Era perseverante. Sua ferramenta de luta era sua obra intelectual e artística. Foi fundamental para retomarmos a democracia.
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Diário - Você tem outro projeto sobre o Plínio, não é?
Tanah – Sim. Transformar parte do bulevar que fica ao lado do Instituto de Previdência, próximo ao canal seis, entre a Avenida Epitácio Pessoa e a Rua Guaiaó, em um espaço destinado à lembrança de artistas renomados da Cidade. Seria Alameda de Arte e Cultura Plínio Marcos. Um complemento ao espaço que homenageia a Rosinha Viegas. Esse espaço passaria a ter vida artística, proporcionando mais uma opção na Cidade.
Diário – Como você enxerga o movimento artístico de Santos?
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Tanah – Eu me espanto um pouco. Em 1982, não existia apoio para nada, não existia patrocínio governamental. Eu estava no Rio de Janeiro e, em uma de minhas vindas para Santos, o Carlos Pinto (ex-secretário da Cultura de Santos), me disse o que poderia ser feito para aproveitar a Cadeia Velha. Foi quando criamos a primeira oficina de artes cênicas do Estado. Foram mais de 20 temas encabeçados por artistas de renome como Walter Rodrigues, Angelo Bonicelli, Nélio Mendes, Neyde Veneziano e outros, além de mais de 300 jovens. Desse movimento, surgiram artistas importantíssimos para o cenário brasileiro. O movimento chamou a atenção do Fantástico, da Globo. Fizemos tudo isso praticamente sem recursos. Ou seja, a realização independe de patrocínio.
Diário – E sobre o destino da Cadeia Velha?
Tanah – No meu ponto de vista, foi uma discussão boba. Não interessa se vai se tornar museu, oficina, delegacia de cultura como era nos anos 80, enfim. Interessa o que será feito dentro dela.
Diário – E a lei de Fomento ao Teatro?
Tanah – Não sou contra, mas tenho uma posição diferente sobre isso. Quando se proporciona fomento para a produção, o Estado repassa o dinheiro e depois esquece. Preocupa-se apenas com a prestação de contas. No meu ponto de vista, o fomento deve ser relacionado à exibição. O Governo fica obrigado comprar ingressos e distribuí-los à sociedade, às entidades, levar estudantes aos espetáculos. Ou seja, garantir público é que o artista precisa. Para o artista, o importante não é receber dinheiro para produzir, mas vender seu trabalho e torná-lo conhecido. Não adianta ter uma superprodução e o teatro vazio. O Estado garantindo a entrada e, consequentemente o público, o artista está ganhando por seu trabalho. Posso garantir que 95% dos espetáculos fora do eixo Rio-São Paulo não tem patrocínio. No entanto, o País é rico culturalmente.
Programação:
17 a 20 de setembro – Balada de um Palhaço;
24 a 27 de setembro – O Abajur Lilás;
01 a 04 de outubro – Navalha na Carne;
08 a 11 de outubro – Monólogo sobre Plínio Marcos.
Onde
Sesi – Avenida Paulista, 1.313 – São Paulo – 20 horas
Ingressos gratuitos (retirados 30 minutos antes do espetáculo)
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